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Menon

O dia em que Rogério Ceni virou lenda

15/07/2020 04h00

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Há 15 anos (ontem) o São Paulo conquistou a Libertadores pela terceira vez. Cobri pelo Jornal da Tarde. E "cometi" o texto que compartilho com vocês.

Ele é mais que um goleiro, é um artilheiro. É mais que um são-paulino, é um amante do seu clube. Amante e capitão, o homem que conduziu, com audácia e eficiência, seus companheiros até o importante título de ontem à noite, que ele considera mais emocionante que uma Copa do Mundo

LUÍS AUGUSTO SÍMON

Rogério Ceni fez 46 gols na carreira. Quando se passarem alguns anos de sua aposentadoria, esses gols serão duzentos, trezentos… Histórias serão contadas, com algum ou nenhum fundo de verossimilhança. O motivo é simples: Ceni, que entrou no jogo de ontem como ídolo e saiu como herói, vai se transformar em lenda.

E, para isso, nem precisará chegar um dia à meta que se auto-impôs: a presidência do clube que defende há 13 anos como jogador. Basta ser o que tem sido desde o primeiro dia no São Paulo: alguém que sempre tem metas a vencer. E que trabalha muito para conseguir a superação.

Um operário-padrão com muito talento. Quantos jogadores poderiam ser cobradores de falta do São Paulo se treinassem como ele? As apostas podem variar. A única certeza é que ninguém treina como ele. É um obsessivo. Para muitos, arrogante, mascarado e nariz empinado. Para a grande maioria - quase unanimidade - de são-paulinos, um ídolo.

Rogério é um jogador em extinção. Um dos últimos ídolos de um único time. Rogério é do São Paulo, como Marcos é do Palmeiras, como Zico foi do Flamengo e como Robinho está deixando de ser do Santos. Toda sua carreira foi construída no Morumbi. Está prestes a superar Waldir Peres como o jogador que, através da História, mais vezes vestiu a camisa do clube. Não é pouco. É muito em uma época em que os jogadores de futebol trocam de camisa como se trocassem de... camisa.

A torcida o perdoou do estranho caso com o Arsenal, no ano de 2001. Disse que tinha uma oferta do clube inglês e nunca a apresentou. Discutiu com o ex-presidente Paulo Amaral e chegou a ser suspenso por 29 dias.

Treinou diariamente, sem descuidar-se. Voltou ao trabalho e nunca escondeu que seria difícil trabalhar com o antigo grupo, caso voltassem ao comando do clube.

A seriedade de Rogério Ceni impressionou Luis Felipe Scolari, técnico campeão do mundo em 2002. Ele estava convocado para um amistoso da seleção, no Nordeste. Sofreu uma contusão, mas fez questão de viajar e se apresentar. Foi examinado e dispensado, mas Scolari ficou com a certeza de que ali estava alguém que gostaria de jogar o Mundial.

Foi o terceiro reserva. "Ele não participou de nenhuma partida, mas seu comportamento foi muito importante naquela campanha. Ajudou muito", diz Scolari.

Será difícil alguém convencer Rogério Ceni a não enfrentar o Santos, domingo, na Vila Belmiro. Ele quer estar sempre. "Para mim, o jogo mais importante é sempre o próximo. O passado já aconteceu e o futuro é uma incógnita. É no presente que temos de trabalhar", diz.

Vai ser assim até 2008, quando termina seu contrato com o São Paulo. Terá 35 anos e fará uma dura avaliação sobre seu momento. Ele decidirá se deve continuar jogando futebol. A diretoria aceitará seu veredicto. Sabe que ele será honesto e muito menos emocional do que o dos torcedores. Para eles, Rogério Ceni, o goleiro-artilheiro, autor de 200 ou 300 gols, tem de ser também o goleiro que fez mais de mil, duas mil partidas pelo seu único clube.

Só há uma verdade na última frase, mas o que é realidade diante da ficção? Rogério Ceni, desde ontem, é lenda. E lendas não tem limites, elas apenas se baseiam na fria realidade.