Juca Kfouri

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Reportagem

A história da bandana de Sócrates na Copa de 86 contada pelo próprio Doutor

O Museu do Futebol Mundial da FIFA revela os bastidores que levaram o Doutor Sócrates a usar bandanas com mensagens políticas durante a Copa do Mundo de 1986, como aquela com os dizeres México sigue en pie, em solidariedade ao povo do país sede da Copa, vítima de terremoto devastador um ano antes.

Ao longo do torneio, Sócrates quis transmitir outras mensagens em suas bandanas, como "Precisamos de justiça", "Sem terror " e "Sem violência".

O surpreendente no caso da bandana que Sócrates usou naquele primeiro jogo contra a Espanha foi a improvisação criada com uma das meias da seleção brasileira.

É difícil de detectar à primeira vista, mas torna-se mais claro quando a bandana é analisada com mais detalhe - como podem atestar os visitantes da exposição do Museu do Futebol Mundial da Fifa.

A peça foi cedida à Fifa pela última mulher de Sócrates.

Eis a história dessa primeira bandana, como ela surgiu e por que pode ter sido ofuscada, contada pelo próprio Doutor Sócrates Brasileiro:

"Quando chegamos ao México, o desastre causado por um terrível terremoto que atingiu o país antes do início da Copa do Mundo foi o gatilho que me fez decidir aproveitar a oportunidade num momento em que o mundo inteiro assistia ao evento e destacar alguns pontos críticos da realidade social.

Mais ou menos como algo que costuma ser feito em determinados eventos esportivos quando é proposta uma trégua durante conflitos armados concomitantes com o período dos jogos.

É claro que ninguém jamais imaginou que isso pudesse realmente acontecer - especialmente em tão grande escala. Mas simplesmente colocar sobre a mesa algumas das controvérsias e questões contemporâneas era uma boa razão para esperar que o seu número diminuísse.

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Eu estava determinado a fazer alguma coisa, só faltava encontrar uma forma de transmitir as mensagens.

Encontrei a resposta enquanto assistia a uma garotinha inocente usando uma tiara graciosa em um programa de TV. Imediatamente comecei a procurar alguém que pudesse me fazer uma bandana para cada jogo e, para piorar, em tempo recorde, pois faltava menos de uma semana para o início da Copa do Mundo.

Felizmente deu tudo certo e lá estava eu com as palavras contra os absurdos que existem na humanidade na testa.

A intenção era ser uma surpresa, mas uma distração trivial estragou o barulho esperado.

Enquanto nos alinhamos antes do jogo de abertura, os alto-falantes do estádio tocaram o hino dedicado à bandeira brasileira - em vez do hino nacional oficial do país. Quaisquer reações contra a pobreza, as guerras, o imperialismo, a injustiça social, o analfabetismo endêmico e muitos outros temas foram superadas quando balancei a cabeça ao ouvir o primeiro acorde e percebi o erro durante a execução de um dos nossos principais símbolos.

Mas valeu a pena a tentativa.

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Acredito que é muito melhor tentar do que se conformar."

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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