Juca Kfouri

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Opinião

As escolhas de Tite e o pau que nasce torto

Duvidar da qualidade de Tite como treinador faz parte do ofício do crítico por mais que a carreira dele demonstre mais virtudes que defeitos.

A dificuldade em explicar os fracassos está em identificar os momentos em que ele fez escolhas erradas.

O momento de inflexão talvez esteja quando disse sim à CBF e confraternizou desnecessariamente com o presidente da entidade — objeto de manifesto que lhe exigia renunciar ao posto, com a assinatura do técnico.

Entender a vaidade e o sonho de dirigir a Seleção Brasileira numa Copa do Mundo é fácil, ainda mais diante da possibilidade de vencê-la.

O preço pago é que foi excessivo.

A começar por se curvar aos caprichos dos Neymar na Rússia.

E pau que nasce torto não tem jeito, morre torto.

Duas Copas perdidas depois, Tite vive hora delicada de uma trajetória que já valeu Libertadores e o último título mundial do futebol brasileiro.

Tite errou feio com certo ex-lateral-direito ao convocá-lo para a Seleção, ao exaltá-lo como alguém transcendente, e ao temer criticá-lo depois da condenação por estupro.

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Como errou em relação às agruras do Campeonato Carioca e ao defender técnico que xingou o árbitro.

Tem errado também ao tornar difícil para o torcedor a compreensão dos detalhes da Ciência do Esporte.

Quando poupa Pedro no enfrentamento contra o Palmeiras, dá a entender que o escalará na altitude de La Paz.

Quando o goleador nem sequer viaja para Bolívia a ausência provoca enorme, e óbvia, perplexidade.

Tite precisa parar de usar o discurso para esconder as intenções e de terceirizar explicações incompreensíveis para a massa torcedora.

Tivesse dito, antes do clássico contra o Palmeiras, que Pedro (aqui usado apenas como o melhor exemplo, porque há outros casos parecidos) estava com problemas físicos e indisponível tanto para enfrentar o rival nacional como para pegar o Bolivar e estaria tudo claro.

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Tite não é covarde.

Segue sendo cauteloso como sempre foi, característica que quem o contrata tem a obrigação de saber.

A primeira derrota na temporada, e na altitude desumana de La Paz, está longe de ser motivo para crises.

Também a Nação e alguns críticos precisam descer do pedestal por acharem o Flamengo invencível, o que ninguém é.

Mas Tite precisa refletir sobre a nova etapa de sua vida.

Daqui a pouco haverá quem lembre fazer tempo que ele não comemora título importante, pois a Copa América é subestimada no Brasil e o Carioquinha é o Carioquinha.

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Se não mudar o comportamento, arregaçar as mangas e falar mais claramente, daqui a duas derrotas, que virão, Jorge Jesus voltará a ter o nome cantado no Maracanã.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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