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Gringos? Galeno e Andreas rejeitaram mesmo técnico por sonho na seleção

Quando a seleção brasileira entrar em campo em Wembley, no sábado (23), para enfrentar a Inglaterra, dois jogadores terão uma sensação diferente: a de ter escolhido defender a camisa amarela.

O meio-campista Andreas Pereira e o ponta Galeno tiveram em suas mãos a chance de jogar por Bélgica e Portugal, respectivamente. E embora a história de ambos seja bem diferente, ela teve o mesmo desfecho: a primeira convocação de Dorival Júnior como treinador da seleção.

Andreas Pereira é um caso curioso: ele nasceu na Bélgica e chegou a ser convocado por Tite para dois amistosos, em 2018 — jogou 20 minutos contra El Salvador, tornando-se o primeiro jogador nascido fora do Brasil a vestir a camisa da seleção desde 1942.

Como não voltou a ser chamado pela seleção (a Fifa estipula um limite de 3 jogos), ele passou a ser alvo da Bélgica. Então treinador do selecionado europeu, o espanhol Roberto Martínez retomou um antigo plano: convocar Andreas para jogar ao lado de Kevin De Bruyne, Thibaut Courtois e Romelu Lukaku.

"Minha família me mata"

Em 2023, Andreas falou sobre o tema em entrevista ao UOL. "Isso nem passa na minha cabeça, nem está nos meus objetivos. Houve um momento, quando eu estava no Manchester United, que ele me ligou", contou Andreas.

"Eu falei pra ele: "Olha, eu agradeço muito, mas apesar de ter nascido na Bélgica, minha cultura é brasileira. Meus pais são brasileiros, minha família inteira está no Brasil, passo férias no Brasil. Se eu escolher a Bélgica, minha família me mata", brincou.

Diante dos argumentos do brasileiro, Martínez entendeu e deu o caso por encerrado. Mas, meses depois da conversa, já sob o comando de Domenico Tedesco, uma nova tentativa foi feita. Aos 28 anos, Andreas negou mais uma vez o convite, na esperança de um chamado para o Brasil.

Galeno celebra gol em Porto x Arsenal, jogo da Champions League
Galeno celebra gol em Porto x Arsenal, jogo da Champions League Imagem: REUTERS/Pedro Nunes

"Ordem de chegada" ajudou Galeno

Um dos destaques do Porto na temporada, com 5 gols na Champions League, Galeno viveu uma situação diferente. Nascido em Barra do Corda, no Maranhão, ele começou a carreira no interior de Goiás e foi para Portugal aos 18 anos, jogar no Porto B.

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Depois de se destacar no Braga, entrou no radar da seleção portuguesa, que esperava o processo de naturalização para poder convocá-lo. O nome do brasileiro ganhou força depois que ele voltou ao Porto, em 2022.

No início de 2023, a seleção de Portugal anunciou o espanhol Roberto Martínez como novo treinador. E o espanhol, que já havia levado um "não" de Andreas Pereira na Bélgica, passou a observar Galeno — o ponta chegou a estar em pré-listas de convocados, mas nunca foi chamado.

Nos últimos meses, sobretudo pelo desempenho na Champions League, Galeno voltou a ganhar força. Pessoas próximas ao jogador afirmam que ele via com bons olhos a chance de defender Portugal. Mas o corte de Gabriel Martinelli e o chamado de Dorival Júnior mudaram os planos.

Convocado para a seleção brasileira pela primeira vez, Galeno comemorou nas redes sociais. O gesto foi interpretado em Portugal como uma escolha pela equipe pentacampeã do mundo.

Na sexta-feira (15), quatro dias depois de ser chamado por Dorival, o brasileiro ficou fora da lista de 32 jogadores chamados por Roberto Martínez. O técnico espanhol explicou que o ponta estava nos planos, mas uma conversa por telefone foi fundamental para não chamá-lo.

"É muito importante que, para jogar pela seleção, o jogador tenha uma vontade que saia do coração. Representar o povo português é especial. Nós acompanhamos o Galeno durante o último ano, e esse é o nosso trabalho. Mas precisamos respeitar. Falei com ele, ele disse que gostaria de jogar pelo Brasil. Temos que respeitar. Desejo o melhor para ele", disse Martínez, na entrevista coletiva após a convocação.

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Jorginho, Emerson Palmieri e Rafael Toloi: três brasileiros que ganharam a Eurocopa com a Itália
Jorginho, Emerson Palmieri e Rafael Toloi: três brasileiros que ganharam a Eurocopa com a Itália Imagem: Claudio Villa/Getty Images

Caminho inverso

A opção de Andreas e Galeno vai na contramão de uma tendência nos últimos anos: a de jogadores decidirem pela seleção brasileira quando há uma bola dividida com outro país.

O caso mais famoso na última década foi Diego Costa, que chegou a ser convocado por Luiz Felipe Scolari em 2013, mas optou pela seleção espanhola para jogar a Copa de 2014. Na época, pesou para o atacante a promessa do treinador espanhol, Vicente del Bosque, de que ele seria convocado para o Mundial.

Em anos anteriores, a Espanha já havia sido a opção de jogadores como Thiago Alcântara, Marcos Senna e Donato.

A Itália é outro país que tem seduzido jogadores nascidos no Brasil e que não têm oportunidades com a camisa amarela. Na equipe campeã da Eurocopa, em 2021, eram três: Jorginho, Rafael Tolói e Emerson Palmieri.

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Maior destino de jogadores brasileiros no mundo, Portugal pode ter perdido a queda de braço com Galeno, mas fez história com jogadores nascidos no Brasil, como Pepe e Deco. Nos últimos anos, Otávio e Matheus Nunes foram convocados para a seleção lusitana. O volante do Manchester City chegou a negar uma convocação de Tite em 2021, porque preferia defender Portugal.

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