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Um brasileiro no melhor time da Europa: zagueiro revela os segredos do PSV

Nem Real Madrid, nem Manchester City, nem o invicto Bayer Leverkusen. O dono da melhor campanha da temporada nas ligas europeias é o PSV Eindhoven, líder disparado do Campeonato Holandês.

Em 22 jogos, o time comandado por Peter Bosz venceu 20 vezes e empatou duas. A campanha, que já é histórica, teve 100% de aproveitamento no primeiro turno: 17 vitórias, contra todos os adversários.

Nesta terça-feira, o PSV tem o grande teste da temporada: o primeiro jogo das oitavas de final da Champions League, contra o Borussia Dortmund. Será a oportunidade de colocar à prova um time que, em seu país, tem sido imbatível. Mas afinal, qual o segredo da equipe holandesa, que desde a temporada 2015-16 não chegava ao mata-mata do maior campeonato europeu?

"Nunca é apenas um fator, são várias coisas", explica ao UOL o zagueiro André Ramalho, um dos pilares da equipe. "Primeiro, há um estilo de jogo muito claro: o treinador chegou e mostrou um jeito de jogar que todo mundo gostou. Afinal, quem não gosta de jogar pra frente, né? Existe uma filosofia muito clara, ele explicou para cada jogador o que queria que a gente fizesse", continua o defensor.

"Outro fator no sucesso do time é que a gente coloca isso em prática: a gente acreditou na ideia, na filosofia, trabalhou em cima disso", acrescenta Ramalho.

Zagueiro André Ramalho é um dos líderes do elenco do PSV
Zagueiro André Ramalho é um dos líderes do elenco do PSV Imagem: Divulgação/PSV

A filosofia ofensiva de Peter Bosz não é apenas uma teoria. Na prática, o time é uma máquina de fazer gols: em 22 partidas na Liga Holandesa, o PSV marcou 70 vezes, uma média de 3,18 gols por partida. A defesa também tem funcionado bem: sofreu apenas 10 gols na liga nacional.

"Aí entra o terceiro fator: é um elenco muito qualificado, temos gente boa em todas as posições. Quem joga sabe que precisa manter o alto nível, porque quem está no banco sempre que entra faz muito bem", enumera o zagueiro, que participou das 22 partidas do Holandês e das seis da fase de grupos da Champions — o PSV passou em segundo no Grupo B, atrás do Arsenal, superando Lens e Sevilla.

Quem não acompanha de perto o futebol internacional e olha o elenco do PSV não se impressiona à primeira vista. Mas o time tem jogadores importantes, com passagens recentes em equipes de ligas mais badaladas da Europa: o atacante Luuk de Jong e o lateral Sergiño Dest jogaram no Barcelona; o ponta mexicano Irving Lozano foi campeão italiano com o Napoli.

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O goleiro é Walter Benítez, convocado recentemente por Lionel Scaloni para a seleção argentina; os dois volantes, Jerdy Schouten e Joey Veerman, têm recebido chances na Holanda; e os jovens Ricardo Pepi e Malik Tilman, ambos de 21 anos, são apontados como futuros titulares da seleção dos Estados Unidos.

Para Ramalho, outro fator que explica a boa campanha do clube é a onda de otimismo que tomou conta do elenco, dos torcedores e da imprensa local. "Você ganha um jogo, ganha dois, ganha três, ganha quatro e vai se criando cada vez mais confiança para manter o nível, jogar bem, e a gente sabe como o psicológico e a confiança são importantes para jogar num nível mais alto".

André Ramalho está na terceira temporada no PSV
André Ramalho está na terceira temporada no PSV Imagem: Divulgação/PSV

Recordes e comparações

Em sua melhor temporada das últimas décadas, o PSV já conseguiu entrar para a história: a campanha 100% no primeiro turno do Holandês repete o feito do elenco de 1987-88, temporada em que, além do título nacional, o clube conquistou a Copa dos Campeões da Europa, antecessora da Champions.

"A gente fica orgulhoso e feliz do que vem alcançando na temporada. Não é um feito comum de se ver, a gente terminou o primeiro turno com 100%, ganhou de todos os times nos primeiros 17 jogos, e isso mostra a nossa força, como a gente está indo bem como time", afirma Ramalho.

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O time de 1987-88 tinha como estrelas o zagueiro Ronald Koeman e o meio-campista Eric Gerets, ambos lendas do clube. Romário, que se tornaria o ídolo dos anos seguintes, chegaria meses depois da final da Copa dos Campeões, em que os holandeses bateram o Benfica nos pênaltis.

"Por aqui acabam comparando, falando dos anos gloriosos do clube e tudo mais. Mas é muito difícil comparar épocas, comparar times. Aquele time é lendário no PSV, você vai ao museu do clube e está lá, sempre que falam de recordes eles estão envolvidos", diz o zagueiro brasileiro, que prefere pensar em um jogo de cada vez.

"Precisamos manter os pés no chão. Mas é claro que a gente sonha em ir bem longe na Champions. É disso que é feito o futebol: sonhar, acreditar. A gente vem provando que tem qualidade para jogar bem não só na nossa liga, mas em competições como a Champions. Então, por que não sonhar em ir mais longe? Por que não umas quartas, uma semi?"

Consolidado na Europa, Ramalho nunca jogou como profissional no Brasil
Consolidado na Europa, Ramalho nunca jogou como profissional no Brasil Imagem: Divulgação/PSV

Melhor fase e futuro

Aos 32 anos, Ramalho vive um momento especial na carreira: em sua terceira temporada no PSV, está a caminho de conquistar o primeiro título holandês. Antes, ele passou pelo RB Salzburg, da Áustria, e jogou também no futebol alemão, defendendo Mainz e Bayer Leverkusen.

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O bom momento, segundo o próprio jogador, vem de uma série de mudanças que ele implementou na carreira há um ano e meio.

"Eu sempre tentei evoluir, melhorar, buscando alternativas. Muitas vezes parece que não tem como evoluir, mas sempre tem algum ponto no qual você pode melhorar. Nos últimos anos tenho uma alimentação muito controlada, um plano semanal. Também tenho esse controle via aplicativo, que monitora o sono e me ajuda a recuperar melhor", explica.

O contrato de Ramalho com o PSV termina no fim da temporada. Por enquanto, o jogador afirma que está focado nos próximos compromissos do clube. Mas ele admite que uma volta ao Brasil, onde nunca jogou como profissional, é uma hipótese mais forte que em outros tempos.

"O Brasil é uma possibilidade que sempre aparece, fico lisonjeado quando aparece interesse de algum clube do Brasil. Cada vez mais o futebol brasileiro está atraindo jogadores de fora, como o Payet, por exemplo", afirma o defensor.

"O Brasil tem uma cultura muito forte, muitos clubes de tradição. Acho que com as SAFs muitos clubes estão se reorganizando e isso também agrada. Muitos jogadores são atraídos pela organização, que é algo que nem sempre existe", diz.

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