À la Adriano, Tevez estreita laços com favela da infância em volta ao Boca
O Complexo Habitacional Exército dos Andes, um bairro pobre em Ciudadela, na Grande Buenos Aires, é conhecido por ser um dos mais violentos da Argentina. Os prédios que cercam a região, erguidos para abrigar moradores que estavam sendo despejados de outras áreas para a construção de estádios para a Copa do Mundo de 1978, são antigos e malconservados, e a alta criminalidade fez a imprensa apelidar o local de "Forte Apache" nos anos 1990. Mas em meio à população humilde e trabalhadora do lugar, têm sido cada vez mais comuns as visitas de um milionário: Carlos Tevez.
O ídolo do Boca Juniors nasceu e cresceu no Forte Apache, e desde seu retorno ao clube, no início deste ano, tem estreitado ainda mais os laços com o bairro. A relação de Tevez com o local lembra bastante a que o brasileiro Adriano tem com a Vila Cruzeiro, favela carioca onde passou a infância e a adolescência. Assim como o ex-atacante da seleção, Carlitos costuma dizer que tem orgulho de suas raízes e sempre guarda tempo para rever familiares e amigos que seguem vivendo ali.
Mesmo quando jogava na Europa - defendeu West Ham, Manchester City, Manchester United e Juventus entre 2006 e 2015 -, Tevez sempre reservava oportunidades para ir ao Forte Apache. Quando voltava à Argentina para um compromisso familiar ou festas de final de ano, pelo menos alguns dias eram passados no bairro, comendo churrasco ou jogando uma "pelada". Ele também não deixa de visitar sua tia Adriana, a quem chama de mãe: foi ela quem o criou depois que seu pai Juan Alberto morreu em um tiroteio. A mãe biológica, Fabiana, o abandonou quando ele era bebê, e se reconciliou com o filho apenas recentemente.
Agora, morando novamente em Buenos Aires, as visitas se tornaram praticamente semanais, ainda mais porque Tevez está gravando no bairro um seriado para a televisão argentina sobre sua vida. A primeira temporada de "El Apache" vai contar desde o nascimento do craque em 1984 até sua estreia pelo Boca na primeira divisão, em 2001. Envolvido na produção e interessado em supervisionar todo o processo de gravação, o jogador tem aumentado ainda mais a assiduidade das visitas.
Apesar de ser frequente, a presença de Tevez nunca deixou de ser motivo de festa, especialmente para as crianças do local, que não perdem a chance de tietá-lo. O Forte Apache é um bairro grande, com mais de 9 mil metros quadrados e cerca de 35 mil habitantes. Entre os muitos prédios, é fácil encontrar imagens do ídolo local pintadas nas paredes. A idolatria de Carlitos com o torcedor do Boca sofreu um baque quando ele deixou a equipe em 2016 para jogar no Shanghai Shenhua, mas no Forte Apache ele segue com a popularidade intacta.
O jogador lançou em 2011 a Fundação Carlos Tevez, que fez parcerias e convênios com empresas privadas para ajudar na alimentação e na assistência a crianças carentes do bairro. Mas o Forte Apache ainda hoje é uma localidade com infraestrutura bastante precária. As torres tradicionais do local sofrem com falta de pintura e manutenção. Apesar do carinho de Carlitos e de sua iniciativa para melhorar um pouco a vida dos moradores, pobreza e violência ainda fazem parte da realidade cotidiana local.
Atualmente, Tevez mora em La Horqueta, um bairro fechado na cidade de San Isidro, na Grande Buenos Aires, e tem propriedades em regiões nobres como Los Cardales e Villa Devoto, um bairro de classe média alta vizinho ao Forte Apache. Na reserva do Boca Juniors, ele não está entre os mais cotados para enfrentar o Palmeiras nesta quarta-feira (31), pelo jogo de volta da semifinal da Libertadores. Mas caso ele entre em campo no Allianz Parque, é bem provável que a torcida mais fervorosa por um gol de Carlitos venha do Complexo Habitacional Exército dos Andes.
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