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Água amarela, falta de elevador e mais. Sochi lida com fiasco na hotelaria

Bruno Freitas

Do UOL, em Sochi (Rússia)

21/02/2014 06h00

Assim que coloquei o pé no hotel que me hospedou em Sochi, depois de dois dias de viagem, testemunhei uma reclamação exaltada de um jornalista francês na recepção. Ele gritava para uma recepcionista sem reação que não poderia tolerar a situação, cujo pacote incluía falta de internet, ausência de televisão, nada de sistema de aquecimento e, por fim, água amarela saindo de chuveiro e torneiras. Assim, a sede dos Jogos de Inverno recebia o mundo dando o sinal de que não estava pronta.

Apesar do indiscutível êxito parcial na operação de transportes e segurança, por exemplo, a hotelaria foi o calcanhar de Aquiles da Olimpíada de US$ 51 bilhões do presidente Vladimir Putin. Um foco de reclamação de muitos visitantes estrangeiros, em tema inevitável para o COI (Comitê Olímpico Internacional)

Com três dias para o desfecho dos Jogos, parte dos quartos de hotéis da oferta de Sochi ainda não está pronta. Operários trabalham em obras das instalações mesmo durante as madrugadas geladas. Ainda existem linhas telefônicas, chuveiros e até elevadores para serem instalados.

"Nós percebemos muito tarde. Os alarmes soaram já em setembro. Eu fiz uma viagem especial. Disse: o que precisamos fazer? Não há como organizar os Jogos se não der para acomodar as pessoas", afirmou na última quinta-feira Jean-Claude Killy, supervisor-geral da Olimpíada pelo COI, em tom crítico em relação à sede russa.

Outro dirigente do COI pegou mais leve, afirmando que a cota de hotéis que não ficou pronta para a Olimpíada não constava inicialmente do programa da candidatura da cidade. Mas o fato é que a oferta geral deixou a desejar.  

"Sim, existem algumas questões com os hotéis, temos que colocar em análise. Mas alguns deles não estão prontos porque eles não constaram no programa inicial para estarem prontos neste momento", declarou Gilbert Felli, diretor técnico do setor no COI.

"Eu tenho que ser justo com nossos amigos de Sochi. Alguns quartos não eram para estarem prontos nos Jogos, mas os proprietários (de hotéis) resolveram acelerar o processo para contar com eles agora. Alguns dos quartos não estão prontos, mas eles não estavam no planejamento", concluiu Felli, na última quinta.

A reportagem do UOL se instalou em um dos hotéis oficiais da organização dos Jogos, na base das montanhas, chamada de Krasnaya Polyana. Ao contrário do colega francês citado no começo do texto, dei sorte, com água aparentemente cristalina saindo pelas torneiras. Mas tive minha cota pessoal de descontentamento.

A começar, o elevador do hotel esteve mais quebrado do que operante nas últimas duas semanas. Isso, para quem está instalado no 7º andar, pode ser um martírio. Não contei com televisão e internet disponíveis. Portanto, sem chance de trabalhar do local.

E mais: tomar banho significou até aqui conviver com uma inundação diária do recinto. Ainda fui premiado com uma luz funcionando no quarto apenas na segunda semana de Olimpíada. Por fim, precisei me habituar com o forte cheiro de concreto recente de obra, tanto em área interna quanto externa do hotel.

Com este tipo de relato, os observadores do Comitê Organizador do Rio 2016 trabalharam duro no acompanhamento da operação de Sochi nas últimas semanas. Eles voltam para casa com o exemplo malsucedido dos russos na hotelaria e com boas noções de como contentar os visitantes de fora daqui a dois anos.