Topo

Tales Torraga

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Nenhum time do Brasil dá hoje o show que o River oferece

Matías Suárez comemora gol do River Plate pelo Campeonato Argentino - Divulgação CARP
Matías Suárez comemora gol do River Plate pelo Campeonato Argentino Imagem: Divulgação CARP

Colunista do UOL

14/04/2023 09h15

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Líder absoluto do Campeonato Argentino, sete vitórias seguidas no país sem sofrer gols, 13 pontos à frente do Boca Juniors.

O River Plate viveu ontem (13) uma noite de gala ao fazer 3 a 0 no Gimnasia y Esgrima de La Plata com extrema facilidade pela 11ª rodada da liga local.

Mais que o futebol vistoso, digno dos melhores momentos da "Era Marcelo Gallardo", o que transforma o momento do River em algo especial é o palco.

Maior estádio da América do Sul, com 83.198 lugares, o Monumental de Núñez ontem esgotou seus ingressos pela 30ª vez seguida, algo impressionante em uma Argentina de dinheiro tão curto, e ainda mais pelo campeonato, visto no exterior como fraco e desinteressante, estar ainda no começo (11ª rodada de um total de 27).

Mesmo assim, os mais de 80.000 fanáticos enlouqueceram com o toque de primeira digno da escola Telê Santana —alguns até de calcanhar.

Esta magia do River tem sim o dedo de um treinador de ponta, o ex-zagueiro Martín Demichelis, que chegou a Núñez vindo do time B do Bayern, provando a cada rodada que está à altura do cargo e do carinho do torcedor.

ore - Reprodução - Reprodução
Capa do jornal "Olé" destaca show do River em Buenos Aires
Imagem: Reprodução

O torcedor do River é um capítulo à parte na forma argentina de viver o futebol.

Extremamente exigente e pedindo sempre ao time que não seja nada menos que o "Real Madrid das Américas", é famosa em Buenos Aires a maneira de até mesmo vaiar os jogadores quando ganham por 2 a 0 e querem controlar o resultado.

O que vale é atacar sem parar e colocar em prática o "paladar apurado", o famoso "ganhar, gostar e golear" tão repetido em Núñez.

E este time está fazendo por merecer.

Consolidou a defesa com González Pirez e Paulo Díaz, e colocou, ao menos ontem, os laterais Enzo Díaz e Casco como praticamente ponteiros.

No meio, Enzo Pérez, Rodrigo Aliendro, Nacho Fernández e especialmente um imparável Esequiel Barco, candidato a craque da Libertadores, esbanjaram categoria e inteligência, contando também com a seriedade dos atacantes Beltrán e Rondón, cada vez mais adaptados ao que se espera dos jogadores de elite na Argentina.

O grande desfecho, a loucura da noite, veio com o golaço histórico, de primeira e por cobertura, de Matías Suárez, o Francescoli dos novos tempos, que sem as intermináveis lesões poderia ser até titular da seleção argentina na Copa do Mundo do ano passado.

Quem acompanha o futebol argentino de perto sabe que não é exagero, e que Suárez integrou, com muitos elogios até de Lionel Messi, o começo da badalada "Scaloneta", ali por 2019.

mon - CARP Divulgação - CARP Divulgação
Contra o Gimnasia, Monumental de Núñez esteve lotado pela 30ª vez seguida
Imagem: CARP Divulgação

Um templo com alma

Ver o Monumental, que recebeu uma final de Copa do Mundo, mantendo seu fervor, sua arquitetura e sua alma, e percebendo que ela pulsa a cada jogo do River em Buenos Aires, está hoje à altura dos grandes espetáculos do futebol em todo o mundo, certamente o maior da América (e não só do Sul) na atualidade.

É aí que entra o Brasil.

O país continental que domina a Libertadores vê neste abril seus times grandes oscilando, com Flamengo e Palmeiras ainda buscando a afirmação que indique a continuidade da supremacia.

A mesma análise serve para o Atlético-MG de "Chacho" Coudet e para o Grêmio de Luis Suárez, o xará do craque Matías, do River.

Resta o Fluminense, que na Argentina tem sido visto como o grande time brasileiro deste 2023, até pelo impressionante desempenho de Germán Cano.

Tanto é assim que o confronto entre River e Flu pela fase de grupos, dia 2 de maio no Maracanã e 7 de junho no Monumental, dois templos da América do Sul, é encarado no país vizinho como um embate que poderia muito bem ser a decisão do torneio, e não um jogo de fase de grupos.

Usar a derrota do River na estreia da Libertadores, 3 a 1 para o The Strongest-BOL, para desmerecer a equipe, não tem muito sentido.

O aproveitamento histórico do gigante portenho em La Paz é de apenas 12%, e até o River de Gallardo perdeu feio na altitude, o 3 a 0 ante o Jorge Wilsterman em 2017, virando depois para um 8 a 0 no Monumental.

Esporte, não só o futebol, é momento. E a Libertadores termina só em 11 de novembro.

É bem provável que a longa temporada seja mais amigável com os fortes elencos brasileiros do que com este vistoso River. Mas quem está acompanhando o gigante de Núñez em suas noites de loucura no Monumental não tem absolutamente nada a reclamar.

Quem ama o futebol bem jogado, diante de uma torcida apaixonada, não deveria perder.