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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Violência explode em Rosário, e ameaça com tiros afasta Messi do Newell's

Bilhete deixado por mafiosos que atiraram contra mercado gerenciado por esposa de Messi - Reprodução/Cadena 3 de Rosario
Bilhete deixado por mafiosos que atiraram contra mercado gerenciado por esposa de Messi Imagem: Reprodução/Cadena 3 de Rosario

Colunista do UOL

03/03/2023 04h00

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Foi destaque no mundo todo ontem (2). Os 14 tiros disparados em Rosário contra o supermercado da família de Antonela Roccuzzo, mulher de Lionel Messi, geraram repúdio em toda a Argentina, a ponto de o presidente da República, Alberto Fernández, precisar se pronunciar sobre o episódio.

Segundo apurou a coluna, a principal linha de investigação da polícia local indica que a insólita intimidação a Messi está ligada a barras bravas (grupos organizados de torcedores) do Rosario Central.

A dúvida agora é se a motivação era enfraquecer o prefeito de Rosário, Pablo Javkin, citado no recado deixado depois dos disparos, ou se há também uma razão ainda mais absurda: os torcedores do Central, rivais do Newell's Old Boys, fazerem isso para evitar a transferência de Messi para o time que o viu nascer no futebol.

A desconfiança vem até mesmo da forma como a ameaça foi transmitida, com letras azuis em fundo amarelo, as cores do Rosario Central.

Por mais descabido que pareça, o histórico de tiroteios e incêndios motivados por futebol é gigante na cidade, como já ressaltou a coluna.

mes - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Messi faz selfie em carro aberto em Buenos Aires
Imagem: Reprodução/Instagram

E agora?

Como contou a coluna na semana passada, Messi tem participação prevista no jogo de despedida de Maxi Rodríguez no Estádio Marcelo Bielsa, do Newell's, em junho.

Na Argentina, o evento era tido como um "piloto" para o astro averiguar as condições da transferência ao Newell's, algo que amigos, como o ex-atacante Sergio Agüero, já falavam até publicamente.

O contrato do craque com o Paris Saint-Germain, vale reforçar, termina em 30 de junho.

Próximo a Messi desde quando o capitão era adolescente, Gabriel Heinze, atual técnico do Newell's, declarou publicamente o que circulou na cidade entre os que são mais próximos à família do craque: com tal clima, não há condições de ele jogar em Rosário.

A versão foi encampada também pelas duas principais rádios da cidade, a La Red e a Cadena 3, que passaram a tarde e a noite discutindo o episódio e suas consequências.

"O atentado afasta Messi e qualquer outro jogador que tenha interesse em jogar aqui", comentou Heinze antes do treino do Newell's.

A fala de Heinze corrobora a polêmica opinião de Miguel Ángel Russo, treinador do Rosario Central, no mês passado.

"A violência em Rosário compromete a montagem do nosso elenco, as famílias de muitos jogadores não querem viver aqui", afirmou.

A análise de Russo foi rebatida com veemência pelo prefeito da cidade, Pablo Javkin, que também gastou horas em frente ao microfone nesta quinta-feira.

"Se quiserem me atingir com este atentado, não vão conseguir", disse, fazendo pesadas críticas também ao governo federal por ignorar a violência em Rosário. "Algo mais precisará ser feito a partir de agora", respondeu o presidente argentino, Alberto Fernández.

Messi não se pronunciou sobre os disparos. Sua mãe, Célia Maria, sim, afirmando que sempre levou vida normal na cidade, recusando até mesmo segurança privada.

Mais mortes que dias

Conhecida como a "capital do interior argentino", Rosário, a cerca de 300 quilômetros de Buenos Aires, vive uma pesada crise de segurança ligada também ao narcotráfico.

Segundo levantamento feito pela coluna com estatísticas oficiais do Observatório da Segurança Pública de Rosário, fevereiro de 2023 terminou com 31 homicídios, 62% a mais que o mesmo período em 2022.

Há casos aterrorizantes, como tiroteios em hospitais, velórios, tribunais e cadeias.

Antes mesmo dos 14 disparos ao comércio da família da mulher de Messi, dois homens foram encontrados executados em regiões próximas ao supermercado.

Chamado de Único, o mercado fica em uma área de grande circulação, a rua Lavalle, na zona oeste de Rosário.

A avó da esposa de Messi abriu uma quitanda em 1982, e o negócio cresceu na virada do milênio a ponto de hoje ser uma rede, com 14 endereços pela cidade. O ponto escolhido para os disparos foi estratégico.

Nesta unidade, a própria Antonela já foi vista ajudando seus parentes no caixa durante as festas de fim de ano.