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Tales Torraga

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como o técnico Scaloni está fazendo a Argentina jogar muito e bater pouco

Argentina comemora gol contra o Uruguai pelas Eliminatórias - Divulgação Conmebol
Argentina comemora gol contra o Uruguai pelas Eliminatórias Imagem: Divulgação Conmebol

Colunista do UOL

14/10/2021 04h00

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Criticado até o título da Copa América, o técnico Lionel Scaloni consegue hoje o que técnico nenhum da seleção argentina alcançou desde José Pékerman e seu ciclo terminado em 2006. Hoje, sentar e ver a azul e branca emociona e, mais que isso, está parando o país em frente ao rádio e às telinhas —e quem já esteve em solo vizinho sabe bem como são loucos por futebol. É com este espírito entre o esporte e a expressão cultural que a Argentina recebe o Peru no Monumental de Núñez a partir das 20h30 (de Brasília) de hoje (14).

E Scaloni tem dado até uma característica inédita para esta Argentina. Tão famosa pelo bom futebol como pelas entradas duras, a seleção atual beira uma estatística espantosa: se não receber nenhum cartão amarelo contra o Peru, chegará ao quinto jogo seguido sem nenhuma advertência aos seus jogadores. A conta inclui a partida paralisada ante o Brasil, tudo bem, mas é igualmente chocante analisar que o clássico contra o Uruguai, tradicionalmente uma batalha, não teve nem um cartãozinho amarelo para nenhuma das duas seleções pela primeira vez na história.

(E olha que a lista argentina de pendurados é gigantesca, e mesmo assim ninguém é suspenso. A relação: Nicolás Otamendi, Nicolás Tagliafico, Rodrigo De Paul, Giovani Lo Celso, Lautaro Martínez, Gonzalo Montiel, Nicolás Domínguez, Exequiel Palacios, Germán Pezzella e Lucas Martínez Quarta.)

messi - Conmebol Divulgação - Conmebol Divulgação
Messi acelera no Monumental de Núñez com a Argentina
Imagem: Conmebol Divulgação

Todas as outras estatísticas de faltas estão positivas —cometeu por exemplo 123, contra 129 do Brasil, que tem o mesmo número de jogos. E no geral recebeu um cartão amarelo a menos que os brasileiros (17 a 18), sem vermelhos até aqui.

Não à toa, a Argentina é a seleção com a maior invencibilidade do mundo, já com 24 partidas sem derrotas.

Uma das características do trabalho desta seleção é o planejamento "jogo a jogo", com constantes mudanças no time titular, o que não deixa ninguém cômodo e ninguém de cara feia por sair ou por dificilmente não entrar. Esta é mais uma qualidade do ciclo Scaloni. Esta seleção não tem brigas internas e goza de uma paz com a torcida que não se vê desde os tempos de Marcelo Bielsa e sua Eliminatória impecável em 2000 e 2001.

A Argentina demonstra ter segurança para montar um ótimo time titular e se necessário também um reserva. O fanático portenho reconhece isso e lota filas de até 15 quadras para retirar seu ingresso no Monumental de Núñez, a nova casa da seleção argentina, que, surpreendentemente, tem sua localidade colocada em dúvida justamente contra o Brasil, cuja partida tem boas chances de ocorrer em San Juan.

Mais um exemplo da felicidade de Scaloni? Muitas das figuras desta Argentina são experiências deste seu atual ciclo, jogadores que nem tiveram espaço com Patón Bauza e Pelado Sampaoli. O espetacular goleiro Dibu Martínez é um deles. O ótimo zagueiro Cuti Romero e o eficiente volante Rodrigo de Paul são outros dois. E Lo Celso, que era escanteado por Sampaoli, agora goza de ótimo prestígio com o treinador.

Mesmo um veterano de seleção argentina como Diego Simeone reconhece. "Jogando em equipe fica mais fácil", crava, dizendo que Messi hoje é uma peça a mais, não um salvador de quem tudo se exige.

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"La Scaloneta", apelido da atual seleção argentina
Imagem: Reprodução TyC Sports

Scaloni ganhou até um apelido carinhoso do torcedor: "Scaloneta", uma espécie de ônibus em que os jogadores sobem e rumam para a vitória. Os titulares que subirão na "Scaloneta" nesta noite para circular por Núñez serão: Dibu Martínez; Gonzalo Montiel (Nahuel Molina), Cuti Romero, Nicolás Otamendi e Huevo Acuña; Rodrigo De Paul, Leandro Paredes e Giovani Lo Celso; Nico González (Ángel Di María), Lionel Messi e Lautaro Martínez.