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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Entenda o "escândalo da quarentena" que complica Juan Riquelme na Argentina

Filho de Riquelme (círculo amarelo) desata "escândalo da covid" na Argentina - Reprodução TV
Filho de Riquelme (círculo amarelo) desata "escândalo da covid" na Argentina Imagem: Reprodução TV

Colunista do UOL

17/03/2021 12h00

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Enquanto o Brasil acompanha estarrecido a repercussão da infame noitada de Gabigol no cassino, a Argentina também dispara munição pesada a um ídolo do futebol - neste caso, o maior nome da história do Boca Juniors, ninguém menos que Juan Román Riquelme, de 42 anos.

Hoje vice-presidente de futebol do Boca, Riquelme levou um dos filhos, Agustín, de 19 anos, a um dos camarotes da Bombonera no último domingo (14) no 1 a 1 contra o River Plate. A presença do adolescente desatou um verdadeiro escândalo na Argentina porque ele estava no grupo de estudantes que chegou sábado a Buenos Aires, vindo de Cancún, onde foram registrados 44 casos positivos de coronavírus entre os 149 jovens que viajaram.

A presença de Agustín - sem máscara e sem distância para os demais - alimentou uma revolta geral nas TVs, rádios, portais e redes sociais do país. Ele ignorou, ao lado do pai famoso, a quarentena de dez dias indicada pelo Ministério da Saúde da Argentina, e o papel de Juan Román na história também vem sendo muito mal avaliado. Ele sabia que o filho estava na viagem repleta de infectados e ainda assim avalizou sua ida à Bombonera.

O futebol argentino agora permite uma comitiva de 120 participantes de cada clube (eram 75 até semana passada), e o filho de Román estava com a pulseira verde que designa os representantes oficiais.

A estridência foi ampliada também por Riquelme aparecer sem máscara e distanciamento adequado aos demais presentes ao camarote - entre eles, os ex-jogadores Jorge Bermúdez, Chipi Barijho e Pablo Ledesma.

Adjetivos pesados contra Román são escutados nas rádios portenhas a todo momento, e o rigor é embasado em dois fatos: o presidente do Boca, Jorge Amor Ameal, recebeu alta apenas na última quinta-feira depois da internação por coronavirus, e o técnico Miguel Ángel Russo integra o grupo de risco por ter tratado um câncer há três anos.

Há quem defenda uma punição rigorosa a Riquelme para servir de exemplo a toda a Argentina - um dos raciocínios dos comentaristas é que só assim a população se daria conta da gravidade do momento, Enquanto isso, os rivais cansam de gritar nas ruas e nas redes a famosa frase "o Boca é um cabaré", eternizada em uma das confusões atravessadas pelo clube nos anos 1990.

Em situação menos dramática que o Brasil, a Argentina vê queda no número diário de casos de covid (6.874 ontem contra 18.326 de outubro, o pico). Reforço nas fronteiras e diminuição nos voos para os países vizinhos são duas das medidas do país que vacinou até aqui 4,3% da sua população de 45 milhões de habitantes.