Recordar é viver: duplistas já processaram a ATP e ganharam
No post anterior, trouxe aqui o relato da Aliny Calejon sobre o fiasco que foi a prometida "revolução das duplas" que a ATP experimentou em Madri. O descontentamento foi geral, e isso ficou claro não só nas conversas internas, entre tenistas e cartolas, mas também nas redes sociais, com milhares de comentários de fãs de tênis revoltados com o que aconteceu no torneio espanhol.
Pois bem. O momento é outro, e os atletas também, mas convém lembrar que duplistas já processaram a ATP no passado e ganharam. E se você não lembra, tudo bem. O que é preciso saber sobre o caso é que: 1) A experiência de Madri não é a primeira vez que a ATP tenta uma mudança radical e mal vista pelos duplistas; e 2) Leia os parágrafos seguintes para entender.
A disputa judicial aconteceu em 2005, quando a ATP anunciou que os jogos de duplas passariam a ser disputados com sets de, no máximo, nove games. Ou seja, ganha quem faz cinco games primeiro. No caso de 4/4, um tie-break decide. O pior, porém, não era isso. Entre as mudanças, havia a chamada "Iniciativa 2008". Segundo ela, a partir de 2008 só jogariam os torneios de duplas aqueles tenistas que entrassem nos eventos com seus rankings de simples. Ou seja, decretava-se o fim dos especialistas na modalidade.
E o buraco era ainda mais fundo: o presidente da ATP para a Europa naquela época, um cidadão chamado Horst Klosterkemper, declarou na ocasião que "as duplas tornaram-se, essencialmente, um evento de caridade para jogadores." Não preciso dizer que a frase provocou revolta entre os duplistas, especialmente Mark Knowles, que era vice-presidente do Conselho dos Jogadores.
Foi aí que um grupo de mais de 40 tenistas, liderados pelos irmãos Bob e Mike Bryan (como escrevi acima, outros tempos!), anunciaram durante o US Open de 2005 que processariam a ATP. Durante o litígio, houve uma mudança de comando na entidade, e Etienne de Villiers, que substituiu Mark Myles como CEO, era mais favorável às duplas. Em 2006, a ATP acabou recuando, e o processo foi dado como encerrado. A concessão feita pelos duplistas foi aceitar a implementação do no-ad e do match tie-break. Hoje, todos sabemos que isso também não adiantou em nada a atrair os melhores simplistas para o circuito de duplas. Assim como as mudanças testadas em Madri...
Coisas que eu acho que acho:
- Uma consequência polêmica dos jogos mais curtos de duplas: a medida alongou a carreira dos atletas. Hoje, o top 10 de duplas mais jovem tem 32 anos. há sete atletas com mais de 35 e dois com mais de 40. Rohan Bopanna, hoje com 44, é o atual campeão do Australian Open. Ele fez parceria com o "jovem" Ebden, 36.
- Digo que é uma consequência polêmica porque enquanto os duplistas comemoram a chance de jogar por mais tempo, os haters (entre eles, tenistas que foram bons simplistas, mas nunca tentaram o circuito de duplas full time) acham um absurdo ver que a elite da modalidade é dominada por veteranos - inclusive alguns quarentões.
- Um novo processo teria resultados semelhantemente positivos para os duplistas? Difícil de saber. Repito: os tempos são outros; os atletas, idem. Tenho minhas dúvidas se a atual elite veterana das duplas teria energia para uma briga judicial.
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