Fonseca: por enquanto, o mais previsível é o imprevisível
João Fonseca é a maior promessa do tênis brasileiro hoje. Aos 17 anos, tem no currículo o posto de número 1 do mundo como juvenil e os títulos da Copa Davis Junior e do US Open para tenistas de até 18 anos. Entre outros feitos. É o atual número 343 do mundo entre os profissionais.
Nada disso, porém, garante que o carioca vai ser catapultado ao top 10 em questão de meses (embora, dependendo do que você anda lendo nas redes sociais, é o que certas contas fazem parecer). Antes de três noites mágicas no Rio Open, Fonseca tinha perdido em duas estreias em seguida em torneios da série Challenger, disputados principalmente por tenistas fora do top 150. Como, então, de repente, bateu dois top 100 no ATP 500 carioca? E agora volta a perder na estreia no ATP 250 de Santiago? Qual a explicação?
Não, Fonseca não é o chamado "fogo de palha". Longe disso. Ninguém faz forehands, backhands e curtinhas como ele fez no Rio Open e desaprende no dia seguinte. Por outro lado, o jovem brasileiro (ainda!) não é sequer um top 300, e há motivos para isso. Nos seus melhores dias, Fonseca é perfeitamente capaz de duplicar as atuações do Rio. No resto, porém, ainda vai ter altos e baixos. E não há nada de errado com isso. Nada é mais previsível para um grande tenista de 17 anos do que a imprevisibilidade.
Hoje, Fonseca é um enorme talento que ainda vai encontrar dificuldades contra tenistas mais experientes, mais malandros e mais fisicamente preparados para o dia a dia do tênis profissional. Por isso, seus resultados devem continuar oscilando por algum tempo. Em alguns dias, Fonseca terá jornadas ruins tecnicamente falando. Em outros (como na derrota no Rio Open), o aspecto físico fará diferença. E, repito, tudo bem.
A tendência é que sua técnica e o condicionamento físico sigam evoluindo e, com isso, Fonseca vai achar um nível de jogo mais consistente à medida em que amadurece como tenista. O dias ruins já não serão tão ruins, e os dias bons serão mais frequentes. Coisas que vêm com o tempo. O carioca, lembremos, ainda não fez uma temporada inteira como profissional e tem muito a ver, viver e aprender antes de se tornar um grande tenista, capaz de brigar por títulos na primeira prateleira do esporte.
Coisas que eu acho que acho:
- Toda vez que um brasileiro ganha algo importante como juvenil, faz-se necessário um alerta que sempre repito. Não há garantias no tênis. São muitos os campeões de slam juvenis que não tiveram uma carreira de sucesso compatível com os resultados na categoria júnior. Tiago Fernandes ganhou o Australian Open em 2010 e encontrou todo tipo de problemas depois. Teve uma carreira curta como profissional. Thiago Wild ganhou o US Open em 2018 e só em 2023, após fazer uma série de modificações em sua vida e em seu regime de treinos, entrou no top 100. Casos assim não são tão raros.
- Não é uma vitória sobre um top 10 num treino que vai transformar Fonseca no melhor do mundo, mas também não será uma derrota numa estreia de ATP 250 que vai fazer do carioca o pior do planeta.
- Dito tudo isto, em meus 20 anos cobrindo tênis, não vi no Brasil outro tenista surgir que fosse capaz de marcar tantas caixinhas corretas. Mentalidade vencedora, inteligência, golpes bem trabalhados, boa orientação da família, humildade, etc. João Fonseca já tem muitas das qualidades necessárias na formação de um grande tenista. Isso acelera processos.
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