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US Open muda regra no meio do jogo para não admitir falha da bolha

Francois Nel/Getty Images
Imagem: Francois Nel/Getty Images

Colunista do UOL

01/09/2020 04h00

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No último sábado, a USTA, federação americana de tênis e organizadora do US Open, recebeu as notícias que temia desde sempre: o francês Benoit Paire testou positivo para covid-19. Pior: o atual número 23 do mundo teve contato com cerca de 30 pessoas nos dias anteriores, e a "investigação" do torneio concluiu que 11 atletas tiveram contato próximo com Paire.

A novidade veio a público na noite de domingo e, a regra, aplicada no Masters de Cincinnati, era simples: a pessoa contagiada e todos em contato próximo deveriam ficar em quarentena de 14 dias. Se assim fosse, Paire e os outros 11 seriam desclassificados na véspera do US Open. Foi esse mesmo regulamento que provocou a eliminação do argentino Guido Pella e do boliviano Hugo Dellien no torneio de Cincinnati. Os dois tiveram contato próximo com o preparador físico Juan Manuel Galván.

Na calada da noite, porém, a USTA mudou as regras. Criou um documento com novas regras de restrição para os 11 e exigiu que todos assinassem. Seguindo esse regulamento improvisado, eles poderiam disputar o US Open, que começou nesta segunda. Foi o caso da francesa Kristina Mladenovic e do compatriota Adrian Mannarino. Entre as exigências e limitações do documento, o torneio determinou que os 11: serão testados todos os dias; não poderão sair de seus quartos a não ser para irem ao torneio e só com hora marcada; não terão mais acesso a áreas comuns como vestiários e refeitórios; usarão equipamentos de academia separadamente e apenas com horário marcado; não poderão receber visitas no quarto; e refeições no hotel só podem ser feitas com entrega no quarto.

Por quê a mudança no regulamento? A diretora do US Open, Stacey Allaster, não deu uma explicação oficial. Até concedeu uma entrevista ao Tennis Channel nesta segunda, mas as perguntas importantes nunca foram feitas. Qual a diferença entre Pella e Dellien e os 11 "contatos próximos" de Paire? Por que o torneio não excluiu, como estava combinado anteriormente, os 11 atletas? Ou, então, por que excluiu os outros dois? Por que Pella e Dellien, que nunca testaram positivo, não tiveram o mesmo benefício dos 11 de agora?

Não é difícil imaginar explicações. É muito mais fácil excluir dois sul-americanos de um Masters 1000 do que eliminar se um slam 11 europeus mais conhecidos, de ranking melhor e de uma federação parceira dos EUA, como a Francesa. Mais do que isso: excluir 11 tenistas na véspera de um slam deixaria ainda mais fracas chaves que já estão desfalcadas. E não paremos por aí. Excluir os 11 seria fazer a pior admissão de todas diante do mundo: a bolha não é segura como a USTA prometeu lá atrás, quando anunciou que ia realizar o US Open. E ninguém na federação americana vai admitir, em público, que houve uma forçação de barra gigantesca para que o US Open acontecesse.

Tudo isso explica até os protocolos mais simples, como tenistas não se cumprimentando ao fim das partidas (embora ambos manuseiem as mesmas bolas), usando máscaras por todo o complexo e pedindo comida por celular no refeitório. Se a tal "bolha" fosse 100% segura e não houvesse risco de contágio entre todos que testaram negativo, não haveria necessidade para esse distanciamento. Só que a USTA, desde aquelas primeiras reuniões das quais ninguém revela as pautas, deve saber que seus protocolos não são tão seguros assim. Motoristas de vans e ônibus não ficam na bolha; alguns tenistas não estão nos hotéis oficiais; há mais de 600 funcionários da ESPN americana trabalhando no complexo, e muitos deles não estão hospedados no hotel oficial do torneio. Não podia dar certo, e o caso Paire escancarou isso.

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