Pole Position

Pole Position

Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Red Bull tem início perfeito na pista e vive tensão e racha fora dela

Não havia outro assunto nas rodinhas no paddock na etapa de abertura do campeonato, e ele não tinha nada a ver com o que estava acontecendo na pista. Enquanto Max Verstappen fazia mais um final de semana perfeito, com pole position, vitória liderando todas as voltas da prova, volta mais rápida, e 22 segundos de vantagem em cima do próprio companheiro, um visivelmente tenso e cansado Christian Horner tratava de demonstrar que segue com apoio suficiente para permanecer no cargo após os acontecimentos das últimas semanas.

Porque era para ser o final de semana da redenção de Horner, após a investigação da empresa Red Bull a respeito da conduta dele com uma funcionária não tê-lo incriminado. Mas o vazamento de supostas provas do caso, vindo de um email anônimo, deixou claro que a história não acabaria tão facilmente.

Enquanto isso, o pai de Max Verstappen, Jos, tratava de deixar muito clara sua posição. "Há tensão enquanto ele se mantiver no cargo. O time corre risco de se despedaçar. Não pode continuar assim. Vai explodir. Ele está fazendo-se de vítima, quando é ele quem está causando problemas", disse Jos ao Daily Mail. Ele deu declarações semelhantes à mídia holandesa também.

Enquanto isso, nos bastidores, a própria F1 e a Federação Internacional de Automobilismo cobravam mais transparência do processo. Durante a corrida, inclusive, chamou a atenção a ausência de imagens de Horner, que costuma ser figurinha fácil diante das câmeras por ser o líder do time mais vencedor do momento.

Então Horner teve de contra-atacar. No sábado, apareceu na pista de mãos dadas com a esposa ex-Spice Girl Geri Halliwell. No grid, posou na frente do carro com o principal acionista da empresa Red Bull, Chalerm Yoovidhya.

Perguntado pela coluna sobre o simbolismo das companhias que escolheu para o dia do GP de abertura da temporada, Horner desconversou. "Foi um dia de corrida, de começar o campeonato da melhor maneira possível. Os pilotos tiveram um desempenho brilhante, a equipe teve um desempenho brilhante e sim, foi o melhor começo possível para a equipe, para os nossos parceiros, para os nossos acionistas e para todos dentro do grupo."

Entenda o racha na Red Bull

Yoovidhya é um personagem central nesta história. Desde que Dietrich Mateschitz, co-sócio da Red Bull, começou a ficar mais doente, Horner passou a apostar no estreitamento da ligação com o lado tailandês da empresa para aumentar seu poder. De preferência, sem ter Helmut Marko, que sempre foi alinhado com Mateschitz e com o lado austríaco da Red Bull, pelo caminho.

Com a morte de Mateschitz, em outubro de 2022, ele intensificou essa campanha. Mas não contava, primeiro, com o apoio que Marko teria do filho de Dietrich e, segundo, do clã Verstappen.

Continua após a publicidade

Enquanto Horner posava com Chalerm Yoovidhya e a esposa na frente do carro de Max, Marko observava tudo sozinho atrás do carro. E depois Jos Verstappen, pai de Max, se juntou a ele. Depois da vitória acachapante, quando a imprensa se reunia para entrevistar Horner, estavam sentados do outro lado justamente Jos, Helmut e o empresário de Max, Raymond Vermeulen.

Horner chegou de braços cruzados e assim ficou pelos oito minutos de entrevista. Queria claramente focar na performance da equipe e deixar a polêmica para trás. Mas tive que fazer a pergunta mais latente de todas: não te incomoda que alguém já demonstrou que não vai deixar esse assunto morrer?

"Não vou comentar quais motivos, qualquer que seja a pessoa, possa ter para fazer isso. Meu foco está nesta equipe, na minha família, na minha esposa e nas corridas. Tenho o apoio de uma família incrível, de uma esposa incrível, de uma equipe incrível e de todos dentro dessa equipe e meu foco é correr e vencer corridas e fazer o melhor que puder."

Perguntado se segue na equipe até o final da temporada, Horner, que está em sua 20ª temporada à frente da Red Bull, respondeu: "Absolutamente".

É incrível que a mesma equipe que vive uma fase tão positiva nas pistas viva um futuro tão cheio de incertezas. Circula a informação de que o motor que a recém-formada Red Bull Powertrains não está dando os números esperados, e isso já teria chegado aos Verstappen. Max tem contrato com o time até 2028 e esses motores vão estrear em 2026.

Continua após a publicidade

Ao mesmo tempo, chama a atenção como os únicos chefes de equipe que foram mais incisivos até o momento sobre o caso Horner tenham sido Toto Wolff, da Mercedes, e seu aliado James Vowles, da Williams. Wolff está com a difícil missão de substituir Lewis Hamilton, que já acertou sua ida para a Ferrari em 2025. Cobrar duramente para que as coisas sejam esclarecidas, como ele tem feito, só joga mais lenha na fogueira e desestabiliza a Red Bull, que tem o único piloto que pode ser um substituto à altura do heptacampeão no momento.

No meio de tanta briga política, o mérito da questão da investigação ficou para trás. O comportamento de Horner com a funcionária da equipe acabou virando um pano de fundo para um grupo conseguir derrotar o outro. E, com isso, o esporte perde uma oportunidade de discutir entraves à inclusão de mulheres.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes