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Paulo Anshowinhas

REPORTAGEM

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Andar no park e no street. Seria o skate overall o futuro do esporte?

Skatista Luiz Francisco que correu o STU National na modalidade street e vai competir em park também - Julio Detefon/ CBSK
Skatista Luiz Francisco que correu o STU National na modalidade street e vai competir em park também Imagem: Julio Detefon/ CBSK

Colunista do UOL

19/01/2022 04h00

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No último final de semana, durante as eliminatórias e semifinais do STU National, primeira etapa do campeonato brasileiro de skate, realizado em Criciúma, em Santa Catarina, a simples participação de um skatista chamou muita atenção.

O que um integrante da seleção brasileira olímpica de park estava tentando fazer em uma prova de street? A resposta é bem simples: andar de skate.

Mas por trás disso existem outras questões. Luiz Francisco, o Luizinho, antes mesmo de ser praticante de skate em transição, ou park, modalidade criada nos últimos anos, já era praticante assíduo do skate de rua, o street skate.

Tanto que em março do ano passado (antes da ida para os Jogos Olímpicos), Luizinho havia postado um vídeo empolgante. Ele dropava (descia) de uma caixa metálica acoplada a um "vulcão" de concreto no centro de uma praça no bairro da Lapa, em São Paulo, mostrando sua radicalidade no street.

O espanto geral do público foi a capacidade de performance de um praticante renomado de outra modalidade se classificar para uma final? A resposta neste caso foi: quase.

Luizinho ficou em 9º lugar, uma posição abaixo da necessária para chegar à final do STU National e tentar mostrar serviço durante as finais, em uma modalidade em que ele ainda não tinha se destacado.

Mesmo assim, agradeceu ao público em suas redes sociais, lembrando que neste final de semana —22 e 23 de janeiro—, ele volta às pistas em Criciúma, desta vez na modalidade em que é mais conhecido: o park.

Skatista overall é fenômeno incomum - já foi nome de revista e refrão do Chorão

Andar de skate não é uma tarefa das mais simples. E ao optar por determinada modalidade, o skatista aprende, se acostuma e mostra suas habilidades em um terreno específico.

Quando há a troca de terreno, a dificuldade em adaptação acaba por levar o praticante a escolha de uma única modalidade, onde se torna especialista, em detrimento de outras.

Raros são os casos de skatistas que se destacam entre os melhores em diferentes modalidades.

Em meados da década de 80, andar bem de skate em mais de uma modalidade era uma tarefa para poucos, já que havia um número maior de modalidades em destaque sendo free style, street e vertical que também se subdividiam.

O free style praticado em superfícies planas; o street, que na época (antes de inventarem o ollie) consistia em descer ladeiras (downhill slide, ou dowhill speed), e o temido vertical —com paredes de 90 graus de inclinação, como os half pipes e os bowls (pistas em formato de tigelas).

A modalidade park como escolhido e praticado nas Olimpíadas é uma criação recente que une transições mais baixas e calombos de concreto, sem bordas, os banks.

Ser um skatista overall era algo de tamanha importância, que virou até título de uma publicação da Trip Editora que durou até o início dos anos 1990, antes do surgimento da revista Tribo Skate.

Até o saudoso líder fundador da banda Charlie Brown Jr., Chorão, tinha um refrão na música Somos Extremes no Esporte e na Música, que cita esse contexto: "Sou rap da periferia que domina com ação e atitude o dom da palavra. Somos todos streeteiros, vagabundo é mal, mas minha cara e meu estilo é bem overall...."

A lenda americana do skate Tony Hawk, foi um desses nomes que desafiaram todos os terrenos, mas, mesmo assim, com grandes dificuldades no free style, que ele também arriscou.

Free style, aliás, foi a chave mestra de outro nome lendário: o skatista americano Rodney Mullen, maior nome do skate free style de todos os tempos, e considerado o "pai" do street skate mundial, por ter criado as principais manobras que são utilizadas até hoje no skate de rua.

Rodney poderia ser considerado um dos primeiros skatistas a serem chamados de overall por também participar de eventos em bowls e banks.

Olimpíadas podem ser um fator de aglutinamento de modalidades

A proposta de Luizinho de andar tanto em street quanto em park tem outra razão. A possibilidade de participar das Olimpíadas em duas modalidades diferentes, com o dobro de chances.

Essa intenção também tem sido demonstrada por outros skatistas.

Uma delas é Rayssa Leal, que confessou pretender, a partir desse ano, se aventurar em paredes com maior inclinação com vistas a evoluir na modalidade e, quem sabe, encarar os próximos Jogos Olímpicos nas duas.

Assim como ela, a britânica Sky Brown também já vem se arriscando em outras searas, como por exemplo o skate vertical. Neste estilo, ela se sagrou campeã do Tony Hawk Vert Alert, em agosto do ano passado, em um half pipe com mais de 4 metros de altura com uma rotina recheada de manobras de alto grau de dificuldade e com condições de encarar provas mais perigosas.

Em 2020, ao treinar no half pipe do próprio Tony Hawk, ela sofreu um incrível acidente ao cair da rampa de mais de 4 metros de altura diretamente no chão. Apesar do susto, e das fraturas, ela se recuperou super bem e no ano seguinte já estava treinando na megarrampa (de mais de 20 metros de altura) com apoio de Christian Hosoi e Lincoln Ueda, como se nada tivesse acontecido.

Mas Sky também pretende entrar para o street, modalidade que ela já praticou e está nos planos dela para este ano.

Sky tem como maior ambição se arriscar em outro esporte também, o surfe, e já vem treinando muito. Em novembro do ano passado, participou do LayBack Pro, etapa de abertura do circuito mundial de surfe em Florianópolis, além de ter ido surfar em piscinas de ondas artificiais e executar aéreos com imensa facilidade.

E ela já afirmou que, no que depender dela, nas próximas Olimpíadas, vai representar o Reino Unido tanto no skate quanto no surfe.