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UFC deveria apostar mais em moneyfights para evitar cinturões sem sentido

Cinturão do UFC - Renato Pizzutto/Band
Cinturão do UFC Imagem: Renato Pizzutto/Band

Colunista do UOL

14/12/2022 04h00

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No final de novembro, uma dança das cadeiras de última hora tirou do brasileiro Glover Teixeira o direito de lutar pelo cinturão dos meio-pesados no mês seguinte. Algumas semanas depois, em uma nova reviravolta para lá de inusitada, o atleta foi confirmado mais uma vez para disputar o posto de campeão, mas contra um outro oponente. E a razão disso tudo é a mesma: os cards numerados do UFC são reféns dos cinturões.

A lógica é simples. Normalmente, o evento promove um card numerado por mês, e são estas as edições mais importantes e divulgadas, tanto que são transmitidas via pay-per-view. Para garantir o engajamento dos fãs e o interesse comercial, criou-se um modelo que prevê no mínimo uma disputa de título na parte mais nobre do show. E aí é que mora a brecha para essas reviravoltas.

Meses atrás eu escrevi sobre isso prevendo que a temporada do UFC seria marcada por dificuldades da organização em contar com disputas de título liderando todos os cards. Como solução, afirmei naquele texto que esta dinâmica poderia: 1- fazer com que donos de cinturões defendam seus postos antes do planejado; 2- resultar na criação de títulos interinos fora do planejamento; 3- abrir caminhos para que shows de PPV sejam liderados por lutas que não contem com disputas de título em jogo.

Listo aqui alguns exemplos: 1- Charles do Bronx deixou de lado seu plano de lutar em dezembro para enfrentar Islam Makhachev em outubro, em Abu Dhabi. 2- Brandon Moreno se tornou campeão interino apenas seis meses depois de Deiveson, campeão linear, conquistar o título 3- Nate Diaz vs Tony Ferguson liderou o UFC 279, em setembro, sem que um cinturão fosse colocado em jogo.

O terceiro ponto me parece interessante e precisa ser analisado. Existem alguns atletas, como Conor McGregor, Nate Diaz (que deixou o UFC) e Jorge Masvidal, que possuem apelo suficiente de acordo com os promotores do evento para encabeçar cards sem que haja uma disputa de título. Imagino que esse modelo possa ser explorado a ponto de evitar que tais mudanças de última hora peguem todos de surpresa.

Apesar do mérito de todos os atletas envolvidos, sejamos sinceros. Jan Blachowicz e Magomed Ankalaev só disputaram o cinturão no último sábado uma vez que não havia outro cinturão a não ser o dos meio-pesados a ser colocado em jogo. Ou seja, quando o então campeão Jiri Prochazka se machucou e deixou o posto vago, a melhor solução foi colocar dois atletas com apenas duas semanas de camp para lideraram o último card de pay-per-view do ano. Entendeu a urgência?

Da mesma forma, a sorte sorriu para Glover Teixeira. A organização precisava de uma luta principal para o card no Rio, já que uma quarta disputa entre Deiveson e Moreno não seria o suficiente para gerar o engajamento necessário para o retorno do show ao Brasil. Por isso, vejam só, em um período de sete semanas cinco atletas foram escalados para disputar o mesmo título, que segue vago. Jiri, Glover, Prochazka, Ankalaev e Jamahal Hill (número sete do ranking).

Por isso, imagino que duelos midiáticos e que interessem aos fãs casuais e, portanto, garantam bons números de venda de pay-per-view merecem mais destaque. Quem acompanha o esporte diariamente vai acompanhar o card, com ou sem Prochazka vs Ankalaev como luta principal. No entanto, quem mudou sua rotina para acompanhar o UFC 282 em específico o fez por conta de Paddy Pimblett. Coube ao jovem inglês a responsabilidade de garantir atenção ao show, e ele sabe como fazer isso.

Se estes atletas midiáticos que atraem legiões de fãs para seus combates tiveram mais oportunidades para liderarem edições numeradas, uma brecha seria criada para aliviar a pressão em alguns campeões, gerando oportunidade para que tanto os rankings como o mérito esportivo sejam mais respeitados.

Afinal, se um atleta chegou ao topo de seu esporte a ponto de ser campeão, me parece injusto que ele tenha que se apressar para lutar para "salvar um card" ou até mesmo ver outro atleta ser promovido a campeão interino sem real necessidade. Se o preço para vermos os melhores lutadores do mundo se enfrentando no auge de suas performances e de forma consistente é valorizar as "money fights", acho justo. E me parece o caminho natural.

Em 2017, quando o Bellator promoveu um card de PPV em Nova York, duas disputas de cinturão fizeram parte do show: Ryan Bader vs Phil Davis e Brent Primus vs Michael Chandler. Curiosamente, nenhuma delas foi o main event da noite.

A responsabilidade ficou com Chael Sonnen vs Wanderlei Silva e Matt Mitrione vs Fedor Emelianenko, que ocuparam o topo da tabela do show. Desta forma, o mérito esportivo foi mantido e os melhores atletas no momento disputaram os títulos dos leves e dos meio-pesados, ao mesmo tempo que disputas envolvendo veteranos renomados garantiram a atenção dos fãs mais casuais, que tiveram a chance de ver lendas em ação.

Se combinar direitinho, todos saem ganhando!