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Marília Ruiz

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Marília Ruiz: Eu sei bem o que é um 'Parmêra e Coríntxias', Ugo Giorgetti

19/09/2021 13h36

Prazer, Ugo. Meu nome é Marília Ruiz e eu sei bem o que é um "Parmêra x Coríntxias".

Não sou medrosa nem sou tímida. Tampouco tenho pretensão de ser imprescindível. Mas necessária parece que sou para alguns.

Rosto bonito e simpático? Minha mãe concorda que eu tenha. Mas esses são assuntos muito pessoais: não vejo no que ele poderia me ajudar no trabalho que faço há 21 anos. Aliás, ainda bem, porque a maioria dos jornalistas (homens), há 21 anos ou mais amassando gramados por aí, definitivamente não se garantem por causa de suas feições.

Tenho 21 anos de jornalismo esportivo: 5 Copas do Mundo, 5 Olimpíadas, muitos Brasileiros, alguns Mundiais e várias Copinhas. Perdi as contas de quantos Dérbis tenho no currículo: antes do MTB e depois dele. Escrevo e opino sobre futebol. Sem frescura. Sem mimimi. Do meu jeito. "Parmêra e Coríntxias", garanto-lhe, é a especialidade aqui de casa.

Não sou todas as mulheres do mundo. Não sou todas as jornalistas do mundo.

Sua coluna "Mulheres no Futebol" não parece ter sido feita pelo mesmo cineasta que de forma genial assinou "Boleiros: era uma vez no futebol". Para mim foi uma grande decepção ler seu texto replicado no Blog do Juca e no portal "Ultrajano". Como pode uma pessoa ser tão eficaz em fotografar a "alma" do futebol raiz e ser tão ineficaz em enxergar/aceitar e escrever sobre a vida cotidiana? Assino com a relatora Milly Lacombe: ela, sim, brilhantemente já escreveu sobre o assunto.

Não há nada de cortês no seu texto: se é que foi essa a sua pretensão. Não é um aceno de boas-vindas ao "sagrado feminino" ou coisa que o valha. Alguns amigos em comum me escreveram dizendo que não era a sua intenção, Ugo, mas queria respeitosamente lhe dizer que o resultado foi mais que uma infeliz generalização: foi preconceituoso.

E preconceito não é opinião.

A visão medieval da bruxa sedutora, inventiva, ousada e diferentona não cabe. Não precisamos salvar nada. Não somos também um exército de stormtroopers de saia que pensam, agem e reagem da mesma forma e em uníssono. Somos mais jedis que agem como snipers independentes (esse é outra questão).

Essa visão romantizada das mulheres sensíveis, maternais e místicas é machista. Machista e sexista como as postura de todos que leram sem qualquer incômodo o seu amontoado de argumentos com viés de machista em desconstrução aberto a, UAU!, dar espaço às mulheres apresentarem um "show de talentos"".

O primeiro passo da desconstrução do machismo é admitir a sua existência na formação cultural da sociedade. Isso vale para quem escreveu, para quem leu e não se incomodou e para quem replicou "*esse texto não reflete necessariamente a opinião de quem a publicou".

A questão é outra: seu texto, Ugo, é a prova de que, sim, ele reflete o que somos como sociedade em 2021.

Seguimos.