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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O trunfo da Mercedes para não virar o Manchester United da F1

Lewis Hamilton e George Russell se abraçam ao fim do GP da Hungria, última prova antes das férias da F1 - Steve Etherington/Mercedes
Lewis Hamilton e George Russell se abraçam ao fim do GP da Hungria, última prova antes das férias da F1 Imagem: Steve Etherington/Mercedes

Colunista do UOL

18/08/2022 11h22

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Wolff contou dias atrás, a uma rádio da Inglaterra, que desenvolveu uma mania: estudar hegemonias no esporte para entender por que elas terminam.

"Eu pesquisei as razões para grandes equipes uma hora pararem de vencer. A pergunta que sempre me fiz foi: 'Por que é tão difícil manter uma sequência de conquistas?'", disse o austríaco, que citou o exemplo do Manchester United, tão poderoso no início do século, mas que vive um jejum desde a saída de seu comandante, Alex Fergunson, em 2013. O UOL noticiou aqui.

A preocupação faz sentido. O que a Mercedes conseguiu entre 2014 e 2021 é histórico: oito Mundiais de Construtores consecutivos, marca que nenhuma outra equipe jamais havia conquistado. (A Ferrari de Schumacher, Todt e cia parou em seis títulos, de 1999 a 2004).

O dirigente disse ter chegado a algumas respostas, todas ligadas à natureza humana: "O humano fica acomodado, não tem mais a mesma energia e a mesma ambição de antes".

Sim, manter uma equipe motivada é uma das principais atribuições de um gestor.

E, para essa missão, há uma boa e uma má notícia para Wolff.

A má: por mais que um líder estude e se esforce, hegemonias sempre terminam. Tudo indica que o Mundial de Construtores, neste ano, será da Red Bull. Acontece, é melhor aceitar.

A boa: a Mercedes tem um trunfo para tentar iniciar uma nova série em 2023.

Nas navegações do dia a dia pelas redes, esbarrei com um número que explica a terceira posição da equipe no Mundial mesmo num campeonato tão complicado e que, principalmente, pode lhe trazer esperanças para o futuro.

O gráfico abaixo é do perfil F1_Charts, de estatísticas da categoria.

Desde o início da era de motores híbridos na F1, em 2014, a média de abandonos da equipe alemã é a mais baixa da categoria: 2,6 por temporada. Vale repetir: 2,6 abandonos por campeonato. É um absurdo, é muito pouco.

O cálculo leva em consideração qualquer tipo de abandono: problema mecânico, pane elétrica, acidente... É um grande termômetro de uma qualidade tão importante na F1 como a velocidade dos carros: a regularidade.

Esse índice da Mercedes é muito distante de todo o resto do grid. A média da F1, nessas sete temporadas, é de 7 abandonos por equipe por ano.

A Ferrari aparece em segundo lugar, com 5,6 abandonos por campeonato, ou 115% a mais que a rival.

Depois vêm a Aston Martin (6,1) e a Williams (6,7), que por todo esse período usaram motores da Mercedes. Não, não é coincidência.

A Red Bull aparece na quinta colocação, com 6,9 abandonos por temporada.

É justamente essa regularidade que explica a Mercedes perseguindo a Ferrari no Mundial, mesmo após um início de ano tão ruim, sem vitórias.

Nas 13 corridas até agora, houve apenas um abandono: de Russell, após o acidente com Zhou na largada de Silverstone.

A Ferrari soma sete abandonos. Por isso, mesmo com quatro vitórias, a equipe italiana tem apenas 30 pontos a mais que a Mercedes na tabela do Mundial.

Ligar o alerta é sempre prudente, claro. Mas não acho que a Mercedes se tornará um Manchester United. O 2022 da equipe alemã está mais para soluço do que para doença grave.