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Fábio Seixas

REPORTAGEM

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Para aplacar impaciência das montadoras, F1 reafirma discurso verde

Mohammed Ben Sulayem, presidente da FIA, em reunião da entidade na semana passada - Mohammed Ben Sulayem/Twitter
Mohammed Ben Sulayem, presidente da FIA, em reunião da entidade na semana passada Imagem: Mohammed Ben Sulayem/Twitter

Colunista do UOL

27/06/2022 08h35

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A Fórmula 1 aproveitou o início da semana do GP da Inglaterra, uma das mais badaladas da temporada, para requentar um assunto que ficou meio esquecido após o Mundial eletrizante de 2021 e os efeitos inesperados do novo regulamento de 2022: o compromisso de zerar nos próximos oito anos seu balanço de emissões de gases causadores do efeito estufa.

"Nossos progressos rumo ao net zero 2030", apresentação postada nas redes sociais, não traz grandes novidades. É uma prestação de contas do plano anunciado em 2019 pelo ainda presidente da FIA, Jean Todt.

Mas por que agora? Como sempre na categoria, há uma intenção por trás. No caso, os dirigentes da categoria tentando destravar conversas com montadoras.

Desde o início do ano, a Fórmula 1 espera o anúncio da entrada da Volkswagen. A decisão já foi tomada pelo grupo e revelada em maio por seu CEO, Herbert Diess, num vídeo em que respondia questões de moradores de Wolfburg, sede histórica da fabricante de carros.

A ideia do grupo é chegar em grande estilo, com duas de suas marcas mais icônicas: Porsche e Audi. A primeira deve assumir a divisão de motores da Red Bull. A segunda quer um time para chamar de seu, e as negociações com a Sauber, hoje ligada à Alfa Romeo, estão avançadas.

Além da Volks, a Honda está de olho nesta F1 "net zero". Sim, a Honda, a mesma que vive entrando e saindo da categoria e que deixou a Red Bull há pouco mais de seis meses. Com as portas da equipe fechadas, os japoneses podem se unir à AlphaTauri a partir de 2026.

Segundo o site da revista "Auto, Motor und Sport", da Alemanha, haveria, ainda, uma quarta marca interessada no novo discurso da F1. Faz todo sentido.

O principal ponto do plano requentado hoje é introduzir um novo combustível sintético a partir de 2026, abandonando os de origens fósseis. Além disso, a categoria está trabalhando para reduzir sua pegada de carbono em viagens pelo mundo. A produção das transmissões de TV passará a ser feita de forma remota, numa base fixa na Europa, e até mesmo os containers de transporte de equipamentos estão sendo redesenhados para se tornarem mais eficientes.

Esse discurso verde é música para os ouvidos das montadoras, que sempre viram a F1 como uma plataforma de marketing. Só há um problema: o desalinhamento entre FIA e Fórmula 1.

A Volkswagen só vai fazer qualquer anúncio depois que o regulamento de motores para 2026 for publicado. Aí está o busílis. A FIA, que comanda o lado esportivo da F1, está se enrolando.

A promessa era que as regras seriam aprovadas na reunião do Conselho Mundial, nesta quarta-feira. A Porsche aproveitaria o fim de semana do GP da Áustria, no autódromo da Red Bull, para fazer estardalhaço. Uma semana depois, ainda em julho, a Audi faria seu anúncio.

Nada disso vai acontecer. O novo presidente da FIA, o emirático Mohammed Ben Sulayem, que assumiu o cargo em dezembro, resolveu rever todo o processo. Isso irritou profundamente os executivos das montadoras e causou um novo terremoto nas relações da entidade esportiva com a Liberty Media, que rege os interesses comerciais da categoria.

Ben Sulayem teria feito uma nova promessa: tudo estará no papel em julho.

A ver. Até lá, resta à Liberty requentar notícia velha, como que indicando paras montadoras que os planos seguem vivos e implorando por um pouco mais de paciência.