Topo

Fábio Seixas

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Política e montadora podem colocar Qatar na F-1

O circuito de Losail, em Doha, no Qatar, que pode receber a F-1 a partir da temporada 2021 - Divulgação
O circuito de Losail, em Doha, no Qatar, que pode receber a F-1 a partir da temporada 2021 Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

25/07/2021 08h37

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Um intrincado jogo de forças e o desejo antigo da F-1 de atrair a Volkswagen podem resultar na estreia de um novo país no calendário da categoria ainda nesta temporada: o Qatar.

O autódromo de Losail, em Doha, que recebe a MotoGP desde 2004, tornou-se uma opção bem cotada para substituir o GP da Austrália. A prova de Melbourne seria em 21 de novembro e foi cancelada no começo deste mês por causa da pandemia.

Há muita política por trás dessa decisão.

O começo da história remete a 2015, quando os qataris e o grupo americano RSE Ventures se juntaram para concorrer ao controle comercial da F-1. A Liberty Media levou, e a velha suspeita de um arranjo nos bastidores ganhou força em abril, com o anúncio de que Miami receberá uma etapa do Mundial a partir do ano que vem.

A prova de Miami será promovida por Stephen Ross, dono do Miami Dolphins. Ele é o controlador da RSE. Retribuição parecida poderia ser dada agora ao Qatar, saldando a "dívida".

Mas há outro ponto muito forte a favor de Losail, um namoro antigo.

O QIA, fundo soberano do Qatar, é o segundo maior proprietário de ações da Volkswagen, com direto a 17% dos votos no conselho. Entre outras marcas, o grupo controla Audi e Porsche, que sentaram com a cúpula da F-1 e outras montadoras no fim de semana do GP da Áustria para discutir planos de entrar na categoria a partir de 2023.

Domenicali, hoje chefe da Liberty, conhece bem a política interna do grupo. Por quatro anos, o italiano comandou outra marca da Volks, a Lamborghini. Estava por lá em 2014, quando a Audi ensaiou entrar na F-1, plano que acabou barrado exatamente no conselho do grupo.

A promessa de uma etapa da F-1 a partir deste ano pode conquistar os qataris e ser o fiel da balança para que a Volkswagen enfim lance uma equipe na categoria. O assunto é caro a eles por questões geopolíticas: os vizinhos Bahrein, Abu Dhabi e Arábia Saudita já estão no calendário.

A marca escolhida deve ser a Audi, que está de saída da Fórmula E. Não por coincidência, a Porsche estreou na temporada passada no Mundial de monopostos elétricos.

Há, ainda, uma questão prática, de logística. A etapa em aberto é a antepenúltima etapa do Mundial, e as duas últimas corridas serão exatamente no Oriente Médio: Arábia Saudita, no dia 5 de dezembro, e Abu Dhabi, no dia 12. Concentrar as últimas provas numa mesma parte do mundo é tudo o que as equipes querem ao final da temporada mais longa da história.

losailgp - Divulgação - Divulgação
Maverick Viñales, da Yamaha, que venceu a etapa de abertura da MotoGP neste ano, em Losail, no Qatar
Imagem: Divulgação

Losail traz, por fim, o atrativo de poder realizar uma prova noturna, marca do circuito na MotoGP _recebeu a primeira prova noturna da categoria, em 2008. O traçado tem 5.380 m, reta de 1.068m, 16 curvas, possui licença 1 da FIA _a mais alta concedida pela entidade_ e já recebeu duas vezes etapas do WTCC, o Mundial de Turismo.

E para quem acha que rivalidade regional é um detalhe, uma historinha: quando a F-1 estava sob o comando de Ecclestone, o Bahrein tinha o direito informal de vetar outras corridas na sua região. Quando a Liberty assumiu a categoria, essa deferência caiu.

Os qataris não vão querer deixar essa oportunidade. E a Audi viria no pacote.