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Diogo Silva

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Saúde mental no esporte: o alerta foi acionado

Saúde mental de atletas requer preocupação  - Lucas Figueiredo/CBF
Saúde mental de atletas requer preocupação Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

02/06/2021 04h00

Pressão, depressão, estresse, crise de ansiedade e pensamentos suicidas. Os males da sociedade contemporânea também estão no esporte.

Nesta semana a tenista Naomi Osaka, do Japão, a jogadora mais bem paga do mundo e a número 2 do ranking mundial, se retirou do torneio de Roland Garros, porque não estava conseguindo administrar a pressão e as crises de ansiedade provocadas por causa dos grandes eventos, por ser uma grande estrela aos 23 anos e por parte da imprensa.

O caso de Osaka não é único.

Naomi Osaka na primeira rodada de Roland Garros em 2021 - FFT - FFT
A tenista Naomi Osaka desistiu de participar do torneio de Roland Garros
Imagem: FFT

O tenista australiano Nick Kyrgios, de 25 anos, revelou em 2020 sua "situação triste e solitária", enquanto lutava contra a depressão causada pelo ritmo avassalador do circuito ATP. O jogador de basquete americano Kevin Love também tornou público seu quadro de ansiedade e depressão.

O mundo do atleta é solitário e distante da família. O que vemos durante uma luta ou partida não reflete a rotina desgastante.

A imprensa denomina atletas como heróis, como se aquele corpo fosse indestrutível. O corpo pode até ser muitas vezes indestrutível, mas a mente, esse é o ponto franco da história.

No último Fórum Internacional de Atletas, nos dias 26 e 27 de maio, organizado pelo grupo Athleta 365 e pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), as perguntas ao alemão Thomas Bach, presidente da entidade, acerca dos cuidados sobre a saúde mental dos esportistas durante e depois das olimpíadas foram predominantes.

E por que tamanha preocupação?

O confinamento, a quarentena, o escasso acesso a vacinas e a morte de familiares vítimas da covid-19 estão colaborando para o aumento dos casos de depressão no mundo do esporte.

Um estudo recentemente publicado no Jama (Journal of the American Medical Association) pesquisou em uma universidade na França as reações da quarentena em alunos. Participaram do estudo 69.054 estudantes, que relataram apresentar ansiedade (28%), estresse traumático (22%), depressão (16%) e pensamento suicida (11%), com 43% relatando pelo menos um fator de risco.

Um outro estudo realizado no Brasil, feito pelo Instituto de Psicologia da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), apontou que os casos de depressão praticamente dobraram desde o início da quarentena entre março e abril do ano passado.

Dados coletados online indicam que o percentual de pessoas com depressão saltou de 4,2% para 8,0%, enquanto o índice foi de 8,7% para 14,9% nos casos de quadros de ansiedade.

Esses dados demonstram a preocupação dos atletas sobre o tema e justificam o questionamento sobre medidas que serão adotadas pelo COI e pelos comitês nacionais. Os jogos olímpicos podem ser um estopim para uma crise, e os atletas temem não ter nenhum tipo de cuidado ao voltarem para casa.