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Diogo Silva

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

A força do peso pesado feminino do judô

Maria Suelen (à direita) e Bia Soares (à esquerda) com medalhas em Budapeste - Reprodução/Instagram
Maria Suelen (à direita) e Bia Soares (à esquerda) com medalhas em Budapeste Imagem: Reprodução/Instagram

31/03/2021 04h00

Em disputa por uma vaga olímpica na categoria + 78 kg, as judocas Maria Suelen Altheman e Beatriz Sousa são esperança da inédita medalha brasileira na categoria peso pesado feminino.

Suelen está à frente da Beatriz por duas colocações: são respectivamente quarta e sexta no ranking mundial. A briga entre as duas encerra no dia 31 de maio, quando federação internacional fechará o ranking para Tóquio.

Os critérios de classificação olímpica no judô são simples: os 18 atletas mais bem ranqueados em cada categoria estão garantidos no evento. No entanto, cada país só pode ser representado por um atleta em cada categoria.

Beatriz, mais conhecida como Bia, é uma atleta jovem (tem 22 anos) e faz parte da nova geração do judô feminino. Para conseguir a vaga para Tóquio, ela precisa vencer pelo menos uma das etapas de Grand Slam e torcer para Suelen não medalhar, fato que é bem difícil, devido a consistência da brasileira em resultados internacionais.

No ano de 2021, Suellen conquistou duas medalhas de bronze em Grand Slam. Sua primeira conquista foi em Telaviv, em Israel, em fevereiro. A segunda aconteceu em Tbilisi, Geórgia, neste mês. Com os pódios, a brasileira subiu ainda mais no ranking mundial.

Já sua compatriota Bia também conquistou um bronze na Geórgia, acirrando ainda mais a concorrência entre as duas.

Aos 32 anos, Suelen já é experiente no mercado internacional, tem uma carreira bem consolidada e medalha muitas vezes durante o ano. Já participou de duas olimpíadas e chegou muito próximo da medalha, perdendo na disputa do bronze em Londres 2012. Nos jogos olímpicos do Brasil, Suelen não foi bem, perdeu na estreia adiando o sonho para Tóquio.

Com a quarentena, Altheman se viu pela primeira vez repensando a própria vida, coisa que não é possível quando está rodando o mundo. Os atletas abandonam suas vidas pessoais e se entregam ao esporte. Fazem isso por tanto tempo que não se dão conta das outras coisas que estão perdendo.

A pandemia é o maior desastre humanitário para o Brasil, mas o isolamento em casa fez com que esses atletas repensassem suas vidas e, pela primeira vez, puderam perceber que existem outros prazeres no cotidiano que nem se quer tinham notado.

Por conta disso, pelo que tudo indica, esse será o último ciclo olímpico de Altheman, que deseja ser mãe após Tóquio.

Assim, ela abre caminho para Bia, que poderá chegar sem concorrência interna para os Jogos Olímpicos da França em 2024.

Competições adiadas e força brasileira

Por conta da covid-19, muitas competições foram adiadas, e classificações olímpicas ficaram para este ano. O judô tem uma agenda cheia antes da Olimpíada. O próximo desafio brasileiro será na Turquia, no dia 02 de abril.

O judô brasileiro terá uma série de competições que somam pontos para o ranking mundial e servirão de treinamento para Tóquio, já que não será possível fazer um trabalho específico para a Olimpíada, devido ao tempo reduzido para a classificação e o acúmulo de competições adiadas.

O judô é uma das modalidades em que o Brasil tem mais chances de medalhas, assim como velas e vôlei. Ao todo, o país já conquistou 22 medalhas olímpicas (quatro delas douradas). Nas últimas edições, as mulheres também passaram a ser presença constante nos pódios e igualaram os homens em conquistas de ouro (duas para cada lado).

Esse processo iniciou com Ketleyn Quadros, nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. Ela conquistou o bronze, a primeira medalha olímpica do judô feminino.

Em Londres 2012, Sara Meneses ganhou a primeira de ouro e, na Rio 2016, Rafaela Silva levou o Brasil ao lugar mais alto do pódio mais uma vez. Sem falar das medalhas de bronze de Maira Aguiar e das demais compatriotas.