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Diogo Silva

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Capitalismo no esporte põe em xeque a saúde dos atletas

Pedestre caminha em frente a pôster da Olimpíada de Tóquio - Kim Kyung Hoon
Pedestre caminha em frente a pôster da Olimpíada de Tóquio Imagem: Kim Kyung Hoon

17/03/2021 04h00

Faltando pouco mais de 120 dias para o início dos Jogos Olímpicos de Tóquio, os questionamentos sobre a vacinação dos atletas, que não fazem parte do grupo prioritário, mas se expõem e são expostos à covid-19 a cada treino e a cada competição, estão se intensificando.

No dia 11 de março, a China ofereceu ao COI (Comitê Olimpíco Internacional) vacinas aos atletas que vão participar do evento que começa em 23 de julho. O presidente da entidade, o alemão Thomas Bach, que foi reeleito até 2025, agradeceu a solidariedade chinesa e se comprometeu a comprar as vacinas, mas não revelou qual seria a logística e nem quantidade de doses.

Bach ainda prometeu que "para cada dose adicional" atribuída às delegações olímpicas "vai comprar outras duas destinadas à população do mesmo país". Ou seja, a solução do Brasil é vacinar os atletas olímpicos.

Fazendo uma conta por baixo, temos, no momento, 195 atletas classificados. Se todos forem vacinados no país, teríamos mais 390 doses, disponibilizadas pelo COI — o suficiente para imunizar todo grupo brasileiro, entre comissão técnica e equipe médica, que vai para Tóquio.

Nesta semana, o Plano Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde, definiu que os atletas do alto rendimento, que pertencem às Forças Armadas, serão incluídos no grupo prioritário de vacinação. Pelo menos 50% dos atletas olímpicos brasileiros são militares. Faltou informar como e quando esses atletas serão imunizados.

Pensando a nível nacional, acho incrível termos um plano para vacinar militares, já que não temos vacina, ministro da Saúde e nem governo.

Ambas as notícias, nacionais ou internacionais, demostram que está havendo um esforço para que os atletas sejam imunizados.

Mesmo que a categoria tenha virado meme por conta da declaração de Bolsonaro sobre seu "histórico de atleta", casos recentes provam que a categoria não está imune à doença.

Em fevereiro, jogador de vôlei de praia Bruno Smith, que conquistou o ouro na Olimpíada do Rio, em 2016, ficou internado por 13 dias (cinco deles na UTI) devido a complicações da covid-19. E olha que ele só tem 34 anos e está em plena atividade. Bruno, que faz dupla com Evandro Gonçalves, já se recuperou e está classificado para Tóquio.

Se Bruno fizesse parte de um time e tivesse sido contaminado dias antes de embarcar para Tóquio, teríamos um surto nessa equipe, como vimos no handebol masculino, por exemplo.

Não precisamos que uma grande estrela esportiva morra para entender o porquê os atletas devem ser vacinados. Se os grandes eventos não foram cancelados, e o atleta recebe por conquista de títulos, índice alcançado e metas por desempenho, automaticamente, ele terá que se expor.

Nem toda profissão pode ser adaptada ao home office. É o caso do esporte. A não ser que os Jogos Olímpicos e os grandes torneios esportivos migrassem para os vídeos games.

Além disso, os atletas não competem de máscara. O esportista é o único trabalhador em atividade que não usa o acessório essencial em tempos de pandemia ao exercer sua profissão.

O esporte é capitalista e tem o foco no dinheiro, e somente a vacina poderá proteger os atletas e seus familiares.