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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ceni erra demais no São Paulo para apelar ao velho "eles perderam"

Rogério Ceni, técnico do São Paulo, durante jogo contra o Atlético-GO na Sul-Americana - Isabela Azine/AGIF
Rogério Ceni, técnico do São Paulo, durante jogo contra o Atlético-GO na Sul-Americana Imagem: Isabela Azine/AGIF

Colunista do UOL Esporte

02/09/2022 08h48

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Quando o São Paulo eliminou o Palmeiras na Copa do Brasil, Rogério Ceni particularizou a disputa com Abel Ferreira e disse, ironicamente, que tinha "dado sorte" duas vezes contra ele, incluindo uma vitória nos pênaltis comandando o Flamengo na Supercopa do Brasil. Ou seja, o velho e conhecido "eu venci".

Na derrota por 3 a 1 para o Atlético-GO, que complica bastante a vida são-paulina na semifinal da Copa Sul-Americana, o técnico detonou a atuação do time, com críticas justas, mas que transferem demais a responsabilidade para os jogadores, que são escalados por ele.

Ceni é assim desde os tempos de jogador. Nunca foi de admitir falhas e, mesmo nas entrelinhas, sempre deu um jeito de trazer para si os méritos das vitórias. É um traço de personalidade. Negativo, ainda mais para um treinador. E no clube que o acolheu e foi o único defendido por ele como goleiro, o técnico se sente mais à vontade para expor essa característica.

O São Paulo de Ceni se expõe atrás além da conta, com três ou quatro defensores. É curioso observar que o agora treinador foi multicampeão no Morumbi com equipes pragmáticas, especialmente as comandadas por Muricy Ramalho, em que a prioridade era a montagem de um forte sistema defensivo.

Mas agora é preciso colocar uma assinatura. E se ele bebe na fonte de Jorge Sampaoli e Juan Carlos Osorio, pouco importa o material humano que tem nas mãos. O resultado prático é um time frouxo e desorganizado. Pior: sem volume ofensivo e artilharia para compensar as deficiências sem bola.

No Serra Dourada, mesmo com um trio na zaga e Pablo Maia à frente da retaguarda, o buraco às costas de Reinaldo, que desta vez não compensou com qualidade no apoio, foi aproveitado pelo lateral Dudu no passe para Jorginho abrir o placar. O Atlético, do estreante Eduardo Baptista, era organizado sem bola, com Wellington Rato mais agressivo pela esquerda e Marlon Freitas voltando do lado oposto, auxiliando os volantes Baralhas e Edson Fernando na execução de um 4-2-3-1.

O time visitante apostava no apoio dos alas, Igor Vinicius pela direita, para acionar a dupla Calleri e Luciano, este empatando o jogo ao completar de cabeça a assistência pela esquerda de Rodrigo Nestor. O jogo era mesmo igual naquele momento do primeiro tempo.

Mas a expulsão de Igor Gomes aos 40 minutos, oito depois de levar cartão amarelo, colocou tudo a perder. Porque um time frágil sem bola sofre ainda mais com a desvantagem numérica, ao contrário dos que se reorganizam bem em um 4-4-1 e ficam confortáveis jogando reativamente.

Igor Gomes errou. A torcida tem direito de implicar com o jogador que bem entender, contanto que sem violência, física ou emocional. Mas será que a falta para segundo amarelo não aconteceu também pelo meio-campista estar mal posicionado para quem dava suporte ao ala pela direita e não pode deixar um buraco às costas para os zagueiros e o único volante cobrirem? Não seria falha também do treinador?

Eis a questão no time do Morumbi. Tão importante quanto o problema crônico na meta. Nenhum goleiro passa confiança. Nem Jandrei, que teve até bom início, mas agora deixa claro que não faz diferença em jogos grandes.

Deixou passar novo cruzamento pela direita e Shaylon, substituição corajosa de Baptista na vaga de Baralhas, cumpriu a lei do ex no início do segundo tempo. Tudo que o São Paulo não precisava com um homem a menos. É a hora em que o goleiro precisa aparecer para compensar as deficiências. Jandrei vacilou novamente.

Depois foi controle do Atlético, com 56% de posse e mais três finalizações, duas no alvo. Fechando os 3 a 1 com Léo Pereira, que substituiu Rato e, pela esquerda, passou como quis por Diego Costa e tocou na saída do goleiro.

Vantagem reversível no Morumbi, nem que seja levando à decisão por pênaltis. A dúvida é se haverá capacidade de reação. Ceni já colocou o peso nos ombros de seus comandados: "É obrigação". Mas não pode desviar da responsabilidade do treinador na péssima fase que pode determinar uma nova temporada sem conquistas e lutando no Brasileiro apenas para não cair.

Muito pouco para o São Paulo e também para o treinador que já passou de promissor a realidade e precisa, enfim, assumir seus erros em uma carreira que não se afirma de forma condizente com o potencial. Ceni erra demais para apelar ao surrado "eles perderam".

(Estatísticas: SofaScore)