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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Brasil de Tite pode vencer sem a grande estrela, como outros na história

Tite e Neymar durante jogo da seleção brasileira contra o Equador - Lucas Figueiredo/CBF
Tite e Neymar durante jogo da seleção brasileira contra o Equador Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Colunista do UOL Esporte

02/04/2022 07h34

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O equilíbrio no universo de seleções contrasta com as "projeções" logo após o sorteio, de confrontos que colocam sempre as maiores chegando mais longe. O painel da Globo com Galvão Bueno levando Brasil x Argentina até o limite - desta vez, pelos chaveamentos, "morreu" na semifinal.

A memória seletiva esquece de um exemplo emblemático e recente: o "grupo da morte" de 2014, com os campeões Inglaterra, Itália e Uruguai, teve a Costa Rica na liderança, mandando os europeus para casa e só caindo nas quartas, e nos pênaltis, para a Holanda do goleiro-heroi Tim Krul.

Impossível prever qualquer coisa e o Brasil deve pensar jogo a jogo no Catar, até porque o Grupo G será duro: a Sérvia de Tadic e Vlahovic é melhor que a de quatro anos atrás e a Suíça nunca perdeu em Copas para o país cinco vezes campeão, incluindo o empate por 1 a 1 em 2018. Sem contar Camarões, de Choupo-Moting e Ekambi, que pode não ser o "sparring" de 1994 e 2014.

A partir daí tudo é possível, como encarar Gana ou Coreia do Sul nas oitavas, e não Portugal ou Uruguai. Parece claro que esse tal caminho possível enfrentando apenas campeões mundiais pode reservar muitas surpresas no mundo real de cada vez mais "intrusos" em torneios de seleções.

Inclusive um vencedor inédito, embora a prateleira de fortes candidatos ao título tenha apenas campeões: França, Alemanha, Inglaterra, Argentina e Brasil.

Sim, o Brasil. Mesmo sem a grande estrela, que não é mais Neymar, mero coadjuvante de Mbappé e Messi no frustrado PSG. Evoluindo coletivamente, encontrando soluções em um grupo de 23 ou 26 com dois ou três bons jogadores por posição.

Uma seleção que gera desconfiança justamente por contrariar a história do escrete canarinho. Em 1958, a estrela era Didi, craque do Mundial que apresentou para o mundo Garrincha e Pelé, os grandes protagonistas das conquistas de 1962 e 1970. Em 1994, Romário chamou toda a responsabilidade para si e faturou a taça e o prêmio de melhor do mundo da FIFA. Oito anos depois, Ronaldo foi artilheiro e a grande história de redenção no Mundial disputado na Ásia.

Mas outras edições já premiaram seleções mais "operárias", com herois improváveis como Mario Kempes na Argentina em 1978, Paolo Rossi na Itália em 1982, o alemão Lothar Matthäus em 1990 e Fabio Cannavaro no tetra da Azzurra em 2006. E quem foi o grande craque da Alemanha que nos impôs os 7 a 1 e ganhou aqui a sua quarta taça: Kroos, Muller ou Lahn? Isso sem falar em "zebras" como o Uruguai do Maracanazo em 1950 e a Alemanha batendo a favorita Hungria de Puskas quatro anos depois.

O protagonista brasileiro pode explodir no Mundial. Ou a força vir exatamente do conjunto, ou da capacidade de repor um Paquetá com Coutinho, um Fred com Bruno Guimarães e um Antony com Raphinha, ou vice-versa. Talvez um Vinicius Júnior mais maduro ou até Thiago Silva, como Cannavaro, sendo o craque zagueiro em seu último Mundial.

Ou ainda Neymar, atuando mais adiantado. Poupando energias para, enfim, ser decisivo. Tiro curto, menos de um mês de foco total e bem assessorado pode fazer a diferença. Ou ser um facilitador, atraindo a marcação e as atenções enquanto os companheiros brilham.

A falta de duelos com as favoritas prejudica a avaliação da força brasileira. Mas são sete partidas e, na atual conjuntura, o que importa é sobreviver fase a fase. Como fez a França no último Mundial, de forma pragmática. Não é a referência de Tite, mas pode ser o caminho possível.

Menos brasileiro, mais italiano ou alemão. Sem um Romário, mas com organização e alma. Quem sabe?