Topo

André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Santos e Marinho merecem o sofrimento na Libertadores contra um argentino

Carlos Tevez tem a camisa puxada por Pará na vitória do Boca Juniors sobre o Santos - Juan Ignacio Roncoroni - Pool/Getty Images
Carlos Tevez tem a camisa puxada por Pará na vitória do Boca Juniors sobre o Santos Imagem: Juan Ignacio Roncoroni - Pool/Getty Images

Colunista do UOL Esporte

28/04/2021 08h49

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Em janeiro, o Santos empatou sem gols com o Boca Juniors pela ida da semifinal da Libertadores 2020 na Bombonera. Jogo equilibrado, entre dois gigantes do continente, em que o time brasileiro poderia ter saído vencedor se o árbitro chileno Roberto Tobar tivesse marcado um pênalti claro do zagueiro Izquierdoz sobre Marinho, então o grande destaque do torneio e que depois seria eleito o melhor jogador da edição.

Mas nem foi preciso. Na Vila Belmiro, o alvinegro praiano impôs contundentes 3 a 0 e garantiu vaga na grande final. Equipe comandada por Cuca, que superou dificuldades financeiras e turbulências políticas utilizando jovens revelados pelo clube e aproveitando muito da base deixada por Jorge Sampaoli.

Ariel Holan foi anunciado como novo treinador santista no dia 22 de fevereiro. Argentino, campeão da Sul-Americana 2017 com o Independiente e da liga chilena de 2020 na Universidad Católica. Comandou também o Defensa y Justicia em 2015, no início da trajetória que culminaria com as conquistas recentes da Sul-Americana e da Recopa, com Cresco e Beccacece.

Chegou no olho do furacão. Sem tempo para treinar, já encarando início do Paulista e fases preliminares da Libertadores 2021. Porque o Santos priorizou o torneio continental, ficou com a última vaga brasileira e teve que enfrentar Deportivo Lara e San Lorenzo. Tudo isso com adaptação a um outro país e conhecendo o elenco, incluindo os garotos da base, colocando para jogar.

Ainda aturando um chilique de Marinho ao ser substituído contra o San Lorenzo e vendo Soteldo sair para o Toronto FC, descumprindo a promessa da diretoria de manter o venezuelano, o outro jogador desequilibrante do time. Para completar, a intolerância da torcida, que não entendeu o contexto complicado e perseguiu Holan, inclusive soltando rojões do lado de fora do apartamento onde o argentino estava morando. Uma covardia.

Ariel Holan acertou e errou, como seria natural em processo tão acelerado. Foi contratado por suas convicções, seu estilo de jogo. Não para fazer o "feijão com arroz" em busca de resultados imediatos. E ele até conseguiu o mais importante, sobrevivendo na Libertadores. Coisa que o longevo Renato Gaúcho não alcançou no Grêmio. Mas cansou de tanta insanidade e foi embora.

Na primeira partida sem Holan, um novo encontro com o Boca Juniors na Argentina. Com o Santos já em situação complicada depois da derrota por 2 a 0 em casa para o Barcelona de Guayaquil. Com o equívoco do ex-treinador ao improvisar Pará no meio-campo e a inaceitável estatística: nenhuma finalização no alvo em noventa minutos. O Santos, na lendária Vila Belmiro. Um vexame, mas que obviamente não justificava a pressão absurda sobre o técnico com dois meses de trabalho.

O interino Marcelo Fernandes fez o tal "simples". Um 4-3-3 com cada um em seu lugar. E o Santos nem fez um primeiro tempo ruim na Bombonera. Mas de forma alguma poderia ter saído vencedor, pelo que fez dentro e, principalmente, fora de campo.

E nada mais simbólico que o segundo revés no Grupo C, também por 2 a 0, fosse definido em contragolpe iniciado com bola perdida por Marinho, que voava em janeiro e agora só aparece por equívocos infantis. Assistência de Carlos Tévez, autor do primeiro gol, e finalização precisa de Villa. O Santos pode até reclamar da arbitragem: o escanteio que originou o gol que abriu o placar não aconteceu, a bola claramente tocou em Villa antes de sair.

Mas o time paulista e seu principal jogador merecem o sofrimento na Libertadores contra um argentino. O castigo veio voando. E parece só o começo do calvário.