Topo

André Rocha

Jorge Jesus veio pelo "atalho" do Mundial, agora vai pela ausência dele

Jorge Jesus e Everton Ribeiro, em coletiva no Catar durante o Mundial de Clubes 2019 - Leo Burlá / UOL
Jorge Jesus e Everton Ribeiro, em coletiva no Catar durante o Mundial de Clubes 2019 Imagem: Leo Burlá / UOL

Colunista do UOL Esporte

17/07/2020 16h40

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

"Isto pode ter história para nós. Este vencedor vai disputar a Copa do Mundo e nós, se ganharmos a Libertadores, também vamos. Pode ser um destes dois, já estou a ver".

Palavras de Jorge Jesus à Eleven Sports no dia 1º de junho de 2019, no Wanda Metropolitano, em Madrid, antes da final da Liga dos Campeões entre Liverpool e Tottenham.

O Flamengo foi visto como uma oportunidade para o treinador português recuperar relevância na Europa depois de sair corrido do Sporting por conta da turbulência político e parar no Al Hilal, da Arábia Saudita.

Como? O futebol brasileiro só é visto nos principais centros como um exportador, ninguém assiste às competições nacionais e a Libertadores nunca foi muito valorizada no Velho Continente. Além dos portugueses que têm carinho por Jesus, quem poderia prestar atenção no seu trabalho?

Só havia uma saída, um "atalho": superar em jogo único o vencedor da Liga dos Campeões no Mundial, mesmo sendo este desvalorizado pelos europeus, e trazer os holofotes para si, podendo entrar no radar dos clubes mais ricos em momento de desespero buscando um nome em alta.

O Liverpool estragou os planos de Jesus em Doha, mas o jogo parelho com apenas cinco meses de trabalho e a possibilidade de voltar com elenco mais forte no final de 2021 animaram o técnico. Nas entrevistas, Jesus e jogadores sempre mencionavam o pacto para vencer novamente a Libertadores e entrar mais uma vez na rota do melhor time da Europa.

Com a pandemia e a incerteza do calendário nacional, a dúvida. Sanada parcialmente com a confirmação das datas pela CBF. A FIFA, porém, não tem previsão para a realização do torneio intercontinental. Então surge o Benfica com um projeto ambicioso. Contrato de três anos, a chance de voltar para casa - diga-se, um país mais responsável no trato da Covid-19.

Jesus veio pelo Mundial e vai pela ausência dele. Pode alegar outros motivos, mas a informação é que este foi o decisivo. Porque o futebol brasileiro é ponto de passagem. Como aconteceu com Jorge Sampaoli, em baixa depois da Copa do Mundo pela Argentina. Antes treinou o Sevilla com alguma visibilidade. Em condições normais não aceitaria o Santos. Assim como Jesus sequer ouviria uma proposta rubro-negra.

Mas aceitou e deixa um enorme legado. Histórico. Trabalho de excelência, muito acima dos demais. Quebrando paradigmas. Apontando um norte. Talvez tenha pecado pela pouca transparência na condução da questão, mas quem garante que há confiança na direção rubro-negra? Basta lembrar que negociaram com ele pelas costas de Abel Braga. Legítimo como parte do negócio, mas é ação que sempre derrapa na ética.

Jesus chegou, viu e empilhou títulos. Faltou a Copa do Brasil. Também o Mundial, que muito provavelmente não virá pelo Benfica, hoje abaixo do terceiro escalão na Europa. Mas agora nem é mais necessário. Página virada.