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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Tiro no pé: por que organizadas e dirigentes jogam contra o próprio clube?

Integrantes de organizadas do Flamengo fazem protesto na porta do CT Ninho do Urubu - Reprodução S1 Live / Twitter Isabelle Costa
Integrantes de organizadas do Flamengo fazem protesto na porta do CT Ninho do Urubu Imagem: Reprodução S1 Live / Twitter Isabelle Costa

08/04/2022 14h08

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Pior do que marcar reunião com torcida organizada é desmarcar reunião com torcida organizada.

O que aconteceu no Ninho do Urubu hoje de manhã foi mais do que um protesto. No mínimo, foi um protesto agressivo. No limite, foi um ataque a alguns jogadores e membros do comando do clube. Claro, alguns atletas foram poupados ou até louvados. Mas as cenas são lamentáveis, direto dos anos 1990, um absurdo que não tem espaço no futebol. Nunca teve e nunca terá.

Imagina se você chega atrasado um dia no trabalho, faz uma apresentação ruim, não bate sua meta de vendas, é duro com um cliente, dá uma resposta atravessada pra sua chefe e, no dia seguinte, aparece uma turba na porta da sua casa ou do escritório, ameaçando sua integridade física, cercando seu carro, te acuando na porta do ônibus, mandando você tomar em lugares recônditos? Dá o sangue, vagabundo!

Imagina.

Não tem cabimento. Torcida pode cobrar. Pode falar que tem jogador fazendo corpo mole, exigir mais da diretoria, pode fazer faixa, pode reclamar na porta do CT, protestar no aeroporto. O que não pode é intimidar. Pichar. Abordar na rua. Ameaçar de violência e morte em rede social.

A tática é tão idiota quanto é ineficaz. Ou vocês acham mesmo que os jogadores de Flamengo e Corinthians estreiam no Campeonato Brasileiro, neste final de semana, mais felizes e empolgados? Mais apaixonados por suas torcidas?

Segundo os colegas Ricardo Perrone e Yago Rudá, "os atletas do Corinthians ouviram de membros da Gaviões que terão dificuldades para sair do Rio se perderem do Botafogo". Pouco surpreende o conteúdo do encontro, que se deu à luz de uma carta com o delicado trecho: "Ou joga por amor ou joga por terror". Excelente tática motivacional. Só que não.

Os jogadores desses times são praticamente todos milionários. Podem ter certeza que há muitos deles pensando: não preciso disso, na primeira oportunidade eu vazo dessa zona.

Erram as torcidas, que contribuem para aumentar a crise em seus clubes. E erram os dirigentes, que colocam certos torcedores acima dos demais, dando-lhes poder e acesso indevidos, permitindo que causem danos desnecessários onde já há problemas de sobra.

Quando o futebol brasileiro vai avançar no tempo e na decência? Ou, como dita a sabedoria popular: se não tem como ajudar, pelo menos não atrapalha.