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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Robinho é, oficialmente, mais um estuprador à solta

Robinho, ex-jogador de futebol condenado a nove anos de prisão na Itália por estupro coletivo - Ettore Chiereguini/AGIF
Robinho, ex-jogador de futebol condenado a nove anos de prisão na Itália por estupro coletivo Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

19/01/2022 12h21

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Há mais de um ano, em 10 de dezembro de 2020, publiquei aqui uma coluna intitulada "Pode chamar Robinho de estuprador agora?". Ele fora condenado em segunda instância pela justiça italiana e ainda havia quem passasse pano, afinal sua sentença não era definitiva.

Agora é. Robinho, aos olhos da lei italiana e de qualquer pessoa que não duvide dos fatos (e das vítimas), é um estuprador. Ponto, parágrafo.

A audiência que cravou sua condenação durou meia hora, com direito a admoestação ao seu advogado, por insistir na abjeta demonização da vítima. A equipe jurídica do jogador criou um dossiê mostrando fotos das mídias sociais da mulher atacada, supostamente tentando provar que ela bebia. Assim como eu bebo e muitos de vocês bebem, o que aparentemente justificaria sermos violentados.

O que mais me entristece - além do ato em si, portador de inúmeros gatilhos para tantas de nós que já sofremos algum tipo de violência - é saber que dificilmente o estuprador Robinho sofrerá a punição que merece.

Claro, talvez ele não consiga mais atuar por um grande clube e precise terminar a carreira vivendo de renda. Pobrezinho. Talvez perca qualquer patrocínio que ainda lhe reste ou o apoio de alguns amigos e familiares. Coitado. Talvez seja xingado nas redes sociais, chamado de estuprador. Que tragédia.

Não. Tragédia é se juntar aos amigos e estuprar uma mulher vulnerável. Tragédia é poder fazer isso e não ser preso. É poder acompanhar um julgamento de condenação praticamente certa sabendo que a impunidade é igualmente provável.

O Brasil - especialmente este Brasil atual - importa-se pouco com as mulheres. Com a nossa dignidade, saúde ou mesmo vida. Este Brasil não vai extraditar um estuprador seu para cumprir pena na Itália. Vai guardá-lo aqui mesmo, com carinho, para que possa seguir sua vida em paz.

Já a vítima, como sabemos, nunca mais viverá em paz. Seu trauma é permanente.

Desejo apenas que ela possa encontrar acolhimento entre as pessoas amadas. Que consiga ser feliz. Que sinta algum consolo em saber que a justiça de seu país não abandonou-a.

E desejo, com igual vigor, que Robinho apodreça. Que a justiça o alcance e que, um dia, ele pague, de verdade, pelo crime nojento que cometeu. É o mínimo.