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Candomblé: Lula cria dia nacional para celebrar religião de matriz africana

mulher adepta candomblé religião proteção espiritual - Joa_Souza/Getty Images
mulher adepta candomblé religião proteção espiritual Imagem: Joa_Souza/Getty Images

Giacomo Vicenzo*

De Ecoa, em São Paulo (SP)

06/01/2023 19h25

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou uma lei que institui o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, a ser comemorado anualmente no dia 21 de março.

O texto, publicado no Diário Oficial da União (DOU) desta sexta-feira (6), também é assinado pelas ministras da Cultura, Margareth Menezes, e da Igualdade Racial, Anielle Franco.

De acordo com o senador Paulo Paim (PT-RS), a data foi escolhida por relembrar o massacre de 69 pessoas negras que protestavam de forma pacífica contra o regime de segregação racial na África do Sul, em 1960.

Candomblé no Brasil vem de negros escravizados

O candomblé nasceu da mistura de tradições religiosas que pessoas negras escravizadas trouxeram para o Brasil.

Entre elas se destacavam dois grupos: os bantos (que vinham de regiões como o Congo, Angola e Moçambique) e os sudaneses, que vinham da Nigéria e do Benin (e que são os iorubas, ou nagôs, e os jejes).

Vela acesa e oferendas em terreiro de candomblé  - Joa_Souza//iStockphoto - Joa_Souza//iStockphoto
Vela acesa e oferendas em terreiro de candomblé
Imagem: Joa_Souza//iStockphoto

Porém, a religião oficial no Brasil era o catolicismo, trazida pelos brancos de origem portuguesa. O candomblé, então, passou a ser encarado de forma pejorativa e preconceituosa, muitas vezes sendo visto como bruxaria.

Por isso, era proibido e fortemente reprimido pelas autoridades policiais.

Mesmo assim, os escravizados seguiram cultuando suas divindade e seguir seus costumes religiosos secretamente. Para disfarçar, identificavam seus deuses com os santos da religião católica.

Por exemplo, quando rezavam em sua língua para Santa Bárbara, estavam cultuando Iansã. Quando se dirigiam a Nossa Senhora da Conceição, estavam falando com Iemanjá. Esse processo foi chamado de sincretismo religioso.

Tempos depois, mesmo com a liberdade de crença garantida por lei, até 1976 os terreiros de Candomblé só podiam realizar a celebrações religiosas com autorização do governo.

Foram muitas as violações promovidos pelo Estado a terreiros, tendo como base o Código Penal de 1890 e o de 1942, que criminalizam religiões de matriz africana. Até hoje a religião (e seus praticantes) sofre grande perseguição.

O que é o candomblé?

Candomblé é uma religião de matriz africana, os rituais são realizados ao ritmo de atabaques e cantos em idioma ioruba ou nagô, que variam conforme o orixá que está sendo cultuado.

As cerimônias do candomblé são realizadas nos terreiros - que hoje são casas ou templos, mas expressam no nome suas origens: era em clareiras na mata que os escravizados podiam expressar sua religiosidade

Os ritos são dirigidos por um pai de santo (que tem o nome africano de babalorixá) ou uma mãe de santo (ialorixá). Também são feitas oferendas e consultas espirituais através do jogo de búzios (um tipo de concha do mar que é usada como um oráculo para orientar e fazer previsões). Atualmente, os terreiros de um candomblé mais próximo a suas origens estão na Bahia.

Com o tempo, essa religião africana praticada no Brasil foi adquirindo características próprias. O candomblé de caboclo, por exemplo, é um ritual que incorpora elementos da cultura dos povos indígenas.

*Com informações de Agência Estadão Conteúdo e apuração/texto de Heidi Strecker, Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação.