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Legado do Qatar: 'trabalho escravo' pode derrubar escolha de próximas Copas

ONU propõe parceria com a Fifa para escolha de novas sedes da Copa do Mundo em combate ao trabalho escravo e em respeito aos direitos humanos - Tiago Leme/UOL
ONU propõe parceria com a Fifa para escolha de novas sedes da Copa do Mundo em combate ao trabalho escravo e em respeito aos direitos humanos Imagem: Tiago Leme/UOL

Camilla Freitas

De Ecoa, em São Paulo (SP)

06/12/2022 06h00

A escolha para as novas sedes da Copa do Mundo pode ter como critério o respeito às normas de trabalho e direitos humanos. É o que afirmou a Organização Internacional do Trabalho (OIT) à AFP.

A conversa entre o diretor-geral da agência da ONU, Gilbert F. Houngbo, e o presidente da Fifa, Gianni Infantino, ocorre após polêmicas envolvendo o Qatar, país sede. Entre elas estão as denúncias de trabalho análogo ao de escravo na construção dos estádios da Copa do Mundo do Qatar deste ano.

"A intensificação da relação entre a Fifa e a OIT faz parte do legado da Copa do Mundo de 2022", disse Infantino em comunicado oficial.

Como é o trabalho no Qatar?

Uma reportagem do jornal britânico The Guardian revelou que 6.500 operários morreram desde que o Qatar recebeu o direito de sediar o evento em 2010. De acordo com o país-sede, 414 operários morreram, dois durante o horário de trabalho.

Denúncias de entidades internacionais falam em diversas violações trabalhistas como problemas com a segurança dos trabalhadores, jornadas exaustivas em temperaturas que podem superar os 50°C, moradias precárias, atraso de salário e, principalmente, a kafala.

Indianos saem em passeata para mostrar torcida pelo Brasil - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Indianos saem em passeata para mostrar torcida pelo Brasil
Imagem: Arquivo pessoal

A kafala é um sistema que proíbe o trabalhador estrangeiro de mudar de emprego sem a autorização do patrão. A maior parte dos trabalhadores da construção civil no Qatar são da Índia, Paquistão, Bangladesh, Nepal, Sri Lanka, Filipinas e do Quênia. Juntos, os imigrantes destes países somam 1,3 milhão de pessoas.

Nos últimos anos, o Qatar aboliu oficialmente a kafala, mas ainda há denúncias de uso do sistema.

A presença da OIT em Doha, capital do Qatar, que começou em 2018, deve prosseguir, a princípio, até 2023.

Quais outras 'polêmicas' envolvem o país da Copa?

O fato da homossexualidade ser considerada crime no Qatar também é questionado não só por organizações da sociedade civil como até por seleções que participam do mundial.

O Código Penal do país fala sobre a homossexualidade como uma prática passível de uma pena de oito anos de prisão ou até mesmo de morte.

O direito das mulheres também é uma questão. Tuteladas por figuras masculinas, elas precisam de autorização para casar e perdem apoio financeiro do marido se se recusam a manter relações sexuais com ele sem que haja uma "razão legítima".

Conforme já afirmou em sua coluna em UOL, o jornalista Jamil Chade pontua que "os direitos humanos são universais" e que "nenhum argumento cultural ou religioso justifica a privação de dignidade de uma pessoa".

Quais são as próximas sedes?

A sede da próxima Copa do Mundo, que ocorrerá em 2026, já está escolhida. O Mundial será disputado nos Estados Unidos, México e Canadá.

Para a edição de 2030, duas candidaturas conjuntas já foram anunciadas: Espanha e Portugal, que adicionaram a Ucrânia ao projeto, e um projeto da América do Sul (Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile).

Em setembro, o Egito anunciou que estava em consultas com Grécia e Arábia Saudita sobre uma eventual candidatura.

*Com informações da AFP