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Plataforma é lançada para combater fake news ambiental e dados distorcidos

Plataforma Fakebook.eco faz checagem de notícias e dados ambientais - Reprodução
Plataforma Fakebook.eco faz checagem de notícias e dados ambientais Imagem: Reprodução

Diana Carvalho

De Ecoa, em São Paulo

09/06/2020 04h00

"Tá frio! Cadê o aquecimento global?" Pode parecer absurdo, mas essa pergunta ainda é feita com frequência por quem tenta minimizar e questionar os efeitos das mudanças climáticas.

E como mostrar que "não apenas a temperatura média do planeta segue subindo, como a ocorrência de recordes de calor vem superando de longe a ocorrência de recordes de frio"? Esse é um dos principais objetivos do Fakebook.eco - plataforma lançada ontem (8) pelo Observatório do Clima para combater a desinformação ambiental, em parceria com portais de notícias ambientais e científicas.

De maneira didática, a iniciativa esclarece os principais mitos e distorções que rondam o debate ambiental no país, além de verificar o discurso de autoridades e desmentir "fake news" que se espalham rapidamente em redes sociais.

Marcio Astrini - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

"Em um cenário de pandemia, com milhões de desempregados, com o país colapsando economicamente, infelizmente, ainda temos que fazer esforços para mostrar que a terra não é plana, que o planeta não está aquecendo da mesma forma que aqueceu há 4 mil anos... Estamos vivendo uma situação lamentável de ter que provar que a verdade é verdade mesmo", diz Marcio Astrini, coordenador da plataforma e secretário-executivo do Observatório do Clima.

Para o ambientalista, o Fakebook.eco surge para reestabelecer a verdade frente a um sistema de mentira e manipulação de dados organizado a serviço de uma narrativa política. "O governo faz uso de dados incorretos para vender uma narrativa de que cuidam do meio ambiente e de que a ciência, no país, não é confiável. O mesmo governo que nega o meio ambiente, que nega as mudanças climáticas, é o mesmo governo que negou a existência e a mortalidade do novo coronavírus", afirma. A plataforma é a junção de dois outros projetos: o Fakebook, produzido em conjunto pelo OC, o Greenpeace e o ClimaInfo em 2019, e o Agromitômetro, iniciativa de checagem de informações ambientais do OC, existente desde 2018.

Na última semana, o Ministério da Saúde anunciou que mudaria a metodologia para informar os dados sobre Covid-19 no país, deixando de divulgar o número total de casos confirmados. Após forte pressão e repercussão internacional sobre uma tentativa de esconder o número de mortes, a pasta recuou.

"Nesse momento, estamos vendo um esforço de pesquisadores de outras áreas, como a saúde, para também lidar não só com a fake news como fazer a contagem do número de vítimas coronavírus. E por quê? Porque querem omitir essa informação. Isso é um comportamento constante do governo frente questões prioritárias. Se você nega que existe o problema, você não precisa fazer nada".

Para Austrini, a realidade do país com relação à proteção ambiental, assim como ao avanço do coronavírus, incomoda porque tem um reflexo econômico imediato e desastroso. "A imagem do Brasil lá fora em se tratando da área ambiental está frustrando os próprios interesses do governo", diz.

Um deles é o acordo comercial negociado entre o Mercosul e a União Europeia. Na quarta-feira, o Parlamento da Holanda aprovou pela primeira vez uma moção contra o parecer. Um dos motivos é de que poderia causar uma concorrência injusta entre os produtores agropecuários. No Brasil, por exemplo, a produção não segue as normas de respeito ao meio ambiente.

"Ano passado, o ex-presidente do INPE [Ricardo Galvão] mostrou a verdade sobre o desmatamento. Incomodou e foi demitido. Um mês atrás o governo demitiu dois coordenadores do Ibama porque eles foram fazer uma operação de campo para prender criminoso ambiental. Então, toda vez que a verdade é revelada, incomoda, e o governo vem com alguma espécie de narrativa pra dizer que aquilo não está acontecendo. Por isso é importante que para recompor a verdade".

Para o especialista, tentativas de enfraquecer a legislação e a proteção ambiental sempre existiram no Brasil por parte do Congresso, mas antes eram ações pulverizada. "Hoje, a gente tem um executivo nacional com todo o seu poder de editar decretos, portarias, medidas provisórias, com uma agenda clara de destruição ambiental", afirma.

No entanto, ao mesmo tempo, isso causa uma mobilização maior, como no caso do MP 910, que ficou conhecida como MP da Grilagem, antes de virar o PL2633. A medida caiu de pauta após forte pressão popular. "Todas as pessoas que defendem a agenda ambiental estão mais do que nunca em alerta. E se unem. E essa união vai muito além de uma nota de repúdio, por exemplo. São denúncias que geram posicionamento, tanto de empresas quanto de parlamentares, como foi o caso da MP 910. Gera um constrangimento no presidente da câmara em outros parlamentares, o que acaba, de alguma maneira, freando práticas e atitudes de destruir regramentos de proteção ambiental".