VEGANO E POPULAR

Com buffet à vontade a R$ 14, restaurante Pop Vegan fatura R$ 500 mil ao mês e 'salva' 290 mil animais no ano

Juliana Domingos de Lima De Ecoa, em São Paulo Fernando Moraes/UOL

Da tradicional feijoada de quarta-feira até o saboroso rodízio de pizza, são mais de 1.500 refeições servidas por dia em que todos os ingredientes são veganos.

Desde 2017 o restaurante Pop Vegan recebe centenas de pessoas no almoço e na janta na rua Fernando de Albuquerque, região da Consolação, em São Paulo (SP), e faz outras centenas de entregas por dia.

"É importante ter um almoço vegano a baixo custo para as pessoas se abrirem ao novo", disse a Ecoa Mônica Buava, sócia do restaurante. Internacionalista de formação, ela é vegana há 18 anos e se uniu à amiga de infância Ana Carolina Caliman e ao marido Guilherme Carvalho para abrir o restaurante. Os três são ativistas pelos direitos dos animais.

O Pop Vegan começou com um investimento de cerca de R$ 60 mil dos três sócios. De 2018 para 2022, cresceu 300% em faturamento - cerca de 45% ao ano, padrão que não mudou na pandemia -, chegando a um faturamento aproximado de R$ 500 mil ao mês. Sua equipe mais que triplicou: foi de 23 funcionários em 2017 para 86 em 2022.

Todo esse sucesso indica que o restaurante tem conseguido cumprir a missão com que foi criado: popularizar a comida vegana aliando preços baixos e sabor. No almoço, é possível comer à vontade por R$ 14 para retirada, R$ 17 para comer no salão de segunda a sexta e R$ 20 aos sábados. No delivery sai a R$ 16, mais a taxa de entrega.

Fernando Moraes/UOL Fernando Moraes/UOL

Vende porque é barato ou é barato porque vende?

O almoço do Pop está bem abaixo do valor médio do prato feito nas cidades brasileiras atualmente. Segundo um levantamento feito em 2022 pela Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador em 51 cidades brasileiras, o preço médio do prato feito hoje está a R$ 31. O Sudeste foi a região que apresentou o maior custo médio para o almoço.

Num cenário de inflação recorde sobre os alimentos, o Pop usa algumas estratégias para manter o preço nesse patamar. A primeira é a negociação com fornecedores para pagar mais barato, já que compram um volume grande. "A gente consome uma tonelada de grãos por mês", explica Buava.

A segunda é a diversificação: o Pop também passou a produzir queijos e sobremesas veganas, pizzas e marmitas congeladas, tornando-se fornecedor de outros restaurantes. Essa produção ganhou um espaço próprio neste ano em um galpão no centro de São Paulo.

Na quarta-feira (16) após o feriado de 15 de novembro, o buffet do almoço tinha opções como arroz integral, macarrão, feijoada, couve refogada, bobó de pupunha, bolinho de feijão, saladas e molhos variados. No térreo, as mesas são compartilhadas num esquema de "refeitório" que teve que ser adotado para atender à demanda do almoço.

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Rua Vegana

Desde que o Pop Vegan abriu as portas, há cinco anos, pelo menos três outros empreendimentos veganos também se instalaram na Fernando de Albuquerque: a padaria Hera Veggie, a sorveteria Alfredo Veggani Gelateria e a sanduicheria It's Vegan. Mesmo alguns restaurantes não veganos passaram a oferecer uma opção vegana no cardápio.

Para Buava, o Pop teve uma influência nessa proliferação de comércios veganos na rua. Ela os vê não como concorrência, mas como o fortalecimento de uma comunidade: "Jamais um restaurante vegano ou vegetariano vai ser nosso concorrente. A gente quer concorrer com o PF que tem carne".

Os outros estabelecimentos de fato abriram as portas depois de o Pop ter se instalado no 144 da Fernando de Albuquerque e têm uma boa relação com o restaurante.

Celinha Mondoni, padeira e sócia da Hera Veggie, conta que o Pop contribui para atrair um fluxo de pessoas que também beneficia os outros negócios da rua. "Costumo brincar que aqui tem o café da manhã, o almoço, a janta e a sobremesa veganos!", diz a Ecoa. Quando dá o endereço a um cliente que quer conhecer a padaria, o vizinho também serve como referência. "Só dizer que é na rua do Pop e as pessoas já conhecem".

Já o fundador do It's Vegan, André Bovis, escolheu o ponto já pensando em estar na "rua vegana". O restaurante abriu as portas em julho, mas funcionava como delivery desde 2020. "Sou fã do Pop. Pra mim eles são uma aula, não são concorrência", diz André.

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'Todos adoram e acabam voltando'

Antes de criar o Pop, Carol, Mônica e Guilherme foram sócios do restaurante Barão Natural entre 2014 e 2017. Eles entraram na sociedade para ajudar o vegetariano da Alameda Barão de Limeira a sair do vermelho - deu tão certo que o empreendimento chegou a ter quatro unidades na cidade.

Foi administrando o Barão que os ativistas se deram conta de que "mexer no bolso" era um caminho para conquistar mais adeptos da alimentação sem carne ou outros produtos de origem animal. Houve casos de clientes atraídos pelo preço que acabaram se interessando em saber mais sobre a causa e se tornaram veganos.

"Principalmente porque o Barão também era barato, a gente viu que era muito possível as pessoas se abrirem", diz Buava.

Com isso, tiveram a ideia de começar um restaurante próprio. Logo o Pop realmente se confirmou "pop": no segundo dia já estava cheio de clientes que queriam pagar barato e conhecer o novo restaurante do trio de antigos sócios do Barão Natural.

O editor de livros Guilherme Samora conheceu o restaurante na semana em que foi inaugurado e desde então virou cliente assíduo: "Como sou vegano e gosto de comer bem, sempre procuro novidades na área. A qualidade, sabor, preço justo e ótimo atendimento do Pop me fizeram virar freguês. Toda semana estou por lá ou peço pizza em casa", conta. "Sempre levo amigos, mesmo os que não são veganos, para experimentar a comida de lá. Todos adoram e acabam voltando".

Fernando Moraes Fernando Moraes

Negócio social

Além do veganismo, os sócios do Pop buscam incorporar outros de seus valores ao negócio. Um deles é a diversidade: o Pop participa de programas de introdução de pessoas em vulnerabilidade no mercado de trabalho, contratando mulheres vítimas de violência doméstica, egressos dos sistema prisional, migrantes e pessoas trans.

Os funcionários têm benefícios como convênio médico, licença paternidade estendida, atendimento psicológico e empréstimo a juro zero. Segundo o gerente de delivery do Pop, Gustavo Silva de Santana, 21, o plano de saúde da empresa é um dos aspectos mais valorizados pelos trabalhadores. No caso dele, possibilitou retomar o tratamento de um problema auditivo que ele tinha deixado de acompanhar por dificuldade financeira.

Segundo Buava, essas foram conquistas comemoradas pelos sócios. A mais recente foi assinar a carteira de todos os entregadores que atuam no delivery próprio do restaurante - acessível por telefone, aplicativo ou site.

Para os entregadores do iFood e outros apps, que não têm alimentação garantida pela plataforma, o restaurante doa em média 70 marmitas por dia.

Desde sua criação, uma fração dos lucros do Pop também é usada para colaborar com o Santuário Terra dos Bichos, ONG que ganhou notoriedade em 2015 por acolher os porcos sobreviventes do tombamento de uma carreta no Rodoanel.

O restaurante estima anualmente seu impacto ambiental e social e calcula que, em 2021, sua comida teria contribuído para salvar 290.412 animais. Mais de 22 mil refeições foram doadas para entregadores e pessoas em situação de vulnerabilidade no mesmo ano. Em paralelo a esse lado social, Buava enfatiza que o restaurante é e precisa ser competitivo: "O melhor que a gente pode fazer pelos animais é o Pop prosperar."

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