Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Uma mistura de ódio, frustração e dor
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Primeiro foram algumas boas ideias que não anotei, um punhado de referências que sabia dizer de cabeça. Depois vieram a paciência para os livros longos demais, a curiosidade para filmes que duram mais do que uma hora e meia e a última lista de músicas que gostei de saber que existia, mas que não parei para ouvir até hoje. Um a um, desinteresse. E um absoluto cansaço sobre o todo.
Mas uma coisa é poder se desinteressar por isso ou aquilo, poder escolher se desligar e respirar um pouco de tempos em tempos. A outra é não poder fazer isso, a realidade da grande maioria de nós. E a outra é nunca poder ter o direito de fazer isso, sobre a maioria de nós.
Outro dia, numa reunião, uma pessoa disse que o Brasil de 2021 nos obrigava ao cansaço. Tem dias, ao desespero. Por algumas horas, à desesperança. Quando perguntada, naquele clássico de começo de reunião, "e aí como você está", uma amiga falou assim: "brasileira". Uma nacionalidade para um estado de espírito, num mundo em pandemia. No país sem a mais vaga ideia de como sair dela.
Soube que a Organização Mundial da Saúde (OMS) já reconheceu o fenômeno generalizado de cansaço: fadiga pandêmica. Deve ser isso mesmo que a gente anda sentindo, mas também é uma mistura de ódio, frustração e dor, como já cantou uma vez os Racionais MC's.
Quem não morreu de covid-19, e conseguiu driblar o desespero da fome, ainda corre o risco ser encontrada por uma bala perdida que acha sempre as mesmas pessoas, que moram sempre nos mesmos lugares, que são julgadas sempre com as mesmas palavras.
Numa dízima periódica de casos isolados, a gente segue fingindo que tudo é uma grande coincidência. Uma coincidência que alcança, estranhamente, apenas uma parte de nós. A história cobrará. Mas por hoje, tudo dói. E revolta.
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