Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Sobre as dores que naturalizamos no dia a dia
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Esta semana vi, na seção de entretenimento, uma entrevista com o ator Rodrigo Santoro, em que ele dizia que enquanto se preparava para fazer um personagem importante, precisou se submeter à terrível depilação a cera. E não aguentou a dor. Engraçado à primeira vista.
Lembrei na hora daquelas reportagens estrangeiras em que alguns homens têm eletrodos colocados no corpo e passam a levar choques que simulam as contrações do parto. As caras são impagáveis.
Mas enfim, onde quero chegar com isso? Coisas dolorosas, como contrações do parto, ceras depilatórias, anticoncepcionais, são colocadas para mulheres como normais e plenamente aceitáveis; para os homens, causam uma dor insuportável que os faz desistir na hora, e tornam-se situações engraçadas para quem vê. Afinal, homem não sente dor; pode até ser que julguem a atitude de Santoro como "pouco masculina", que ele deveria ter aguentado.
No meu caso, não gosto de depilação a cera, porque me dói demais e me deixa com uma coceira infeliz por várias semanas. Se eu não aguento isso, por que outra pessoa precisaria aguentar esse sofrimento, seja o ator famoso ou a menina de pele sensível?
O condicionamento social faz as mulheres sempre terem de suportar essas dores insuportáveis. A dor de uma depilação a cera, a dor dos efeitos colaterais dos anticoncepcionais... A dor da mulher nunca é levada em consideração. Tudo que é feminino é inferiorizado, inclusive sua dor, que ainda que seja igual àquela que um homem sofrerá quando passar pela mesma situação, não será notícia no jornal.
A dor não deveria ser uma coisa engraçada. Assim como a naturalização da dor feminina não deveria ser.
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