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Mari Rodrigues

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Os dramas da volta às aulas presenciais

Aloísio Maurício/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Imagem: Aloísio Maurício/Fotoarena/Estadão Conteúdo

26/03/2022 06h00

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Na semana passada falei sobre as dores e as delícias de se estar na universidade. Mas hoje só conseguirei falar de dores.

Depois de dois anos bastante difíceis, a Universidade de São Paulo (USP) voltou a ter aulas presenciais. A vida voltou ao ambiente universitário. Mas quem mais precisa ainda vai ter dificuldades.

O prédio de Letras, maior curso da universidade, já não comportava o grande número de estudantes. Um prédio provisório que acabou ficando permanente não tem a capacidade de receber com segurança todo mundo que ansiava por voltar às aulas frontais. E aí começa o drama.

Da obrigação de manter aulas remotas por duas semanas à não obtenção de salas em outros institutos para conseguir comportar todo mundo que precisa ter aulas, passando por uma pequena humilhação pública na Folha de São Paulo, a situação do curso de Letras é reflexo de uma falta de estratégia que deveria focar em quem mais precisa.

A uma semana do início das aulas, ainda estávamos discutindo como seria o retorno presencial, algo que deveria ter sido sacramentado há muito mais tempo, se tivéssemos um plano estruturado que não veio. Ora, foram dois anos em que aguentamos o pior da pandemia, e houve tempo hábil para planejar essas questões. Mas foi apenas agora, em cima da hora e com pressão estudantil, que tivemos alguma resposta.

Esses problemas se referem apenas ao curso de Letras, para o qual deixo a reflexão à direção da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP sobre os acertos e erros da estratégia de retorno presencial. Mas não são os únicos.

Uma questão que afeta a universidade como um todo e que se vê na saída do metrô e nas entradas dos restaurantes universitários, os chamados bandejões, são as imensas filas para entrar nos ônibus e para almoçar e jantar. Coisas que afetam um número grande de estudantes, que com já poucas condições de se manter na universidade e, portanto, dependentes dos bandejões, precisam esperar até mais de uma hora para se alimentar, afetando sua saúde mental e física, e mesmo prejudicando seu desempenho nas aulas.

A USP foi uma das últimas universidades a implantar cotas sociais e raciais para corrigir distorções no ingresso ao ensino superior, mas as políticas de permanência não seguiram esse maior afluxo de estudantes que mais precisam delas.

Pensar soluções para esses gargalos assistenciais envolve discussão com toda a comunidade universitária (estudantes, funcionários e docentes) e acredito que a nova reitoria deve estar aberta a essa conversa, para que a universidade mais importante da América Latina esteja à altura de seus desafios, sem deixar ninguém para trás.