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Mari Rodrigues

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Você já reconheceu o trabalho de uma pessoa trans hoje?

A atriz Mj Rodriguez - Getty Images
A atriz Mj Rodriguez Imagem: Getty Images

22/01/2022 06h00

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E aí, pessoas, sentiram minha falta na semana passada? Eu vou lhes explicar o que aconteceu ao longo do texto.

Procurei pensar numa reflexão sobre o reconhecimento dado às pessoas trans. Mas não tive tempo de escrever, pois estava eu mesma buscando o meu reconhecimento em meio à realidade do trabalho. E por esses dias não fiz mais que trabalhar, e me desgastar, e ouvir coisas, e depois ouvir elogios.

Pois bem, reservemos isso.

Na semana retrasada, houve a entrega do famoso Globo de Ouro, dado às personalidades que se destacaram no cinema e na televisão. Não entrarei em detalhes sobre as polêmicas que envolvem a premiação; estou longe de ser antenada nas coisas do cinema. Porém, ao ver a premiação de Michaela Jae Rodriguez, mulher trans, como melhor atriz de série dramática, me vieram sensações muito diferentes.

A primeira é a de que pessoas trans podem ser reconhecidas pelo seu trabalho, mas estarão sempre tendo que se provar (para si e para os outros) mais que as pessoas cis. Ninguém questiona o trabalho de uma pessoa cis; quando se trata de uma pessoa trans, os comentários vão desde o uso da pessoa como token para "aliviar a barra" de pessoas cis que sempre fizeram tudo errado até uma bizarra "pressão identitária" para incluir "à força" esses grupos marginalizados. As qualidades da pessoa nunca são levadas em conta.

A segunda é a de que fatos como uma premiação aparentemente comum para os artistas virarem uma notícia revolucionária mostram o quanto a relevância jornalística dada às pessoas trans ainda é distorcida. Mortes de pessoas trans divulgadas em programas policiais de péssima qualidade não levantam nenhuma discussão; pessoas trans sendo premiadas no cinema, nos esportes, no mundo corporativo, movem paixões desarrazoadas.

E quanto a mim? Estou muito bem, obrigada! Trabalho bem e sou reconhecida por isso, sem precisar aparecer na capa de um jornal, como deveria ser. Ainda assim, apareço na capa do jornal (ou no caso, do UOL) porque tenho uma história interessante a contar para o público, independentemente de ser trans ou cis ou alface.