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Eduardo Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que o submersível importa e os refugiados não?

O submersível Titan, da OceanGate - Reprodução / OceanGate
O submersível Titan, da OceanGate Imagem: Reprodução / OceanGate

Colunista de Ecoa, no Rio de Janeiro (RJ)

21/06/2023 10h57

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Há quase três dias, o mundo volta seu olhar para o Oceano Atlântico. O motivo? O desaparecimento do submersível operado pela OceanGate, que faz uma expedição ''turística'' com objetivo de visitar os destroços do navio Titanic, naufragado em 1912 em acidente que tirou a vida de mais de 1.500 pessoas.

Dentro do que seria este ''aquário'', cinco tripulantes. Mas não apenas ''cinco tripulantes''. São eles: Hamish Harding, bilionário britânico de 59 anos; Shahzada Dawood, empresário de 48 anos e seu filho, Suleman; Stockton Rush, de 62 anos e CEO da própria OceanGate, que opera a aventura e o capitão Paul-Henry Nargeolet, de 77 anos, e um dos principais especialistas mundiais do tema sobre os destroços do Titanic.

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Imagem: Reprodução

Não assustam as características que fazem dessa ocasião mais um exemplo nítido da desigualdade que assombra o mundo, momento em que ideias como a visita a um navio esquecido no mar sejam valiosas, tal qual o desejo de colonizar o planeta Marte, sonho ambicioso do bilionário Elon Musk. O dinheiro gasto nessas "viagens colonizadoras" é privado, claro, e seus bilionários têm a liberdade de se fazer o que se pensa e como se quer, mas esses exemplos expressam a falta de aptidão de quem tem, um deslocamento da realidade que inviabiliza causas que deveriam tornar o mundo mais viável a quem pouco tem.

O valor pago ao passeio em busca do navio perdido, que dura oito dias, é de cerca de US$ 250 mil, o que para nossa moeda, o real, chega ao patamar de R$ 1,19 milhão. O montante não resolve todos os problemas que violentam as populações mais pobres, como a fome, a falta de acesso à saúde, bem como o acesso à educação. Mas...

''Não sou fiscal de gastos alheios e penso que cada qual investe o dinheiro privado, da forma que lhe convém, especialmente porque o sistema capitalista e a sociedade do consumo assim caminham, por escolha ou por imposição. Mas é inevitável, diante das imagens recentes, de corpos sendo resgatados, no mar Egeu, não confrontar os desejos, as prioridades e as inquietações humanas'', resumiu a advogada e escritora Andréa Pachá, em post no Instagram, fazendo referência aos milhares de refugiados invisíveis que buscam abrigo na União Europeia.

À Andréa e a quem mais sentir, choca a profundidade e relevância dada a momentos como esses, em que a comunicação tende a visibilizar atitudes insanas em detrimento de outras notícias, como por exemplo, o genocídio que acomete os refugiados em alto mar.

No fim, só nos cabe perguntar: ''Quantos refugiados lançados ao mar, por desespero, seriam resgatados, com bilhões lançados ao mar, por frivolidade, no submersível desaparecido?''

A vida não é justa.

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