Custava menos? Montadoras reduzem preços em até 33% para encarar chineses

O fortalecimento da presença de fabricantes chineses no mercado automotivo brasileiro tem forçado marcas instaladas no país a baixar os seus preços, especialmente no campo dos elétricos. O exemplo mais recente, mas não único, é o do Renault Kwid E-Tech, modelo de emissões zero que passou a custar R$ 99.990 - 33% a menos face os R$ 149.990 cobrados na época do seu lançamento, em 2022. Peugeot, Caoa Chery e JAC também derrubaram valores recentemente para encarar os asiáticos.

A pergunta que fica é: como as montadoras conseguem dar um abatimento tão grande? UOL Carros conversou com especialistas para buscar as respostas.

"Neste caso específico, estamos observando o reflexo da forte concorrência em ação. Nos primeiros anos dos veículos elétricos no Brasil, a quantidade de opções era bastante pequena, ou seja, praticamente não havia qualquer impulso forçando preços para baixo. Porém, com a chegada de produtos eletrificados em maior número e montadoras com apetite para se posicionar no mercado, este impulso apareceu rapidamente", explica Ricardo Bacellar, Conselheiro Consultivo para a indústria da mobilidade.

Um dos pontos mais citados passa pelas velhas regras da economia. "Qualquer mercado, automotivo ou não, é regido essencialmente por três forças que interagem entre si: demanda, oferta e concorrência. Enquanto as duas primeiras se equilibram (demanda maior que oferta = aumento de preço e vice-versa), a terceira dá o tom do mercado-alvo (concorrência maior = redução de preço e vice-versa)", completa o especialista.

Segundo Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da Jato Dynamics do Brasil, equilibrar os valores com os dos carros a combustão ajuda a ganhar mercado - o que tem funcionado com os chineses.

"É de conhecimento que a grande massa dos veículos nacionais é vendida entre a faixa de preços de R$ 90 mil a R$ 110 mil. Assim, conseguir posicionar seu veículo nesta faixa te proporciona ganho em escala", analisa

Além disso, é difícil competir com o ganho de escala dos chineses. No ano passado, foram cerca de 30 milhões de veículos vendidos no país asiático, patamar que baixa os custos e, assim, permite repassar preços menores ao consumidor, só que com margens ainda maiores. Isso vale também para os importadores.

A estratégia de mercado também varia de modelo para modelo, pois números menores de vendas costumam ser aplicados em carros que não estão vendendo tanto. Considerado um produto de nicho, o Renault Kwid E-Tech teve apenas 321 unidades emplacadas no ano passado, segundo a Associação Brasileira do Carro Elétrico (ABVE). Como parâmetro de comparação, o BYD Dolphin teve 6.812 carros comercializados.

"É preferível ter prejuízo e sair com o veículo do que amargar estoque quando virar ano-modelo", reforça Cassio Pagliarini, sócio da consultora Bright Consulting.

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Quanto à margem de lucro, ela também varia muito, o que dificulta calcular uma média comum do mercado. "Varia demais. Varia conforme seu estoque, aceitabilidade do modelo, idade do modelo, entre tantos outros fatores. Entre 6 e 11% são índices observados, mas podem chegar a mais de 20% em casos atípicos em que se faz necessário limpar o estoque de um determinado carro, por exemplo", explica Milad.

A questão é que importadores podem ter margens ainda maiores e, com isso, oferecer valores mais convidativos. "A margem típica dos importadores é de 25 a 30%, pode ser mais, mas o normal é esse. Você pega custo de importação, frete e todos os impostos, e joga a margem a mais nesse preço", projeta Cassio. O especialista ainda lembra que essas margens podem diminuir com a chegada de novos lotes.

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