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Hora do adeus: quando você deve parar de gastar dinheiro com seu carro

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Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

08/12/2022 04h00

Quem tem carro sabe (ou deveria saber) que é preciso cuidá-lo com muito carinho. Esse é o motivo da importância da manutenção sempre acompanhar a vida útil do automóvel. Já abordamos o assunto diversas vezes, como também explicamos os motivos pelos quais as economias porcas costumam ser tão ruins quanto simplesmente ignorar os consertos necessários.

Mas, convenhamos, tem vezes que é melhor jogar a toalha de vez. Há vários exemplos de quando não dá mais para continuar "injetando" dinheiro no carro. Um deles é quando o preço do conserto é tão caro, ante o valor do veículo, que a manutenção não compensa.

Outro é quando vale a pena arrumar, mas não continuar usando o carro e colocá-lo à venda o quanto antes (para não arriscar quebrar mais alguma coisa).

Entrevistamos Alexandre Barros Pinho, proprietário da oficina mecânica e funilaria WTC Express, para discutirmos mais detalhes de como esses dilemas devem ser encarados e quais são as melhores decisões a se tomar.

Para abordarmos o assunto da forma mais abrangente, fizemos algumas suposições. Entre elas, quando o carro é desvalorizado, mas sua manutenção é cara; outra é do que é valorizado e caro para arrumar; e também dos carros nacionais de forma geral (tanto os mais novos, quanto os mais velhos). Antes de mergulhar em cada uma dessas searas, Alexandre comenta algo que ajuda a balizar essa discussão:

"A forma mais geral de pensar sobre esse tema é entender que há uma espécie de queda mais acentuada na curva de preços quando os carros atingem algo entre 120 mil km e 150 mil km rodados. Antes dessa faixa de quilometragem, a intensidade da depreciação costuma ser menor, com exceção à imediata desvalorização da retirada de um zero km da concessionária", afirma.

Segundo o especialista, isso se deve pelo fato de que o mercado interpreta que, depois de o hodômetro atingir esses patamares, o carro passa a representar maior risco de quebras. Mas ele também ressalta: "apesar disso, esse entendimento não representa nada ao lado da procedência. Se o veículo foi bem mantido, ele pode ter rodado muito, mas será muito melhor do que um malcuidado com baixa quilometragem".

Alexandre passa a comentar sobre o que compensa ou não: "carro é um objeto de valor e costuma preservar melhor o preço quando está em ordem. Ainda que custe para arrumá-lo, o que se gasta na manutenção é, na maioria das vezes, menos do que o que se perde na depreciação de um carro com avarias".

"Por outro lado, tem casos em que nem a manutenção dá jeito. A conta é sempre o custo do reparo vs o valor que se recupera. Se o carro é muito depreciado em relação ao custo das suas peças e da mão-de-obra, melhor não consertar e vender como sucata. Assim o problema será resolvido da melhor forma".

Carro quebrado - Divulgação - Divulgação
Carro quebrado
Imagem: Divulgação

"Podemos usar de exemplo os carros de luxo abaixo dos R$ 50 mil ou R$ 60 mil. Um problema que ocorre no motor ou quando é preciso comprar componentes de funilaria pode facilmente chegar perto do valor de mercado. Uma saída é usar peças de desmanche (legalizados), mas, nesses casos, nunca abandonamos a hipótese de vender o carro no estado em que se encontrar".

"Quando são carros de luxo caros, a diferença entre o custo da manutenção e do valor de mercado fica maior. Assim, vale a pena deixar arrumado. Vendê-los com pendências sempre descontará bem mais o valor", complementa.

Já quanto aos nacionais: "para repará-los, os custos são bem mais baixos, então quase sempre é mais importante não deixar nada em aberto na hora de vender. Isso se aplica à duas hipóteses: tanto com o carro velho e barato, quanto com o seminovo".

"Quando falamos daqueles automóveis abaixo dos R$ 15 mil ou R$ 12 mil, como é difícil garantir que será possível encontrar um bom substituto na mesma faixa de preço, a manutenção costuma valer a pena quando o dono conhece o carro que tem. Assim, é possível assegurar que, ao arrumar um defeito, poderá continuar sendo utilizado (ainda que, percentualmente, o reparo represente muito do valor do veículo)".

"Quanto aos seminovos, a importância de se preservar o valor do carro volta a ser mais relevante. Logo, entra aquilo que comentamos sobre a quilometragem e a necessidade de estar em bom estado. Caso contrário, o cliente terá que completar com uma quantia adicional do bolso para trocar de automóvel. Depois da pandemia, tem sido mais difícil encontrar pessoas que topem vender os seus carros", conclui Alexandre.

Sobre a pandemia e a redução da quantidade de carros produzida, o especialista comenta que isso levou a um fenômeno dentro das oficinas, que se associa com o desinteresse do cliente pela troca de carro.

"Os clientes estão cada vez mais dispostos a gastar mais nos reparos, para prolongar a vida útil do carro e, assim, ele não precisar ser trocado. Junto a isso, a média de quilometragem dos modelos que encontramos nos classificados também está cada vez mais alta. Como consequência, é inevitável que os menos rodados passem a valer cada vez mais. Fica cada vez mais difícil trocar o carro por um usado com baixa km", diz.

Pode-se notar que a manutenção ainda é a melhor saída para se preservar o valor do automóvel, na maior parte dos casos. A demora para vender um carro com avarias e o quanto o mercado desconta o valor em razão delas, geralmente, são mais prejudiciais que o valor gasto nos reparos.

Mas não podemos ignorar a dor de cabeça de muitos que vivem esse dilema. Tem horas que não há mesmo o que fazer. Se nem comprar peças usadas (que é o último recurso que a manutenção oferece) vai ajudar a manter o valor do carro, nada mais irá. É aí que talvez tenha chegado a hora de dizer adeus.

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