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Great Wall e nova 'invasão' chinesa no Brasil: o que esperar delas agora

Great Wall Haval H6 - Divulgação
Great Wall Haval H6 Imagem: Divulgação

José Antonio Leme

do UOL, em São Paulo (SP)

19/08/2021 04h00

O anúncio da fábrica da Great Wall, que comprou o espólio da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP), no Brasil marca o fim de uma década de especulações em relação à chegada da marca chinesa ao Brasil.

E diferentemente do que tanto se ventilou, a marca chegou aqui com as "próprias pernas" e não por meio de um importador brasileiro ou um parceiro comercial.

Mas o momento em que a marca chega, que é marcado pela saída da Mercedes-Benz na fabricação de carros de passeio no País, também serve com ponto de partida para a pergunta: estamos vendo uma segunda "invasão" chinesa no Brasil?

A pergunta tem respostas diferentes, mas que acabam levando para o caminho de que os chineses estão aproveitando oportunidades e ainda acreditam no mercado brasileiro.

O diretor da ADK Automotive, Paulo Roberto Garbossa, vê o movimento não como uma segunda invasão, mas como uma continuidade do que já tinha-se estabelecido aqui.

"As marcas chinesas apostaram no Brasil cerca de uma década atrás já e se nem todas conseguiram se estabelecer, outras ficaram e cresceram", diz.

O CMO, da Bright Consulting, Cassio Pagliarini, acredita que é sim o início de uma segunda "invasão". "Quando vieram para cá da primeira vez, as marcas apostaram em parceiros locais ou representações. Agora, elas estão vindo com uma subsidiária com apoio direto da matriz", afirma.

Ele pontua que algumas das que vieram primeiro não conseguiram se estabelecer porque "faltou o toque de alguém muito experiente no varejo brasileiro" para dar andamento a operação.

"As chinesas têm um interesse muito grande no mercado brasileiro num mercado que hoje tem 2,5 milhões, mas se voltar a crescer pode chegar a 4 milhões de unidades (automóveis e comerciais leves)", afirma Pagliarini.

Isso não fica restrito apenas a chegada da Great Wall, que já está estabelecidas em alguns mercados ao redor do Brasil e deixou claro em suas intenções de que quer usar o País como base para desenvolvimentos e exportações para os países vizinhos em seu comunicado.

A Caoa Chery está em um novo momento, crescendo dentro do mercado e com produtos mais tecnológicos, muito diferente da empresa que tentou emplacar o compacto QQ e disputar espaço com as marcas que já estavam aqui no segmento de carros, até então, populares.

O grupo fundado por Carlos Alberto de Oliveira Andrade também está terminando a instalação da divisão de luxo no País, a Exeed, que terá carros com a mesma base dos SUVs da Caoa Chery, mas acabamento superior e tecnologias mais avançadas embarcadas.

"Eles [Great Wall] devem começar em um regime de menor escala e com SUVs e picapes, que são segmentos que têm possibilidade de rentabilidade e uma margem maior", comenta Pagliarini.

A expectativa é que a empresa chinesa comece sua produção no contexto de CKD (completely knockdown), na qual chegam kits de fora da China pré-montados e que serão finalizados aqui, enquanto desenvolve parceiros locais para produção de componentes e deixa a fábrica completamente pronta.

Em termos de design e qualidade, eles já chegaram a um nível que os coloca como competidores páreos para as marcas mais tradicionais do País e o movimento é o mesmo que ocorreu com as sul-coreanas, como a Hyundai, que chegaram com carros com pouca percepção de mercado e depois evoluíram muito em um curto espaço de tempo.

Cassio acredita que o próximo passo dessa invasão é a chegada de modelos eletrificados das marcas chinesas. "Os chineses tem o conhecimento e já conseguiram reduzir o custo da produção em escala de híbridos, híbridos plug-in e até elétricos."

Antes dos 100% elétricos, os híbridos devem desembarcar por aqui. Vale lembrar que em meio a recessão da indústria por causa da pandemia, os chineses venderam mais de 1,2 milhão de carros elétricos para o mercado local em 2020.

A maior parte das fábricas de baterias estão lá, o que pode ajudar a tornar os carros mais competitivos, mesmo que venham importados com o câmbio nas alturas.

"Os carros eletrificados tem imposto de importação que vai de 0% a 7% dependendo do tipo e do modelo", isso pode contribuir para que a 'invasão' agora já seja prevendo isso" afirma.

O processo é muito do que aconteceu com as próprias marcas de luxo, que tem investido forte em oferecer elétricos ou versões híbridas, como a própria Mercedes-Benz, Volvo e Audi, tornando mais lucrativo importar do que tentar produzir aqui.