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Tempra 'mais valioso do mundo' resgatou Senna em 93 e quase virou sucata

Tempra que "deu carona" a Senna após última vitória no Brasil foi achado descaracterizado no interior de SP e passou por reforma - Arquivo pessoal
Tempra que 'deu carona' a Senna após última vitória no Brasil foi achado descaracterizado no interior de SP e passou por reforma Imagem: Arquivo pessoal

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

30/03/2021 04h00

A última vitória de Ayrton Senna em um GP do Brasil completou 28 anos no domingo passado. Disputada no dia 28 de março de 1993 sob chuva, a prova no Autódromo de Interlagos até hoje é lembrada pela invasão da torcida, que tomou a pista após a bandeirada final e carregou o piloto nos braços.

Na ocasião, o tricampeão mundial da Fórmula 1 foi "resgatado" do meio da multidão pelo safety car da prova, um Fiat Tempra cor de vinho.

Imagens do piloto acenando para a plateia, sentado na janela do carro e segurando a bandeira brasileira, correram o mundo. Mas que fim levou o Tempra desse momento histórico?

Esse era o mesmo questionamento do empresário Ivan Gusmão, de 54 anos. Fã "de carteirinha" de Senna, ele procurou a relíquia durante quatro anos até encontrá-la largada em São Roque, no interior paulista, em dezembro de 2017.

Na época, Gusmão, que reside em Itabuna (BA), já sabia o chassi do Tempra que tanto queria - segundo ele, a sequência de números e letras havia sido informada anteriormente por um ex-executivo da Fiat.

Senna Tempra Fiat Safety Car GP Brasil 1993 - Jorge Araujo/Folha Imagem - Jorge Araujo/Folha Imagem
Senna acena em Fiat Tempra após multidão invadir pista de Interlagos para festejar vitória há 28 anos
Imagem: Jorge Araujo/Folha Imagem

"Na véspera do Natal, deparei-me com o anúncio desse carro e as placas FBM-1001 chamaram a minha a atenção, embora o Tempra não estivesse ainda emplacado durante a prova. Em janeiro, entrei em contato com o anunciante e o chassi bateu. Na hora, deu uma tremedeira e comecei a suar frio", relembra.

Acompanhado de um mecânico, pouco depois empresário foi até São Roque e fechou negócio por apenas R$ 2,5 mil.

"O vendedor não sabia que aquele era o safety car do GP do Brasil. O Tempra estava desgastado e descaracterizado, exibindo pintura queimada. O então proprietário me disse que iria vender o veículo para um desmanche, caso não fechássemos negócio. Gastei mais R$ 7 mil apenas para deixar a documentação em dia".

Fiat Tempra Safety Car Senna detonado - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Tempra estava em condições precárias ao ser resgatado; dono diz que chassi comprova originalidade
Imagem: Arquivo pessoal

De acordo com o empresário, antes mesmo de iniciar a reforma que deixaria o sedã igual ao dia da corrida, ele recebeu oferta de R$ 200 mil, recusada.

Gusmão também diz que, três meses após a restauração, concluída em julho de 2018, uma casa de leilões da Inglaterra se propôs a pagar aproximadamente R$ 2 milhões pelo carro - o que, provavelmente, o transformaria no Tempra mais caro do mundo.

"Não assinei nenhum contrato, mas a venda está apalavrada. Antes disso, porém, espero que o safety car volte a acelerar em Interlagos em um Grande Prêmio do Brasil, algo que ainda não consegui realizar", diz Ivan Gusmão. Ele ainda planeja lançar um livro, já "quase pronto", sobre a saga envolvendo a compra e a reforma do Tempra Ouro 16V 1993 icônico.

No dia 1º de maio de 2019, o Fiat cor de vinho foi exposto no autódromo paulista durante o Senna Day, evento que prestou homenagem ao piloto na ocasião dos 25 anos de sua morte. Teve até a visita de Leonardo Senna, irmão de Ayrton, mas naquela data o antigo Fiat não foi para a pista.

Gusmão posa com Leonardo Senna, irmão de Ayrton, durante o Senna Day de 2019 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Ivan Gusmão posa com Leonardo Senna, irmão de Ayrton, durante o Senna Day de 2019
Imagem: Arquivo pessoal

O empresário afirma ter descoberto, durante suas investigações, que o carro foi adquirido logo após a vitória de Senna por uma concessionária Fiat de Santo André (SP), onde recebeu as placas que até hoje ostenta antes de ser vendido e "desaparecer". Os caracteres FBM-1001, afirma, não têm nada de aleatórios.

"As letras correspondem, respectivamente, a Fiat, Brasil e McLaren, enquanto o número 100 é referente ao centésimo GP disputado por Senna pela equipe britânica, justamente em Interlagos, há 28 anos. Já o último algarismo [1] significa a vitória dele naquela prova", explica.

Proposta de Luciano Huck

Fiat Tempra safety car durante a restauração, realizada em Itabuna, na Bahia, e que levou 35 dias - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Fiat Tempra safety car durante a restauração, realizada em Itabuna, na Bahia, e que levou 35 dias
Imagem: Arquivo pessoal

Entusiasta de tudo o que envolve a carreira de Ayrton Senna, Gusmão relata que gastou ao todo R$ 50 mil para recuperar o safety car.

Tudo foi feito em uma oficina de Itabuna. Ante disso, o entusiasta diz ter negado proposta para reformar o Tempra no quadro Lata Velha, do programa "Caldeirão do Huck" (TV Globo): "Preferi valorizar o trabalho da minha terra".

A restauração incluiu funilaria e pintura e instalação de peças novas no lugar daquelas que faltavam ou estavam danificadas.

Pit-stop: Tempra faz parada para reabastecimento; giroflex traseiros foram feitos sob encomenda - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Pit-stop: Tempra faz parada para reabastecimento; giroflex traseiros foram feitos sob encomenda
Imagem: Arquivo pessoal

A partir daí, começou toda a caracterização para deixá-lo "exatamente" com o visual do Grande Prêmio, com base em vídeos e fotos da época - incluindo os adesivos na carroceria e os três "giroflex" - um no teto e dois na tampa do porta-malas.

"O antigo dono 'atualizou' a dianteira com o visual de um Tempra mais recente, portanto, precisei refazê-la inteira. Também levei algum tempo para achar os pneus originais e tive de mandar fazer em Salvador [BA] os sinalizadores luminosos da parte traseira".

Fiat Tempra ao lado de Fuscas personalizados com as cores dos carros de Senna na F-1 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Fiat Tempra ao lado de Fuscas personalizados com as cores dos carros de Senna na F-1
Imagem: Arquivo pessoal

Até a credencial afixada no vidro, que liberou a entrada do Fiat na pista em 1993, Gusmão reproduziu.

Além do Tempra, o empresário personalizou sua coleção de VW Fusca com adesivos inspirados nas equipes de Fórmula 1 de Ayrton Senna - Toleman, Lotus, McLaren e Williams. Tem até um com as cores da Ferrari, escuderia que o brasileiro nunca defendeu, mas com a qual chegou a tratar de uma eventual contratação.

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