Ford Ranger Sport quer conquistar "boyzinhos"; consumo atrapalha
Depois de mais de três anos fora do mercado, eis que ressurge a Ford Ranger Sport. Baseada na versão XLS com cabine simples, a nova geração da picape esportivada cobra R$ 67.990, preço de um sedã médio de entrada, por um conjunto mais rústico e com menos conforto. São R$ 6 mil a mais que a configuração XLS.
Seu mote é conquistar um comprador de picape média de perfil mais jovem e urbano, que não precise da autonomia do motor a diesel, nem da tração 4x4. Só que o câmbio automático também ficou fora do pacote, que tem apenas transmissão manual de cinco marchas. Isso é ponto negativo na opinião de UOL Carros, justamente pela proposta apresentada: rodar na cidade, com conforto, algum status, sem preocupação com terrenos off-road.
É curioso pensar no público ideal para este tipo de veículo, já que a cabine comporta apenas duas pessoas e mais nada. Ou temos um solteirão, que não curte sedãs, mas precisa de muito espaço para sua bagagem pessoal, ou temos um casal sem filhos. E só. Não há espaço extra na cabine sequer para uma mochila, que ficaria totalmente amassada no vão atrás dos bancos.
Já o espaço na caçamba é para ninguém botar defeito e suportaria até um carro em cima, em termos de peso -- a capacidade total de carga é de 1.455 quilos, segundo a Ford. Quem quiser levar moto, bicicleta, barraca ou pranchas de surf -- ou todos estes juntos --, terá espaço. Quem não quiser, terá mais de dois metros (em uma carroceria de 5,35 m) praticamente inúteis.
De uma forma ou de outra, o porte da picape complica a vida na cidade -- para quem pensou em trocar a Stradinha ou Saveirinho por algo maior. Na Ranger Sport, são 3,22 m de entre-eixos, 2,16 m de largura e 1,80 m de altura. Assim, as faixas se tornam muito estreitas e qualquer vaga de estacionamento é pequena -- algo comum em qualquer picape média.
O problema é que não há, nem como opcional, câmera de ré e sensor de estacionamento traseiro.
NO INTERIOR...
Por dentro a picape também tropeça em alguns pontos: É um painel ajeitado, intuitivo e sem rebarbas, mas cheio de plástico duro e sem nada de mais. O acabamento está mais para EcoSport que para Focus, por exemplo.
Há pontos a melhorar: a entrada USB fica escondida sob o rádio (se ninguém te mostrar, você pode achar que ela não existe ou passar alguns minutos procurando) e os bancos usam tecido muito simples. E o ar-condicionado é comum, analógico e com zona única de resfriamento.
Mas há elogios também: o volante multifuncional é fácil de mexer, o sistema multimídia (sem GPS) tem fácil entendimento e a qualidade do som (utilizado por UOL Carros via Bluetooth de celular) impressiona.
PORTE MÉDIO?
Painel está mais para EcoSport que para Focus; problema é o espaço: cabem dois e só
Entre os itens de série estão equipamentos básicos de um carro de R$ 68 mil: os obrigatórios freios ABS (antitravamento) e airbag duplo, direção hidráulica, trio elétrico, rádio CD-Player completo (com leitor de MP3, entradas auxiliares e conexão por Bluetooth), controlador automático de velocidade, faróis de neblina, retrovisores com ajuste elétrico, computador de bordo com até sete funções e uma tela central de 4,2 polegadas (responsável por mostrar as configurações da conexão com o celular e do rádio, entre outras).
DESLIZA OU BLOQUEIA?
As rodas de 17 polegadas (265/65 R17) são calçadas por pneus de uso fora-de-strada (Pirelli Scorpion ATR) totalmente inúteis na cidade, mas que podem dar uma leve ajuda se o motorista quiser enfrentar uma lama -- algo muito improvável em um carro sem tração integral.
Outra curiosidade: há diferencial traseiro "deslizante". Nas palavras da Ford, o deslizante funciona "quase" como um diferencial blocante, que corta a tração de uma roda e envia a força para a outra em caso de atolamento.
Só que controles de tração e estabilidade, equipamentos de extrema importância em picapes (até pelo uso da tração traseira, que nunca vai combinar com uma rua de paralelepípedo em dias de chuva, por exemplo), passaram longe da versão Sport.
CONCORRENTES
A Ford diz que a Ranger Sport quer conquistar clientes da Chevrolet S10 LS (cabine simples) e até das versões mais caras de Fiat Strada e Volkswagen Saveiro.
Status e estilo para isso a picape da Ford tem. De fato, o modelo oferece nível de equipamentos superior e design -- em nossa opinião -- mais moderno em relação aos rivais citados. A S10 custa a partir de R$ 65.890, enquanto a Strada e a Saveiro podem chegar a R$ 68 mil e R$ 55 mil, respectivamente, nas versões "completaças".
Com cabine simples, cabe uma vida na caçamba... ou 1.455 quilos. Mas essa lanterna...
É RAÇA FORTE?
Não. Os 1.745 quilos (em ordem de marcha) da nova Ranger Sport são o pior inimigo do motor Duratec 2.5 Flex, que pode render até 173 cavalos e 24,8 kgfm de torque com etanol. Falta força, principalmente em subidas e/ou retomadas de velocidade.
Quem vira amigo do dono da Ranger Sport é o frentista, principalmente se o combustível utilizado for etanol. UOL Carros rodou cerca de 50 quilômetros com a picape e gastou 1/4 do tanque (são 80 litros, de acordo com a Ford). Isso mesmo: 20 litros para rodar 50 quilômetros, ou 2,5 km/litro. A Ford não divulga dados de consumo e o Inmetro ainda não possui dados oficiais da Ranger. Para consultar a ficha técnica do modelo, clique aqui.
Na prática, acima de 100 km/h, a Ranger balança demais (característica comum de picapes médias), enquanto os bancos não seguram quase nada os ocupantes em uma curva mais fechada. E há ainda o ruído que invade a cabine de forma exagerada.
O resultado é um desempenho razoável para a cidade, onde não se passa da terceira marcha, ainda que sem o conforto esperado para uma opção que se vende como "upgrade" para um motorista urbano. Fora dela, prepare-se para a trivialidade de rodar perto dos caminhões.
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