Carros que falam, enxergam no escuro e andam sozinhos invadem CES 2014
O primeiro grande evento automotivo do ano, historicamente, costumava ser o Salão de Detroit, nos Estados Unidos, abrindo o calendário de novidades das montadoras a cada mês de janeiro. Costumava. Ainda que com volume menor, a cidade de Las Vegas e sua CES (a Feira Internacional de Tecnologia) vem sendo invadida pelos carros a cada ano.
O primeiro motivo para a mudança do foco de atenção está no calendário: a CES é realizada antes -- a edição 2014 abriu suas portas nesta terça-feira (7) e vai até o dia 10, enquanto a edição deste ano do Salão de Detroit começa no dia 13 para a imprensa especializada e será aberto ao público de 18 a 26 de janeiro. O segundo está no público, mais jovem e antenado em novidades que pipocam não apenas em celulares, videogames, computadores e eletrônicos em geral, mas também nos carros.
Se em 2013 a novidade era um carro que estacionava sozinho, sem a ação do condutor, em 2014 o rol se ampliou para carros cada vez mais integrados, conectados e "independentes", muito próximos do que nos acostumamos a ver em filmes de ficção científica e nos livros de Isaac Asimov (criador das chamadas "leis da robótica", que definiam as regras para máquinas autônomas).
Cada uma das novidades de montadoras expostas na CES 2014 podem, individualmente, falar sozinhos, com o motorista ou com outros carros (sistemas de comunicação integrados), enxergar no escuro (faróis de raio laser) e até andar sozinhos (sistemas de câmera e sensores que começaram que ser mostrados no último ano pela Mercedes-Benz, mas que agora também surgem em desenvolvimento paralelo da Audi, da Nissan, da Toyota e também de grupos como Google e centros de pesquisa de faculdades americanas).
Veja algumas atrações:
Rupert Stadler, presidente da Audi, usa tecnologia que parece ter vindo do cinema.
+ Fabricante: Audi e BMW.
+ Origem: Alemanha.
+ Novidades: luz laser e direção autônoma.
+ Objetivos: a Audi levou dois carros já conhecidos para mostra duas novidades. O Audi A8 usado em 2013 como "cobaia" do sistema que balizava o carro sem ação do motorista voltou com tecnologia aprimorada: agora muda a trajetória e até segue por quilômetros sem que o condutor interfira. Trata-se de uma resposta ao sistema da rival Mercedes-Benz, que promete colocar nas ruas um Classe S capaz de dispensar o motorista até o ano de 2020. Curiosamente, a tecnologia também é mostrada na CES por outra alemã, a BMW.
A grande atração da Audi, porém, é o cupê esportivo Sport Quattro, já visto em Frankfurt. Desta vez, o foco está no conjunto óptico, literalmente: os faróis são reforçados por raio laser, usado como luz alta, em alternativa a lâmpadas de xênon ou mesmo a LEDs. Apesar de caro, o sistema é mais eficiente e permite que se enxergue o facho por até 500 metros (a luz de LEDs se estende por cerca de 200 metros), quase sem perder intensidade luminosa. É o bastante, por exemplo, para ver e ser visto em situações de neblina extrema ou sob a fumaça de um incêncio às margens da pista.
A Audi não revelou valores, mas a BMW, que outra vez mostra o mesmo sistema, cobra 120 mil euros (R$ 390 mil, atualmente) pelo elétrico esportivo i8 com este tipo de farol. Além do i8, o i3 está disponível na CES a quem quiser fazer um test-drive a bordo do pequeno elétrico.
Monovolume Ford C-Max Solar Energi é conceito de híbrido que usa a luz solar
+ Fabricante: Ford.
+ Origem: EUA.
+ Novidades: luz solar e conectividade total com celular, com comando por voz.
+ Objetivos: a montadora americana tem duas apostas, um que atrai olhares, outro que exige atenção para ser compreendido. o monovolume C-Max Solar Energi é um conceito híbrido que se diferencia do que já existe no mercado por oferecer opção de recarga das baterias com uso da energia solar. Sim, a ideia é velha e imperfeita. Mas sua retomada parece interessante.
Este C-Max une um motor a gasolina (2.0, com câmbio CVT) a outro elétrico para gerar um total de 182 cavalos. O motor elétrico e suas baterias são recarregados em tomadas convencionais (no ciclo de sempre, em torno de 8 horas) ou, a novidade, através do painel solar no teto do carro. O processo solar é demorado, mas a Ford se associou ao Georgia Tech e à empresa Sun Power para criar uma espécie de telhado que funciona como lupa (que pode ser montado no estacionamento de casa, por exemplo) e amplia a eficiência da recarga.
A autonomia prometida é de 1.000 quilômetro no modo híbrido, com alcance de 33 km no modo puramente elétrico. O C-Max Solar não tem preço definido, mas sua versão "convencional", que se carrega só na tomada, é vendida a 32.920 dólares (R$ 78 mil em 7 de janeiro).
Já o Mustang 2015 mostra o Sync Applink. Além de comandos por voz para controlar o sistema multimídia (o EcoSport brasileiro faz isso), o Applink permite que o motorista conecte seu celular e comande todo os aplicativos falando com o carro. O sistema funcionará totalmente em novos modelos (o novo Ka, por exemplo), mas também estará disponível nos antigos, por atualização.
Apresentado em dezembro, nova geração do Mustang mostra evolução do sistema Sync.
Hyundai vai deixar novo Genesis conetado ao celular ou aos óculos inteligentes do Google.
+ Fabricante: Hyundai e Kia.
+ Origem: Coreia do Sul.
+ Novidades: conectividade total e interação com Google Glass.
+ Objetivo: a Hyundai havia apresentado "esquecido a inovação" ao apresentar a nova geração de seu sedã grande Genesis, em outubro. Pois ela se recuperou agora, na CES 2014. O modelo aparece na feira ostentando o novo Bluelink: trata-se da atualização do sistema multimídia BlueNav que existe no brasileiro HB20, por exemplo.
O BlueNav é uma tela sensível ao toque com rádio e conexão USB, Bluetooth e GPS. Já o novo Bluelink amplia tudo isso ao permitir que o condutor controle não apenas som e telefonia, mas até funções do carro (ligue o motor, acione ar-condicionado e programe uma rota no GPS) na tela do celular ou até mesmo no Google Glass, o óculos inteligente da gigante americana, que ainda está em testes, mas promete agitar o mercado tanto quanto o primeiro iPhone.
A subsidiária Kia aposta no UVO, corruptela para "Your Voice" (sua voz, em inglês), sistema multimídia comandado pela voz do motorista.
Mercedes Network: ligação entre celular e relógio inteligentes monitora carro à distância.
+ Fabricante: Mercedes-Benz.
+ Origem: Alemanha.
+ Novidades: conectividade.
+ Objetivo: dona de um dos projetos mais avançados de condução autônoma, a Mercedes decidiu mostrar algo mais simples na CES 2014. O Network (rede, em inglês) conecta o computador de bordo dos carros da marca ao celular inteligente (principalmente Apple iPhone) ou a relógios especiais.
Integrados, os aparelhos permitem que o condutor monitore o carro à distância e tenha controle sobre dados de combustível e do sistema de climatização, travamento das portas e até programe rotas no GPS antes de chegar à cabine.
Lembra um Fórmula 1, mas é elétrico: carro é aposta da FIA e da Renault.
+ Fabricante: Renault.
+ Origem: França.
+ Novidades: carro do tipo Fórmula com motor elétrico.
+ Objetivo: corridas de automóvel são alvo de críticos ligados ao movimento ambientalista: seriam extremamente desnecessárias por serem altamente poluidoras. Solução? Talvez uma competição com carros totalmente elétricos (já existem provas com carros híbridos).
Esta é a ideia por trás da Fórmula E, projeto com apoio da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) e conduzido pela Renault. Após ser apresentado na Alemanha e na França, o conceito SRT_01E Spark fez sua primeira demonstração pública no pátio da CES 2014. Equipado com motor elétrico, o carro tem ainda participação das empresas Spark, Dallara, McLaren, Williams e da forncedora de pneus Michelin. A volta rápida em Las Vegas coube ao piloto brasileiro Lucas di Grassi, mas ainda não é indicativa de que haverá uma categoria este ano.
FCV: tecnologia de célula de hidrgênio é antiga e cara, mas Toyota retoma ideia.
+ Fabricante: Toyota.
+ Origem: Japão.
+ Novidades: carro movido a hidrogênio.
+ Objetivo: a ideia não é nova e é cara de ser implantada e mantida. Ainda assim, a Toyota resolveu levar a Las Vegas o conceito FCV, sedã elétrico recarregado por pilhas de combustível (hidrogênio, no caso), que já havia sido apresentado no Salão de Tóquio, em dezembro.
Uma reação química usa o hidrogênio como fonte de energia para abastecer as baterias do sistema elétrico. O resultado desta reação é a formação de água -- enquanto carros normais geram gases e partículas tóxicas.
O carro tem autonomia de 500 km e pode ser reabastecido rapidamente -- a Toyota fala em cerca de três minutos. Mas o custo do carro e de toda a infraestrutura é alta. Atualmente, apenas o Estado americano da California, poucas cidades da Europa e do Japão têm estações de abastecimento para carros a hidrogênio.
+ Fabricante: Google.
+ Origem: EUA.
+ Novidades: base para o projeto de carros autônomos.
+ Objetivo: você já deve ter ouvido falar dos carros sem motorista da Google. Estaria a empresa de tecnologia se preparando para competir com as gigantes automotivas? De fato, não: a ideia é cooperar com todas e lucrar sempre.
O primeiro passo é desenvolver um sistema operacional comum para carros, algo equivalente ao Android para celulares. A partir daí, a empresa espera consolidar seus testes com carros que se guiam sozinhos para fornecer informações coerentes para montadoras da América, Europa, Coreia e Japão, algo como um Google Maps feito para orientar carros inteligentes.
Além da Hyundai (que já tem parceria, como relatado acima), Audi, General Motors, Honda, Mercedes-Benz (que atualmente divide tecnologia com a Apple) e Nissan acenam com a integração com os protocolos da Google. O futuro já começou.
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