Lista de consumo mostra que carro híbrido é campeão de economia também no Brasil
O Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) divulgou a lista de 2013 do Programa Brasileiro de Etiquetagem Automotiva, no jargão popular, o "ranking de consumo" dos carros já à venda (ou que ainda estarão) no Brasil este ano. Com maior número de participantes, o programa finalmente ganha relevância e mostra uma realidade que parece óbvia, mas ainda é ignorada pelo governo e por boa parte dos consumidores: os carros híbridos, que combinam um motor a combustão e um elétrico, são os indiscutíveis campeões de eficiência energética -- sobretudo nas cidades, onde a baixa velocidade média aciona apenas o propulsor elétrico, com gasto zero (literalmente) de gasolina.
De acordo com os dados laboratoriais do Inmetro, o carro mais econômico de 2013 é o Ford Fusion Hybrid, com consumo de 16,8 km/l de gasolina na cidade (16,9 km/l na estrada). Nota A, claro.
Leia mais sobre a etiquetagem veicular
Um adendo é necessário: trata-se da nova geração do modelo, que só chegará às lojas no decorrer do ano, e que troca o motor 2.5 Duratec do modelo vendido atualmente por um 2.0 a gasolina que se alia a um motor elétrico para gerar 190 cavalos. Ainda sem preço, o novo Fusion híbrido deve custar bem mais que os R$ 113 mil pedidos pelo novo Fusion Titanium AWD com motor Ecoboost, sendo tão ou mais tecnológico que este.
O pódio de eficiência do Brasil tem outro híbrido, na verdade uma dupla que usa a mesma base: o Toyota Prius, que custa R$ 120 mil e roda apenas como táxi na cidade de São Paulo, e o Lexus CT200h, hatch cujos planos para o Brasil sequer haviam sido anunciados pela marca "diferenciada" da Toyota. Ambos unem o motor 1.8 a gasolina a um conjunto elétrico para gerar um total de 135 cavalos com consumo de 15,7 km/l na cidade e 14,2 km/l na estrada.
Nenhum desses carros tende a se massificar no país (o Prius já virou táxi em São Paulo, mas comprar um custa R$ 120 mil, e o Lexus virá como modelo de luxo). Não há qualquer aceno do governo para incentivo a híbridos ou elétricos no país, em parte devido aos interesses que cercam a produção de biocombustíveis.
CLIO FAZ BONITO
Entre o caso do Fusion híbrido e da dupla da Toyota, há um único carro "real" no pódio da economia. É o Renault Clio básico, com motor 1.0 e sem itens como direção hidráulica e ar condicionado. Pelado e bem menor que os três modelos anteriores, o Clio faz 10,7 km/l na cidade e com 15,8 km/l na estrada, sempre com gasolina -- UOL Carros deu preferência à leitura do combustível fóssil para poder relacionar os três carros. Único a fazer parte da realidade do consumidor brasileiro padrão, o Clio é também o único deste pódio com motor flex: com etanol no tanque, o Clio vê seu consumo cair para 9,5/14,3 km/l.
O resultado do ranking pode, é verdade, servir de argumento para a turma defensora dos carros verdes e, claro, para as montadoras: o próprio Inmetro aponta que o governo pode utilizar tanto os dados de consumo quanto o índice de emissões -- que também passa a ser divulgado -- como contrapartida para reduzir a cobrança de impostos das fabricantes instaladas por aqui.
LISTA GANHA RELEVÂNCIA
A nova medição do Inmetro organiza o ranking de consumo dos carros vendidos no país e inscritos de forma voluntária pelas fabricantes. Conforme UOL Carros antecipou em novembro de 2011, a lista segue tendo uma ordenação confusa -- criada pelo próprio Inmetro e bem diferente da utilizada habitualmente pela indústria automotiva --, mas melhora em alguns pontos e cresce em tamanho e em importância. Pelas contas do instituto, foram avaliados "327 modelos/versões". Passando a limpo, temos 106 modelos diferentes de 25 marcas (contra 52 de dez marcas no final de 2012).
Agora, o Inmetro indica não apenas o consumo, mas também a emissão de gás CO2 produzida pelos carros avaliados. Somente a nota de consumo, porém, serve para a classificação dos modelos entre "mais eficientes" (nota A) até "menos eficientes" (com nota E), a exemplo do que ocorre com eletrodomésticos como geladeiras, fogões e liquidificadores. É esta nota que deve ser exibida de forma clara, no para-brisa ou vidros laterais dos carros expostos nas concessionárias, para que o consumidor possa escolher o carro mais eficiente.
Na contagem feita por UOL Carros, 39 diferentes modelos (com 53 versões) receberam a nota A dentro de suas respectivas categorias. Mas esse total cai drasticamente, para 11 modelos (em 16 versões), num cotejo geral, outra novidade da lista de 2013. A lista completa do Inmetro pode ser conferida clicando aqui.
Tiraram nota A: Fiat Mille Economy 1.0, Fiat Uno Economy 1.4, Nissan March 1.0 (sem ar condicionado), Renault Clio 1.0 (sem e com ar), Smart Fortwo (mhd e turbo), Citroën C3 1.5, Citroën DS3, Fiat Siena EL 1.0, Honda Fit 1.4 manual, Hyundai HB20 1.0, Peugeot 207 Blue Lion, Renault Sandero 1.0 (sem e com ar), Toyota Etios (hatch e sedã), Volkswagen Gol 1.0 (G4 e G5), Volkswagen Polo BlueMotion 1.6; Nissan Versa 1.6, Renault Logan 1.0 (sem e com ar), Toyota Prius, Volkswagen Voyage 1.0; Renault Fluence 2.0 manual, Toyota Corolla 1.8 (manual e automático); Fiat Palio Weekend Adventure (manual e Dualogic), Ford EcoSport (1.6 manual, 2.0 Powershift e 2.0 4WD manual); Mitsubishi ASX, Renault Duster 2.0 4WD manual, Suzuki Jimny; Fiat Doblò Cargo, Fiat Strada (1.4 e 1.6), Renault Kangoo Express, Volkswagen Saveiro 1.6. E também os inéditos Ford New Fiesta brasileiro 1.6 hatch e sedã (manual e Powershift), Lexus CT200h, Ford Fusion Hybrid 2.0, Honda Civic LXS 1.8 (com câmbio de seis marchas), Kia Cerato Flex e Nissan Altima.
CADÊ A GM?
A mudança de regras e o consequente aumento da "importância" do Programa de Etiquetagem -- como um dos requisitos obrigatórios para um fabricante conseguir o benefício do IPI menor -- explica a adesão massiva de marcas. O total de participantes quase triplicou desde a última publicação, em novembro de 2012. Participam as seguintes marcas: Audi, Changan, Citroën, Dodge, Fiat, Ford, Haima, Honda, Hyundai, Jeep, JAC, Kia, Lexus, Mercedes-Benz, Mitsubishi, Nissan, Peugeot, Rely, Renault, Smart, SsangYong, Suzuki, Toyota, Volkswagen e Volvo.
É notória a presença de marcas que sequer estrearam de fato no mercado -- caso das chinesas Haima e Rely -- ou com participação quase incipiente -- como a coreana SsangYong ou a Lexus (marca de luxo da Toyota). Mas chama mesmo a atenção a ausência inexplicável da GM, com a marca Chevrolet. A fabricante, que ficou de fora de todos os ciclos desde a criação da etiquetagem veicular, não aparece novamente este ano. É bom lembrar que a marca renovou todo o seu portfólio nos últimos dois anos, com sete lançamentos só em 2012.
E, com a entrada das alemãs Audi e Mercedes-Benz, pesa também a não-participação da BMW, única a já ter anunciado oficialmente uma fábrica para o Brasil.
CONFUSÃO E SURPRESAS
A lista do Inmetro segue tendo critérios confusos em sua classificação de tipos de carros, divididos em subcompactos, compactos, médios, grandes, carga derivado, fora-de-estrada, SUV, minivan, comercial e carga/derivado.
Os nomes das categorias fazem sentido, mas a organização de modelos dentro delas, não: a perua aventureira Fiat Palio Weekend Adventure é classificada como um "utilitário esportivo", ao lado da picape Strada, também derivada do Palio; já um SUV real, como o Renault Duster, é listado pelo Inmetro como "fora de estrada".
Em outro exemplo, o compacto Ford New Fiesta é classificado como "compacto" na configuração hatch, mas vira "médio" em sua configuração sedã.
Descontada a confusão, a lista do Inmetro mantém o hábito interessante de entregar lançamentos ainda não anunciados pelas fábricas -- em 2012, o sedã Peugeot 508 foi entregue de bandeja pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem. Desta vez, a lista de novidades está maior e o próprio New Fiesta, citado acima, é uma delas.
O modelo que deixa de ser importado do México para ser ser fabricado no Brasil recebe nota A quando equipado com o motor flex Sigma 1.6, tanto na versão manual quanto na ainda inédita automatizada com câmbio de seis marchas e dupla embreagem. Mas a surpresa do Inmetro está na nota B para este New Fiesta brasileiro equipado com motor 1.5, configuração que ainda não havia sido mas com eficiência de consumo menor (B).
Os casos do novo Fusion híbrido e do Lexus CT200h, citados no começo da reportagem, são exemplos de surpresas guardadas pelas fábricas e "vazadas" pelo Inmetro. Outros exemplos podem ser conferidos em reportagem do site parceiro MotorDream.
Nova lista do Inmetro entrega que New Fiesta fabricado no Brasil, com sua frente de Fusion, terá não apenas o motor Sigma 1.6 (nota A), mas também um inédito 1.5, menos eficiente (nota B)
COMO O RANKING FUNCIONA
Segundo o Inmetro, são elegíveis ao ranking 50% de todos os modelos com média de vendas de pelo menos 2 mil unidades. Assim, se uma fabricante tiver 20 modelos à venda e dez deles entregarem ao menos 2 mil unidades, pelo menos cinco destes dez modelos deverão estar no teste, caso decida participar.
A fabricante apenas aponta quais modelos cederá ao teste, que é feito pelo Inmetro e suas entidades parceiras (Ministério de Minas e Energia, Agência Nacional de Petróleo, Instituto de Pesos e Medidas, Cetesb, Conpet e Petrobrás) de forma aleatória. Os carros a serem analisados são recolhidos de concessionários, sem aviso prévio.
Os resultados são apresentados à fabricante, que pode contestá-los. Neste caso, repete-se a prova e o novo resultado é definitivo -- a montadora pode até fazer uma contra-prova por conta, mas o dado final e oficial é sempre do Inmetro. A nota final deve ser divulgada em etiqueta de consumo de todas as unidades à venda, em todos as lojas. A etiqueta deve estar colada em um dos vidros do carro.
Se o comprador perceber que um carro avaliado pelo Inmetro está sendo vendido sem a etiqueta de consumo, basta fazer uma reclamação junto à entidade (clique aqui para saber como contatar o Inmetro).
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