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Volvo S60 se vale da segurança para encarar alemães 'premium'

Murilo Góes/UOL
Imagem: Murilo Góes/UOL

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

11/03/2011 14h50Atualizada em 15/08/2012 14h10

Para muita gente, o nome Volvo ainda tem mais a ver com veículos pesados do que com automóveis, tanto que, em 2010, o Brasil consumiu quase 16 mil caminhões e ônibus contra pouco mais de 2.000 carros de passeio e SUVs da marca sueca, segundo a Fenabrave. A situação é, em maior ou menor grau, recorrente no resto do mundo, a ponto das divisões de carros e de pesados serem totalmente separadas: a Volvo Cars, submetida ao comando da americana Ford, "entrou em parafuso" no decorrer da crise econômica, entre 2008 e 2009, e só conseguiu se reestruturar após ter seu controle arrematado por chineses, no último ano.

Por aqui, 2010 também foi um período de reencontro e preparação para uma retomada do rumo pela marca, que abre 2011 com um lançamento e novo ânimo. A novidade é a chegada às lojas do sedã S60 2011, apresentado ao público no último Salão do Automóvel de São Paulo, em outubro. Fabricado em Ghent, na Bélgica, chegou ao país no começo de fevereiro e foi submetido à avaliação da imprensa na última semana, num parque de diversões na região metropolitana de São Paulo.

E por se tratar do primeiro evento de grande porte da marca em muito tempo, as primeiras perguntas para Anders Norinder, presidente da Volvo Cars para a América Latina, acabaram deixando o carro de lado e tratando de estrutura. Resumindo a fatura, o executivo afirmou que a empresa pretende (e precisa) expandir sua rede de lojas para mais pontos além dos minguados 19 existentes atualmente, sobretudo para Centro-Oeste e Norte do país, mas que (ainda) não há pressão dos controladores chineses e que este será um processo gradual. E até moroso, visto que as três próximas concessionárias seguem atreladas ao Sudeste: São José do Rio Preto (SP), Vitória (ES) e Uberlândia (MG). A chegada a Brasília (DF) segue em estudo.

Outra pergunta questionou o motivo do lançamento de um carro que se tornou sinônimo mundial de segurança preventiva, ocorrer num parque de diversões? Ainda segundo Norinder, a ideia é mostrar que um carro tão seguro também pode ser divertido. Ou, paradoxalmente, mostrar que a Volvo não está (mais) para brincadeira.

COMO É O VOLVO S60
De volta ao carro, então: apresentada no Salão de Genebra de 2010, a segunda geração trouxe linhas mais fluidas e silhueta dinâmica ao sedã executivo. O lado esportivo ficou tão exacerbado, que a marca ousa defini-lo como um "cupê de quatro portas". Melhor do que explicar é mostrar tal estilo, então passemos às imagens do fotógrafo Murilo Góes, abaixo:

Em outra decisão ousada e arriscada, a Volvo decidiu trazer apenas a versão mais cara e equipada do S60 para a primeira fase do lançamento. Equipado com motor seis-cilindros em linha de 3,0 litros turboalimentado, capaz de gerar 304 cavalos de potência máxima e extensos 44 kgfm de torque, aliado a câmbio automático Geartronic de seis velocidades e tração integral AWD, o S60 T6 tem todos os itens de conforto e tecnologia habituais para um modelo do chamado segmento premium e mais diferenciais que prezam pela segurança preventiva, mas cobra R$ 169.900 para isso.

A lista dos tais diferenciais é farta: inclui faróis com duplo facho de xênon autodirecionais ou adaptativos (acompanham o movimento do volante), controle de tração em curvas (distribui o torque de forma a manter as rodas do lado externo da curva em maior rotação que as do lado interno), controle dinâmico de estabilidade e tração (monitora diferentes pontos da carroceria e das rodas), piloto automático adaptativo (mantém não só a velocidade determinada, como a distância estabelecida para o veículo da frente), câmera auxiliar de estacionamento, alerta de ponto cego do retrovisor (Blis) e câmera frontal de ponto cego (opcional). E se estende para dois itens ainda de desenvolvimento exclusivo da marca, que podem frear e até parar o S60 entre velocidades de 30 km/h e 70 km/h, sem interferência do motorista, na presença de um obstáculo com mais de 80 centímetros de altura (City Safety, disponível desde o lançamento do crossover XC60), ou na aproximação de um transeunte a uma distância perigosa (o novo Detector de Pedestres).

Principalmente com o S60, a Volvo estima pular das pouco mais de 2 mil vendas do último ano para mais de 5 mil entregas ainda em 2011. Mas, e aí está o ponto da estratégia que classificamos como arriscado, tal potencial só será alcançado a partir do segundo semestre, quando chegam as versões mais simples e baratas T4 (tração dianteira, quatro cilindros, 1,6 litro com turbo e 180 cv) e T5 (também quatro-cilindros, mas de 2 litros, com 240 cv). Até lá, o sedã concorre com os alemães, como a própria Volvo quer. O problema é que embora tenha o mesmo patamar de preço, o S60 acaba ficando sempre um algum ponto do caminho quando o comparamos com o pacote do Mercedes-Benz (Classe C), a performance do BMW (Série 3) e o furor técnico e tecnológico de um Audi (A4).

ANDANDO (E PARANDO) COM O S60
UOL Carros
participou de uma curta, mas movimentada, sessão de testes e experimentos com o S60, primeiro numa "simulação" de campo de provas improvisado num estacionamento, depois ao longo de 20 quilômetros de uma rota que incluiu algumas vias vicinais e trechos da Rodovia dos Bandeirantes, na região de Jundiaí (SP). A sensação predominante a bordo do sedã foi de tranquilidade e até, em alguns momentos, de calmaria.

O S60 isola seus ocupantes do ambiente externo, como todo carro a partir de uma certa faixa de preço deve(ria) fazer. Além do excelente material de revestimento, têm participação nisso tecnologias como a central de infotenimento (informação e entretenimento) com grande tela no centro do painel para reprodução de conteúdo multimídia com som Dolby ou dados de navegação atualizados (mas com o "tropeço" da voz em Português de Portugal). Em alguns momentos, sobretudo para os três passageiros (um no banco do carona e mais dois atrás, visto que um terceiro vai se espremer e atrapalhar a viagem dos demais), o sossego é tanto que a viagem se torna soporífera.

SENSIBILIDADE

  • O vídeo acima mostra o sistema de sensores e radares do S60. Vale notar que ele não substitui a perícia do motorista e que, em situações extremas, pode falhar, como no link abaixo:

Talvez por isso, e por ser oriunda de um país escandinavo (logo extremamente tranquilo, até "paradão" demais),  a Volvo tenha se especializado em sistemas de assistência ao motorista. Como um Mercedes Classe E, o S60 pode monitorar padrões da condução e determinar se o motorista está à beira do sono, alertando-o para fazer uma pausa; como alguns Audi, ele pode manter velocidade e distância dos outros carros pré-definidos; como um BMW, pode se movimentar vigorosa e impetuosamente pela pista (iria melhor se o câmbio de seis marchas também permitisse trocas sequenciais por borboletas no volante), mas de modo tão natural que permite a condução com a ponta dos dedos.

O mais interessante, porém, está no que só ele pode fazer: parar de forma autônoma, em caso de perigo. Não se trata, como ainda pensam alguns, de substituir decisões do motorista, mas de antecipação e complemento a tais decisões (embora a própria Volvo trabalhe nisso para o futuro, como mostra o vídeo neste link). Se o motorista está distraído ou não teve reflexo para perceber que o carro da frente parou, o carro pode brecar por si (até velocidades de 30 km/h) ou diminuir a velocidade e os possíveis danos da batida; da mesma forma, um pedestre cruzando a via de modo inesperado pode ser detectado pelos sensores e radares do sedã, que aciona seus freios para evitar ou reduzir o impacto. Ambos funcionam até 70 km/h, porque acima disso não há muito o que conter (e por presumir que o bom motorista deve estar atento o suficiente para além deste patamar). O difícil é esperar que tais sistemas ajudem a conter também a força dos rivais e o impacto que podem causar nas vendas da Volvo.