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Peugeot 408 é mais um francês a ameaçar a Bastilha dos sedãs médios

<b>O 408: sóbrio, firme e disposto a reerguer a Peugeot onde hoje reinam os japoneses</b> - Divulgação
<b>O 408: sóbrio, firme e disposto a reerguer a Peugeot onde hoje reinam os japoneses</b> Imagem: Divulgação

Claudio de Souza

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

16/02/2011 17h57Atualizada em 15/08/2012 14h37

Assim como outras montadoras, a Peugeot está de olho em mercados fora de sua terra natal. Até 2015, a francesa quer que as vendas de carros no exterior representem exatos 50% de seu total global, subindo 11 pontos percentuais em relação aos atuais 39%. Hoje, vive uma fase de transição em sua gama de modelos -- o que no Brasil se reflete numa situação de estase, com crescimento apenas igual ao do mercado. Um carro fundamental nessa estratégia de retomada e avanço da Peugeot é o sedã médio 408, projeto que uniu chineses, brasileiros e franceses a partir de 2007.

O 408 substitui por aqui o 307 Sedan, descontinuado no ano passado, e recoloca a Peugeot como player importante no segmento dos sedãs médios. Para encarar rivais como Toyota Corolla, Honda Civic, Chevrolet Vectra, Citroën C4 Pallas e Ford Focus, além do também calouro Renault Fluence, o carro chega com um design mais elegante que o do antecessor, muito espaço interno, bom acabamento e um agressivo plano de garantia (três anos), pós-venda (preço fechado nas três primeiras revisões somando R$ 730) e até de incentivo à troca dele por seminovos, supervalorizando o carro dado como entrada. O 408 desembarca nas lojas na primeira quinzena de março.

São esses os preços das três versões:

Allure (manual): R$ 59.500
Allure (A/T): R$ 64.500
Féline (A/T): R$ 74.900
Griffe (A/T): R$ 79.900


A Peugeot divulgou uma lista completa dos equipamentos de cada uma delas, que pode ser consultada aqui.

Fabricado em Palomar, na Argentina, o 408 usa o mesmo motor 2.0 16V flexível do 307, empregado também (mas com calibragem diferente) no Citröën C4 Pallas. Feito em alumínio e com comando variável das válvulas na admissão, o propulsor entrega 151 cavalos de potência a 6.000 rpm e 22 kgfm de torque a 4.000 rpm quando abastecido com etanol. O gerenciamento é feito com um câmbio automático sequencial denominado AT8, de quatro velocidades (como o Tiptronic ainda usado nos 207). A versão Allure tem a opção de câmbio manual de cinco marchas. O motor 1.6 com turbo de alta pressão, apenas a gasolina, fabricado em parceria com a BMW e empregado no crossover 3008, deve equipar uma versão acima da Griffe, de apelo esportivo (e, claro, preço maior), a ser lançada até o final do ano. Aqui você lê a ficha técnica oficial do modelo.

Para cumprir a meta de emplacar 13 mil unidades até dezembro, e a partir do ano cheio de 2012 chegar a 25 mil vendas anuais no Brasil (60% delas na versão Allure), o 408 pisca o olho para o consumidor com um visual mais elegante que o da média da gama da Peugeot, a qual nem sempre consegue harmonizar dianteira e traseira -- seja em hatches, seja em sedãs.

O conjunto óptico mantém a identidade "felina", contornando um capô dianteiro massudo que descarta parcialmente o "bocão" de outros modelos da marca -- mas são as lanternas traseiras de pequeno porte (apesar de invadirem o porta-malas) e forma relativamente simples, inspiradas nas peças do antigo 406 Coupé, que arrematam a contento uma silhueta elevada e, de resto, sóbria, sem excessos nem ousadias. Trata-se de um reflexo da busca por mercados que, quanto ao estilo, ainda são conservadores. A China, por exemplo.

A nosso ver, o único pecado estilístico do 408 é trazer duas falsas saídas de escapamento cromadas no para-choques traseiro. Uma bobagem que, se não estraga o conjunto, pouco acrescenta também. Poderiam dar lugar a duas luzes de ré ou mesmo de neblina. Mas é questão de gosto.

IMPRESSÕES AO DIRIGIR
A Peugeot ofereceu um longo test-drive com o 408 na tarde desta quarta-feira (16), num itinerário entre a capital fluminense e a cidade serrana de Petrópolis. Ao todo, foram 177 km ao volante de duas versões do modelo, a Allure e a Griffe, ambas com a nova transmissão automática. O trajeto incluiu trechos urbanos, subida e descida de serra e muitas curvas.

Antes de girar a chave, o motorista vai encontrar no 408 uma posição de dirigir relativamente alta, impressão acentuada pela enormidade do parabrisa e pelas colunas A estreitas, solução comum nas minivans com DNA francês. Além disso, as portas dianteiras têm janelas grandes, ampliadas por duas seções fixas perto das colunas. A direção é regulável em altura e profundidade, e na versão top o banco do motorista possui comandos elétricos.

O habitáculo do 408 é espaçoso e abriga com muito conforto quatro adultos, que se beneficiam do entre-eixos de 2,71 metros e do teto em arco, especialmente favorável a quem vai no banco traseiro. Mas o espaço é tanto que, devido à distância, chega a ser difícil para o motorista abrir o porta-luvas, e mais difícil ainda (e perigoso, com o carro em movimento) pegar algo ali dentro. Se valer como compensação, há nele uma saída interna do ar-condicionado, que pode manter frescas algumas garrafas ou latas pequenas de bebidas. Para guardar objetos, melhor usar os outros porta-trecos espalhados pela cabine, inclusive dois nichos frontais muito adequados para colocar um telefone celular -- um tapetinho de borracha impedirá que a tela do seu gadget de escolha seja riscada por atrito.

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    Posição do motorista é elevada, lembrando uma minivan. Navegador ocupa o centro do painel

O painel frontal possui revestimento emborrachado, agradável ao tato e garantidor de uma sensação de refinamento, mesmo na versão Allure (que tem diferenciais quando dotada de câmbio automático). Saídas de ar com aro de metal cromado são um dos detalhes mais apreciáveis -- há cinco , três delas ao centro da peça (como no Citroën AirCross). Uma pena que os comandos alternativos do som fiquem numa alavanca escondida na coluna de direção, em vez de no próprio volante -- que é mais encorpado e revestido em couro no 408 Griffe. O ar-condicionado, que mantivemos ligado o tempo todo por causa do calor absurdo do Rio de Janeiro, funcionou bem -- ele é manual na Allure e digital com duas zonas de resfriamento dianteiras na Griffe, que conta também com saídas para os passageiros de trás. Os bancos da primeira são em tecido firme com trama de bom gosto, os da segunda em couro.

Um destaque estético e funcional do interior do 408 é o painel de instrumentos. Os mostradores circulares possuem iluminação num tom claro e leitoso de cinza, e os ponteiros são vermelhos. O conjunto é bonito e a legibilidade, excelente. Nos dois carros que dirigimos era assim, mas vale notar que o 408 Allure manual têm mostradores com fundo preto.

SUAVE ATÉ SUBIR
Com o 408 em movimento, chama a atenção logo de cara a suavidade do conjunto motor/câmbio ao trafegar em terrenos planos ou com leve aclive. A caixa AT8, que de saída causa desconfiança por não ter mais do que meras quatro marchas (e jamais oito, como sugere o nome), oferece trocas praticamente imperceptíveis na maioria das situações. De sua parte, o propulsor só começa a "falar alto" em velocidades acima dos limites legais, chegando então à faixa das 4.000 rpm. Em cruzeiro, por volta de 120 km/h, o conta-giros do 408 ficará sempre mais perto das 3.000 rpm.

Esse cenário muda quando o 408 precisa encarar uma subida de serra sinuosa como a que leva a Petrópolis. Nessa situação percebem-se hesitações entre as marchas, especialmente quando a escolha do sistema é entre manter a terceira ou reduzir à segunda. Em certos momentos foi mais interessante fixar o câmbio no modo sequencial e determinar a troca movendo a alavanca. O mesmo valeu para retomadas mais críticas.

O acerto do 408 é, em tese, uma tentativa de meio-termo entre o conforto do Corolla e a agressividade do Civic. No entanto, a suspensão nos pareceu bastante firme e, como nas duas versões experimentadas os pneus são de perfil baixo (independentemente de a roda ser de 16 ou 17 polegadas), uma certa intenção esportiva se faz notar. Durante condução em pista plana e reta com boa pavimentação o carro sempre se mostrou equilibrado e suave, mas em algumas curvas mais fortes ameaçou sair de traseira -- numa delas pedindo contraesterço para evitar um cenário pior.

Notamos ainda algumas "quicadas" ao passar em pequenas irregularidades no asfalto, reação que foi claramente perceptível também no volante. Talvez sejam características de um carro que pretende ficar "mais na mão" do motorista do que a média dos três-volumes de seu porte -- em outras palavras, é preciso se acostumar com o 408 antes de gostar de guiá-lo.

Os freios do modelo se mostraram bastante sensíveis, sendo necessário dosar o pé para não provocar ações bruscas do sistema -- que nas três versões possui ABS (antitravamento), auxílio de frenagem de urgência e distribuição de força, com acréscimo de controle de estabilidade na Griffe (a versão que "escorregou" foi a Allure). Ainda no quesito segurança, o 408 tem nas versões Féline e Griffe seis airbags no total, enquanto a versão de entrada, Allure, tem apenas dois, frontais. O rival Renault Fluence ofecere seis desde a configuração "popular".

CONSUMO E PERSPECTIVAS
Abastecido com etanol, o 408 apresentou consumo médio de 7,4 km/litro no percurso serra acima e 10,1 km/litro no serra abaixo, em ambos os casos com cerca de 30% de trechos com trânsito urbano. São números razoáveis para um carro desse porte e empurrado por um motor 2.0 gerenciado por câmbio automático.

A conclusão após esse contato inicial com o 408 é que ele tem qualidades suficientes para encarar os rivais que estão hoje em nosso mercado. Assim como o Fluence, esse carro é, no momento, mais interessante do que a dupla japonesa que domina o segmento há anos. Logo mais virão um novo Civic e um Corollla levemente repaginado. Será difícil -- para ambos -- manterem a tranquilidade que hoje reina na Bastilha dos sedãs médios. E o Chevrolet Cruze ainda nem foi lançado.

Viagem a convite da Peugeot do Brasil