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Mercedes-Benz B 180 tem conforto e preço, mas não performance, de carro premium

<b>Hatch? Monovolume? Mercedes não entrega o jogo e chama Classe B de veículo multiuso (MPV). Modelo mais barato da marca no Brasil começa em R$ 97 mil </b> - Murilo Góes/UOL
<b>Hatch? Monovolume? Mercedes não entrega o jogo e chama Classe B de veículo multiuso (MPV). Modelo mais barato da marca no Brasil começa em R$ 97 mil </b> Imagem: Murilo Góes/UOL

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

21/09/2010 10h16

Já fazia muito tempo que UOL Carros pedia à Mercedes-Benz uma chance para avaliar o Classe B. Tínhamos curiosidade sobre o que o modelo de entrada da marca alemã no país oferecia como diferencial em relação a outros fabricantes e ao próprio portfólio -- se os sedãs da marca são suntuosos, os esportivos, instigantes, e os utilitários carregam na valentia, o que é o Classe B?

Não adianta apontar o dedo e alinhar o Classe B ao grupos das minivans, sem justificar. A classificação simplória não funciona e um comparativo ficaria capenga: o modelo da Mercedes entrega mais conteúdo que a maioria dos integrantes desta classe no país, mas não é tão espaçoso como alguns deles. E, com certeza, é bem mais caro. Na Europa, aliás, a marca alemã foge em disparada deste rótulo, mesmo com seu Classe A...

Aqui no Brasil, no entanto, a filial até prefere pregar o título de MPV (multi-purpose vehicle, algo como veículo de múltiplas propostas ou multiuso) no para-brisa do Classe B. E o faz para abrir mão do duelo direto com os modelos de entrada das rivais Audi (A3) e BMW (Série 1), hatches com perfil arrojado e muita vontade de entregar desempenho esportivo -- desempenho que o Classe B não tem, mesmo em sua versão mais potente B 200 Turbo. Longe disso: ser MPV, como se sabe, é ter um espírito mais familiar, geralmente contar com carroceria monovolume (o que não implica ser uma minivan clássica) e interior versátil (espaço e equipamentos). Mas isso não leva o produto da Mercedes a embarcar de bom grado na fila de monovolumes japoneses (Honda Fit), franceses (Citröen C4 Picasso) e afins.

A deixa para testarmos o Classe B, que não é um lançamento no país, veio com a chegada do sistema de auxílio ao estacionamento, que poupa o motorista do esforço de fazer baliza e de se acabar em manobras nas apertadas vagas das grandes cidades: sensores calculam o espaço da vaga (que precisa ter no mínimo 1,30 m além dos 4,27 m do carro) e comandam os giros do volante, deixando ao motorista a tarefa de acionar freios e acelerador. É algo similar ao Park Assistance do BMW Série 5 e ao Park Assist do Volkswagen Tiguan, inclusive com o mesmo aviso gráfico junto ao painel de instrumentos; chamado pela Mercedes de "Parkguidance", é instalado em carros com assistência de direção elétrica, e só não tem a tela de vídeo para exibir imagens de câmera e a distância para o obstáculo traseiro.

O QUE O CLASSE B TEM
O preço básico de R$ 97 mil (B 180 Family), salta para R$ 105 mil no B 180 Comfort avaliado, chegando aos R$ 146 mil no B 200 Turbo, de acordo com a tabela. Em lojas de São Paulo (SP), porém, é possível encontrar exemplares da configuração intermediária a R$ 102 mil.

Por este valor, o Classe B entrega o mesmo conjunto da versão inicial (ar manual, volante multifuncional com coluna ajustável e assistência elétrica, vidros elétricos nas quatro portas, rodas aro 16, teto solar fixo, piloto automático e limitador de velocidade, sistema de som multifunção com visor, disqueteira e conexão Bluetooth para telefone, lanternas e brake lights adaptativos, airbags frontais e laterais dianteiros, apoio de braço dianteiro e apoios de cabeça ativos) e mais assentos infantis de elevação (booster) integrados ao banco traseiro, revestimento de couro, ajuste elétrico para os bancos dianteiros, retrovisores interno e externo esquerdo eletrocrômicos (antiofuscante), sensor de chuva e o sensor de estacionamento melhorado pelo Parkguidance. Faltam apenas o pacote de visual esportivo e as rodas aro 17 do B200.

  • Murilo Góes/UOL

    Visual do Classe B não deve em nada ao restante da linha Mercedes-Benz: linhas laterais ascendentes e vincos proeminentes dão arrojo ao modelo, que ainda tem estilo "altinho" em voga no segmento de hatches, deixando de lado jeitinho de minivan

IMPRESSÕES AO DIRIGIR
Se você já viu, teve ou conhece alguém que tenha tido ou ainda possua o Classe A, em sua primeira geração, conhece a sensação de se estar diante de um carro que não se parece com um Mercedes-Benz, apesar de carregar a estrela de três pontas na carroceria. Pois saiba que isso não ocorre (de todo) com o Classe B, sobretudo a partir do B 180 Comfort. A começar pelo visual, mais encorpado, com frente longa, vincos proeminentes, lateral ascendente e aspecto geral próximo ao restante da linha (o Classe B, assim como o atual Classe A, lembra uma versão encurtada do Classe R vendido na Europa). 

  • Murilo Góes/UOL

    Revestimento total de couro, acerto elétrico para os bancos dianteiros e enorme teto panorâmico são diferenciais que garantem conforto aos ocupantes do B 180...

  • Murilo Góes/UOL

    ...que ainda conta com soluções como o assento de elevação integrado ao banco traseiro, que o credencial como carro de família sem "cara" de carro de família.

A percepção de se tratar de um autêntico Mercedes também é compartilhada por outros motoristas e você vai saber disso a cada saída de farol, quando o "campão" do carro ao lado sair cantando pneus numa tentativa de chamar sua atenção. Não caia na dele, até porque o foco do Classe B, ao menos do B 180 e seu motor aspirado quatro-cilindros de 1,7 litro (116 cv de potência máxima aos 5.500 giros e torque de quase 16 kgfm entre 3.500 e 4.000 rpm) e do câmbio automático CVT (com funcionamento que leva à sensação de se contar com "marchas infinitas") está no conforto, não na performance, ainda que haja a possibilidade de realizar trocas manuais e uma tecla para acionar o modo Sport, com adiamento das passagens. Só para dar ideia do que falamos, o 0-100 km/h é feito em extensos 12 segundos (o turbinado B 200 faz a mesma prova de aceleração em cerca de 7 segundos).

Mas quem está a bordo do B 180 vai curtir o contato com o couro de boa qualidade que envolve bancos e painéis. Ou o visual proporcionado pelo amplo teto panorâmico, que não se abre mas permite a boa iluminação da cabine sobre os ocupantes da frente e, ainda, sobre parte da fileira traseira. É certeza de espetáculo visual, sobretudo à noite, caso você more em uma cidade de onde possa ver o céu estrelado -- o que não é o caso de São Paulo, infelizmente.

Construído com um sistema de duplo assoalho, que abriga os componentes mecânicos e eletrônicos num patamar e garante, acima dele, piso plano para os ocupantes amplia a sensação de espaço na cabine do Classe B: cinco ocupantes viajam com bastante conforto, mesmo que todos tenham grande estatura, mas todos devem tomar cuidado ao entrar ou sair, porque o desnível para o solo é maior do que aparenta. Há ainda o diferencial, a partir do B 180, do assento traseiro com almofadas que se elevam (booster ou assento de elevação) e permitem o posicionamento correto -- e, agora, de acordo com a Lei -- de crianças menores. O banco traseiro bipartido ainda pode ser rebatido, total ou parcialmente, ampliando a capacidade de carga do porta-malas.

Com tudo isso, você pode não ter a performance esperada de um modelo premium alemão (se quiser, seu lugar é a bordo dos rivais da BMW ou Audi), mas o conforto e a oferta de equipamentos está garantida (apenas para citar um deles: o sistema de som premium conta com visor de LCD, disqueteira para 20 CDs e ainda conexão Bluetooth para celular, com teclado alfanumérico para discagem). E ainda há o alento do bom consumo: rodamos pouco mais de 420 quilômetros com um tanque de gasolina, chegando à média mista (cidade/estrada) de 12 km/l.