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Fiat Idea Adventure Locker Dualogic mostra (excessiva) versatilidade

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

08/03/2010 13h01

O Fiat Idea Adventure conta com mescla de características que pode denotar versatilidade ou resultar numa ambiguidade digna do estilo Frankenstein. Monovolume de origem, o Idea briga (de longe) com Honda Fit e (mais visceralmente com) Chevrolet Meriva. E perde para ambos, segundo a Fenabrave: foram 27.650 unidades emplacadas em 2009 (de todas as variantes do Idea, incluindo a aventureira) contra 48.662 do modelo japonês e 33.339 do rival com a gravatinha dourada.

  • Murilo Góes/UOL

    Fiat, Idea Adventure Locker Dualogic traz, além do bloqueio de diferencial, câmbio automatizado

Em sua configuração com visual aventureiro, porém, acaba batendo de frente com o hatch Volkswagen CrossFox, em disputa que também perde: contando a versão civil e a off-road leve, o "altinho" da fabricante alemã vendeu 129.199 unidades no último ano. Ainda assim, é bom lembrar que o Idea é mais alto e robusto que o modelo da Volks e emprestou soluções para a última atualização deste, como uso de para-choque dianteiro diferenciado (em vez de quebra-mato) e suporte do estepe fixado junto ao para-choque traseiro (e não à coluna C).

Com tudo isso, é sintomático perceber que é o Idea Adventure (e não o CrossFox) o queridinho dos taxistas paulistanos, que sempre buscam um carro capaz de transportar mais passageiros e de transpor com menor dificuldade obstáculos como buracos, valas e poças d'água. Assim, o porte maior (4,14 m de comprimento, entre-eixos de 2,51 m e 1,81 m de altura), suspensão mais elevada (são 185 mm de altura em relação ao solo) e bom espaço interno podem justificar a escolha.

QUANTO MAIOR A ALTURA...
Os mesmos predicados, porém, levam a uma comparação no mínimo inusitada: estacionados lado a lado, o Idea Adventure é mais alto que picapes como a Ford Ranger (1,76 m), crossovers como o Toyota RAV4 (1,70 m) e SUVs como o Hyundai Santa Fe (1,80 m), perdendo apenas para veículos mais parrudos como o Land Rover Discovery 3 (1,86 m).

O acerto de suspensão, porém, não segue a estrutura física e compromete o desempenho do Idea Adventure, que encara buracos e valas com extrema facilidade, mas decola em lombadas e outros ressaltos do asfalto e mergulha excessivamente em freadas. O monovolume também é ruim de curva, torcendo demais a cabine em quase todos os momentos e deslizando lateralmente em movimentos feitos mais abruptamente (culpa também dos pneus de uso misto, que atrás de um acerto médio acabam não sendo ideais para terreno algum).

A DANÇA DOS PREÇOS

  • Murilo Góes/UOL

    Já é praxe entre os automóveis das grandes montadoras vendidos no Brasil: o preço básico sugerido dificilmente será aquele da unidade que você levará para casa. São acabamentos (até a pintura é cobrada, seja sólida, metálica ou especial), acessórios, opcionais e uma infinidade de pacotes que ditam qual o verdadeiro preço a ser pago.

    No caso do Idea Adventure Locker Dualogic, o preço de tabela sugerido é de R$ 56.440, mas a versão testada não sai por menos de R$ 62.389. Pesam na conta a cor vermelho Magma (R$ 899); bancos e volante revestidos com couro (R$ 1986); sensores de luminosidade, chuva e retrovisor antiofuscamento (R$ 916), mais sensor de estacionamento obrigatório (R$ 753), mais vidros elétricos traseiros obrigatórios (R$ 787); e subwoofer no porta-malas (R$ 608).

Por dentro, a ambiguidade volta a causar situações curiosas. Há espaço suficiente para que todos se acomodem com conforto, até mesmo no banco de trás, situado em posição elevada em relação à fileira da frente e garantindo, assim, centímetros preciosos para os joelhos de quem o ocupa. Por outro lado, todos reclamarão da ausência de porta-objetos bem desenhados. Sim, existem nichos posicionados sobre os para-sóis e também uma espécie de console central superior, fixado no teto, onde ninharias podem ser guardadas e até perdidas. Mas tente acondicionar mais de uma garrafa d'água ou latinha de refrigerante pelo carro e o resultado será catastrófico. O porta-luvas também merece críticas por ser minúsculo e, no caso do modelo testado, ainda abrigar o dock de conexão para iPod/USB. O porta-malas tem espaço para 380 litros de bagagem (ou até 1.500 l com os bancos rebatidos), mas seu acesso é dificultado pelo suporte do estepe traseiro e pela inexistência de um botão de abertura da porta traseira que não seja no assoalho do veículo (efeito colateral do sistema que evita o furto do estepe).

Faltou falar do painel, que a Fiat classifica como inovador por aumentar o conforto térmico e auditivo dos ocupantes. Ou seja, teoricamente, ele reduziria o calor interno e suas partes causariam menos ruídos. Na prática, porém, o excesso de plástico utilizado (mesmo não sendo de má qualidade) acaba servindo como um amplo refletor solar. Além disso, a peça central -- que inclui saídas e controles de ar, rádio e comandos de algumas funções -- é herdada do Palio 2005 (assim como os mostradores) e acaba "faltando" dentro do Idea. O resultado mais imediato, além da estética comprometida, acaba sendo o fluxo ineficiente de ar pela cabine, principalmente na altura da cabeça dos ocupantes.

  • Murilo Góes/UOL

    Modelo conta com toda a parafernália plástica que compõe visual aventureiro

FOLGA AO PÉ ESQUERDO, FORÇA EXTRA
Equipado desde o final de 2009 com o câmbio Dualogic, automatizado de cinco marchas da Fiat, o Idea tem boa dirigibilidade no tráfego mais que travado de uma cidade como São Paulo. Após 500 km, a impressão foi positiva e muito superior àquela obtida quando testamos, por exemplo, o sistema ASG instalado no Volkswagen Voyage I-Motion (leia aqui). Os trancos existem (aliás, é interessante observar como o sacolejo da cabine a cada troca de marcha faz os inclinômetros -- comuns na família Adventure -- oscilarem), mas são muito mais contidos e administráveis e o modo manual quase não precisa ser acionado. A exceção acaba sendo em situações de ultrapassagem, quando é bom não se valer do "discernimento" do sistema, que pode muito bem passar para uma marcha mais alta enquanto você ainda está passando pela metade de uma carreta.

Melhor ainda é o desempenho do bloqueio eletrônico de diferencial, que responde pelo codinome Locker, acionado através do botão ELD no painel e que UOL Carros teve a chance de testar em um terreno acidentado de terra. Em momento algum o carro vai se tornar um veículo 4x4, mas o sistema garante melhores chances para superar condições adversas em baixas velocidades (há um desarme automático do sistema acima dos 20 km/h). Garante, por exemplo, chegar sem sustos à casa no alto de uma ladeira urbana mais inclinada ou ao sítio em dia de chuva forte, situações em que um carro comum ficaria no meio do caminho. Mas você vai se encrencar se encarar atoleiros ou se aventurar demais em morros e montanhas.

A encrenca grande, porém, fica com a conta de combustível. O motor 1.8 garante 112/114 cv (gasolina/etanol), mas tem sede desmedida. Enquanto a Fiat estima consumo urbano de 7,2 km/l e rodoviário de 10,5 km/ (sempre com etanol), nosso exemplar não passou dos 4,5 km/l na cidade e 5,2 km/l na estrada, com a desculpa do uso abusivo do ar-condicionado e da média reduzida de velocidade (22 km/h).